




Linha na areia
Depois que a ameaça velada de Drayton pairou no ar como uma nuvem escura, eu fiquei em silêncio, atônita, olhando para a mesa. A sala de reuniões esvaziou ao meu redor enquanto os outros cientistas saíam, seus sussurros mal audíveis. Fiquei sozinha com meus pensamentos, lutando com a realidade do que estava por vir. A Criatura estava nas mãos deles agora, e eu estava presa em uma teia para a qual não me inscrevi.
Olhei para cima e vi Drayton ainda me observando da porta, sua expressão indecifrável. Por um momento, pensei que ele pudesse dizer algo mais, mas ele simplesmente chamou: "Cabo, acompanhe a Dra. Adams até os alojamentos de serviço. Ela ficará lá durante sua pesquisa."
Um soldado deu um passo à frente—um jovem, de uns vinte e poucos anos, com um sorriso caloroso, mas cauteloso. Seu rosto era aberto e amigável, um contraste gritante com o exterior endurecido de Drayton. Ele ficou em posição de sentido, esperando que eu o seguisse. Exalei, sentindo o peso da fadiga se instalar em meus ombros. Um lugar para descansar, para organizar meus pensamentos—era tudo o que eu precisava agora.
"Vamos, senhora," ele disse gentilmente. "Vou levá-la aos seus alojamentos." Sua voz era amável, sem a brusquidão que eu esperava deste lugar. Ele captou meu olhar cansado e ofereceu um pequeno sorriso reconfortante. "Meu nome é Cabo Ben Carter."
"Obrigada, Cabo Carter," murmurei, saindo da sala e acompanhando-o.
"Por favor, me chame de Ben," ele respondeu, com um toque de calor na voz.
Caminhamos pelos corredores austeros, iluminados por luzes fluorescentes do complexo em silêncio, o zumbido distante das máquinas preenchendo o vazio. O corredor parecia interminável, estéril e pouco convidativo, cada passo ecoando levemente. Depois de tudo o que havia acontecido, a realidade do meu isolamento me atingiu completamente. Esta instalação não foi projetada para que as pessoas se sentissem bem-vindas ou em casa. Era uma fortaleza, construída para conter segredos e, ao que parecia, para proteger os interesses da Aetheris Biotech.
"Dia longo, né?" Ben disse baixinho, olhando para mim enquanto caminhávamos.
Consegui esboçar um sorriso cansado. "Pode-se dizer que sim. Foi muita coisa para assimilar."
Ele assentiu, simpaticamente. "Não é exatamente um lugar aconchegante, né? Eles não facilitam para os novatos, especialmente os civis."
Ri, apesar de mim mesma. "Você nem me diga."
Ben diminuiu o passo quando chegamos a uma porta de metal pesada, marcada como Alojamentos de Serviço. Ele digitou um código, e a porta se abriu com um clique, revelando um quarto modesto com uma cama estreita, uma mesa simples e um pequeno banheiro adjacente. Não era muito, mas a visão da cama e a ideia de um banho quente fizeram minha exaustão parecer dez vezes mais pesada.
"Aqui estamos," ele disse, gesticulando para que eu entrasse. "Não é muito, mas pelo menos é privado. Você deve ter tudo o que precisa."
Virei-me para ele, com genuína gratidão nos olhos. "Está perfeito. De verdade, obrigada, Ben."
Ele fez uma pausa por um momento, seu rosto suavizando. "Eu sei que Drayton pode ser... intenso. Não deixe que ele te intimide. Ele tem suas ordens, mas isso não significa que você precise comprometer o que acredita."
Fiquei surpresa com suas palavras, o calor e a sinceridade nelas eram um bálsamo contra a fria realidade da instalação. Parecia um reconhecimento, um incentivo para permanecer fiel a mim mesma, mesmo em um lugar como este.
"Obrigada," eu disse baixinho. "Isso significa muito."
Ele assentiu, permanecendo um momento a mais como se quisesse dizer algo mais. Em vez disso, ele simplesmente ofereceu um pequeno sorriso. "Se precisar de alguma coisa, estarei por aqui. É só pedir por Ben, ok?"
"Ok."
Com isso, ele saiu, a porta pesada se fechando atrás dele com um clique suave. Eu me encostei nela, soltando um longo suspiro trêmulo. O silêncio agora parecia sufocante, preenchendo o pequeno quarto como um convidado indesejado. Afastei-me da porta e fui até a cama, afundando nela. O colchão fino rangeu sob meu peso, mas era sólido e real—um pequeno conforto em um mar de incertezas.
Tirei minha jaqueta encharcada, o frio do tecido mordendo minha pele enquanto a removia. Cada centímetro de mim doía, tanto pela exaustão física quanto pelo desgaste emocional do dia. Tudo o que eu conseguia pensar era naquele banho, a promessa de calor e limpeza lavando a sujeira e o estresse.
O banheiro era pequeno, com apenas o básico: um chuveiro, uma pia e um espelho acima dela. Eu me vi refletida, as olheiras destacando-se contra minha pele pálida, meu cabelo úmido caindo murchamente ao redor do rosto. Mal me reconheci. Era como se os eventos do dia tivessem arrancado todas as máscaras que eu já usei, deixando apenas a exaustão crua e vulnerável.
Liguei o chuveiro, os canos gemendo antes que a água começasse a sair. Vapor quente encheu o pequeno espaço, e eu entrei debaixo do jato, deixando a água cair sobre mim, lavando o sal, o frio e a memória das palavras cortantes de Drayton. Minha mente voltou à Criatura—o medo e a compreensão em seus olhos enquanto era arrastada. A impotência que senti ao assistir aquilo, sabendo que não podia fazer nada para impedir.
Por alguns momentos, deixei-me desmoronar, o peso de tudo pressionando sobre mim enquanto a água caía sobre meus ombros. Lágrimas que ameaçavam o dia todo escorreram livres, misturando-se com a água, dissolvendo-se em nada. Pressionei as palmas das mãos contra as paredes frias do chuveiro, meu corpo tremendo enquanto soluços silenciosos me sacudiam. O peso de tudo me atingiu como uma onda: o destino da Criatura pendendo na balança, o vazio estéril deste lugar, a indiferença gelada do aviso de Drayton.
Cada passo que eu dava nesta instalação parecia que eu estava afundando mais fundo em algo do qual não podia escapar.
E por baixo de tudo isso, as velhas inseguranças e medos subiam das profundezas. E se eu não fosse forte o suficiente para enfrentá-los? E se eu não conseguisse fazer a diferença?
Fechei os olhos, e memórias de casa, dos meus amigos, passaram pela minha mente, nebulosas e quentes. Fazia tanto tempo que eu não me sentia verdadeiramente próxima de alguém. Não da maneira que importava. Sentia falta das risadas fáceis, do senso de pertencimento, da sensação de que havia pessoas que me conheciam, que entendiam minhas peculiaridades e acreditavam em mim sem questionar. Sentia falta da segurança daqueles laços que pareciam família—laços que eu passei tanto tempo da minha vida construindo porque, no fundo, eu precisava deles.
Um soluço agudo escapou de mim, e mordi o lábio, sentindo o gosto de sal e metal. Nunca tinha admitido isso antes, mas eu estava cansada—cansada de carregar o peso de tudo sozinha, de sempre ser a que mantinha tudo junto. Tive que aprender a fazer isso muito jovem. Jovem demais.
Quando eu tinha doze anos, já estava cozinhando, limpando, cuidando de tudo. Minha mãe estava sempre deitada na cama, fraca demais para se mover na maioria dos dias, sua saúde um fio frágil que nos mantinha todos juntos de uma maneira frágil e imprevisível. Meus irmãos, com apenas sete e cinco anos na época, olhavam para mim para tudo—jantar, ajuda com a lição de casa, até conforto nas noites de tempestade quando as luzes piscavam e eles se enfiavam na minha cama, seus corpos pequenos se agarrando a mim em busca de calor e segurança.
Eu nunca tive escolha. Minha infância foi algo que eu nunca realmente pude manter.
Com uma respiração trêmula, deixei-me lembrar das noites passadas na mesa da cozinha, montando minha lição de casa à luz fraca depois que todos já estavam dormindo. Eu ainda estaria limpando bagunças e dobrando roupas, tentando descobrir como fazer parecer que éramos uma família "normal" quando meus professores vinham nos visitar. Lembrei-me de como a respiração da minha mãe ficava mais superficial à medida que suas doenças a consumiam cada vez mais, e eu segurava sua mão durante tudo isso, forçando-me a ser forte o suficiente por ela, pelos meus irmãos, por todos.
E então havia meu pai. Desaparecido antes que eu pudesse realmente lembrar de seu rosto. Minha mãe me dizia, nos momentos quietos e suaves, que ele havia morrido no cumprimento do dever, um policial morto tentando proteger os outros. Acho que essa era a maneira dela de dar sentido a tudo. De encontrar algum motivo, algum significado, por trás da perda. Mas ele era apenas uma figura distante e heroica para mim, um fantasma que eu nunca conheceria. Em sua ausência, tive que me tornar tanto a cuidadora quanto a protetora.
Talvez seja daí que veio esse senso de justiça, essa vontade de fazer a coisa certa. Eu sentia isso nos ossos, como se estivesse costurado na própria fibra de quem eu era. A ideia de que você não abandona pessoas em necessidade. Você não vira as costas. Mas aqui estava eu, em um lugar onde esses valores pareciam não significar nada. Eu estava tentando enfrentar forças maiores e mais sombrias do que eu podia compreender, e não tinha certeza se era forte o suficiente.
A água caía, quente contra minha pele, como se pudesse de alguma forma lavar as memórias, as responsabilidades, as dúvidas. Mas elas se agarravam a mim teimosamente, lembranças de todas as vezes que falhei em proteger aqueles que amava, de todas as noites em que fiquei acordada me perguntando se algum dia estaria livre desse peso.
Mas, no fundo, eu sabia que não podia mudar. Essas responsabilidades, esses valores—eles estavam entrelaçados em meu ser, inseparáveis da mulher que me tornei. A ideia de desistir, de deixar outra pessoa assumir o controle, era estranha e repulsiva para mim. Meu pai pode ter morrido protegendo estranhos, mas eu passei minha vida protegendo as pessoas que amava.
Afastei-me da parede, ficando mais ereta, deixando a água escorrer pelo meu rosto enquanto as últimas lágrimas desapareciam.
Meu pai pode ter me dado um senso de dever, mas minha infância—os anos carregando uma família nos ombros—me deu a força para sobreviver a isso.
Isso não tinha acabado. Nem de longe.
Desliguei o chuveiro, o vapor se dissipando enquanto eu saía e me secava, sentindo uma clareza renovada se instalar sobre mim. Vesti as roupas limpas que haviam sido deixadas no guarda-roupa do quarto, colocando uma camiseta simples e uma calça preta. Práticas, confortáveis—roupas nas quais eu podia me mover, roupas que não pareciam uma armadura. Eu me sentia mais leve, mais centrada.
De volta ao quarto, sentei na beira da cama, olhando para as paredes que me cercavam. Este espaço era vazio, desprovido de qualquer calor ou conforto. No entanto, de uma maneira estranha, parecia um santuário—um lugar onde eu poderia organizar meus pensamentos, planejar meu próximo movimento. Minha mente voltou às palavras de Ben, a tranquilidade em seu tom. Ele era um rosto amigável em um mar de indiferença fria, um lembrete de que nem todos aqui eram inimigos.
Eu precisava de aliados. Pessoas que acreditassem no que a criatura representava, que entendessem que ciência e ética não precisavam estar em conflito. Ben poderia ser minha primeira conexão, uma ponte para dentro desta fortaleza que eu não havia antecipado.
Uma batida na porta quebrou o silêncio, e eu me levantei, abrindo-a para encontrar Ben mais uma vez, com uma garrafa térmica na mão.
"Pensei que você poderia querer algo quente," ele disse, estendendo-a. "É só café, mas vai ajudar a aliviar a tensão."
Aceitei a garrafa térmica com gratidão, sentindo o calor se infiltrar em minhas mãos. "Você é um salvador, Ben. De verdade."
Ele deu de ombros, sorrindo. "Não é nada. Só... você parece que precisa." Ele fez uma pausa, desviando o olhar por um momento. "Você está fazendo algo bom aqui, Dra. Adams. Muitos de nós vemos isso, mesmo que Drayton não veja."
Suas palavras me tocaram, trazendo uma pequena faísca de esperança. "Obrigada," eu disse suavemente, minha voz carregada de emoção. "Eu precisava ouvir isso."
Ficamos em silêncio por um momento, um entendimento tácito passando entre nós. Ele assentiu, como se me tranquilizasse mais uma vez, então se virou e foi embora, deixando-me sozinha no silêncio do quarto.