




O composto
O rugido das hélices do helicóptero finalmente se dissipou, mas o frio do voo ainda grudava na minha pele, profundo e cortante. Minhas roupas estavam encharcadas pela jornada, pesadas com a umidade que parecia se infiltrar nos meus ossos. Quando a rede de metal que nos prendia finalmente afrouxou, eu cambaleei, quase escorregando no pavimento molhado ao tocar o chão, ainda tremendo das horas passadas no vento e na chuva.
Essa não era a costa que eu conhecia. Havíamos pousado em um complexo isolado, cercado por altos muros que bloqueavam o horizonte. Soldados em trajes de combate se moviam com eficiência, ignorando o fato de que eu estava encharcado, desarrumado e mal conseguindo me manter de pé. Seus olhos eram impassíveis, sombras de máquinas contra a paisagem fria e inóspita.
Ao meu lado, a criatura—enredada na minha rede original, seu corpo escamoso brilhando sob as luzes fluorescentes—estava tensa, mas composta, embora também estivesse encharcada da cabeça aos pés. A água se acumulava ao redor de seus pés, cintilando sob as luzes com um brilho metálico. Seus olhos percorriam o complexo, observando tudo com uma expressão afiada e cautelosa.
Enquanto estávamos ali, tremendo e cercados por soldados sem rosto, uma nova figura se aproximou. O Coronel Slate Drayton—alto, de ombros largos, seu rosto com uma expressão de autoridade inflexível—desceu do helicóptero. Ele olhou para mim brevemente, seu olhar tão frio quanto a água que se infiltrava nas minhas roupas.
Reunindo toda a compostura que pude, dei um passo à frente, os dentes batendo levemente enquanto tentava falar. "Coronel Drayton," disse, tentando manter a voz firme apesar do frio que me corroía. "Sou o Dr. River Adams, pesquisador principal da expedição marinha. Esta criatura deve estar em um laboratório seguro—em algum lugar onde possa ser estudada sob condições humanas e éticas. Você não pode entender o que descobrimos aqui."
O rosto de Drayton permaneceu inexpressivo, seu olhar fixo nos soldados que agora estavam prendendo algemas ainda mais pesadas nos pulsos e tornozelos da criatura. Ele ergueu uma sobrancelha às minhas palavras, um lampejo de irritação cruzando seu rosto.
"E quem disse que esta era uma missão 'ética', Dr. Adams?" Sua voz era fria, insensível. "A Aetheris Biotech possui direitos exclusivos sobre este ativo agora. Eles decidirão o que é necessário para a pesquisa—e garanto que não temos tempo para preocupações filosóficas."
Suas palavras atingiram como um golpe físico, me deixando momentaneamente atordoado. A Aetheris Biotech—a organização em que eu confiava, que prometia revolucionar a ciência e proteger a vida—havia chamado pessoal militar para garantir a segurança de um ser senciente. Tudo sob o pretexto de pesquisa.
Engoli em seco, minha garganta seca apesar da água fria ainda grudada na minha pele. "Coronel Drayton, isso não é o que eu esperava. Esta criatura é inteligente; ele é capaz de se comunicar. Não posso simplesmente ficar parado e vê-lo ser tratado dessa maneira. Existem protocolos, padrões—"
O coronel me deu um aceno de mão desdenhoso. "Isso não é um projeto acadêmico, Dr. Adams. A Aetheris não paga você para ter opiniões." Sua voz tinha um traço de diversão. "Seria sábio lembrar disso."
Cerrei os punhos, contendo minha frustração enquanto o frio continuava a entorpecer minha pele. Ao meu redor, os soldados se moviam com precisão impecável, levando a criatura para uma cela reforçada. Observei enquanto a arrastavam, seu olhar fixo em mim enquanto desaparecia atrás das paredes de metal do complexo.
O vento aumentou, cortando minhas roupas encharcadas e fazendo meus dentes baterem novamente. Mas mesmo com o frio piorando, um novo tipo de calor fervia por baixo—a crescente, feroz resistência. Eu não tinha chegado tão longe para ser usado como peão no jogo de outra pessoa.
Olhei para os homens de uniforme—rostos inexpressivos, olhos focados apenas em suas ordens. Um lampejo de dúvida corroía as bordas da minha determinação. Eu havia subestimado o alcance da Aetheris Biotech? A indiferença do coronel era um lembrete claro das apostas em jogo.
"Dr. Adams!" uma voz latiu, me trazendo de volta ao presente. Era o Tenente Moore, um dos assistentes de Drayton, se aproximando com uma expressão que estava entre a preocupação e a irritação. "Você precisa vir conosco. A reunião começa agora."
"Reunião?" eu repeti, incrédulo. "Que reunião? Vocês estão levando aquela criatura sem nenhuma consideração pelo bem-estar dela! Eu não vou deixar—"
"Agora!" ele ordenou, seu tom não deixando espaço para discussão.
Lancei um olhar desesperado em direção à cela reforçada onde o haviam levado. A criatura—que eu havia conhecido como Kael—olhara para mim em busca de apoio, um pedido silencioso de solidariedade em meio ao caos. Os soldados trancaram a porta com um estrondo alto, selando-o do mundo. Só podia imaginar o que o aguardava dentro daquelas paredes frias e estéreis.
"Dr. Adams, mova-se," Moore insistiu, sua voz tensa de impaciência. Cerrei o maxilar, a frustração fervendo sob a superfície enquanto ponderava minhas opções. Confrontá-los poderia não levar a lugar nenhum, mas ficar em silêncio seria como ser cúmplice.
"Está bem," eu cuspi, empurrando-o para passar. "Mostre o caminho. Mas não espere que eu fique calado sobre isso."
Enquanto caminhávamos, as luzes fluorescentes do complexo iluminavam o caminho à frente, lançando sombras duras que pareciam se estender e me provocar. Minha mente corria, traçando um curso através do labirinto de burocracia e protocolos militares que sufocavam a essência da pesquisa e descoberta.
A sala de reuniões era uma câmara estéril, sem janelas, com paredes forradas de telas piscando com imagens da contenção de Kael. Quando a porta se fechou atrás de mim, a tensão no ar se intensificou, uma mistura palpável de autoridade e medo. O Coronel Drayton estava na cabeceira da mesa, flanqueado por cientistas que eu reconhecia da Aetheris—alguns rostos familiares distorcidos pela ambição corporativa.
"Sente-se," Drayton ordenou, seu olhar penetrante enquanto examinava a sala. Hesitei, mas o gesto brusco do tenente me instigou a avançar. Sentei-me em uma cadeira, meu coração acelerado enquanto me preparava para a avalanche de informações que moldaria o destino da criatura que eu havia vindo proteger.
"Vamos direto ao ponto," Drayton começou, sua voz firme e inabalável. "Esta é uma descoberta significativa, uma que pode mudar o curso de nossa pesquisa, mas também apresenta riscos que não podemos subestimar."
Cerrei os punhos sob a mesa, meu pulso acelerando. "O que você quer dizer com riscos?" eu intervim. "A criatura não é apenas um ativo; ele é um ser senciente com emoções, pensamentos e inteligência."
O coronel se virou para mim, os olhos se estreitando. "Você está aqui para fornecer insumos científicos, não comentários éticos. O ponto é que precisamos extrair dados, e seu apego emocional pode comprometer a missão."
As palavras pairaram no ar, uma acusação condenatória de tudo em que eu acreditava. "Comprometer?" eu repeti, minha voz se elevando. "Você está disposto a sacrificar o bem-estar dele por lucro? Isso não é ciência, é exploração!"
Um lampejo de irritação cruzou as feições de Drayton, e ele se inclinou para frente, sua voz baixa e perigosa. "Você foi trazido para isso por sua expertise, não por sua moral. Você tem a chance de fazer parte de algo revolucionário, Dr. Adams. Mas sugiro que lembre quem manda aqui."
Respirei fundo, forçando minha voz a permanecer firme. "Não vou participar de nenhum projeto que coloque a criatura em perigo. Se quiserem minha pesquisa, terão que me convencer de que isso é do interesse dele."
A sala caiu em silêncio, o ar denso com a tensão não dita. Eu podia sentir os olhos dos outros cientistas cravados em mim, alguns em descrença, outros com um lampejo de admiração. O olhar de Drayton endureceu, e eu sabia que havia cruzado uma linha. Mas pela primeira vez, senti uma centelha de determinação. Se eu fosse lutar essa batalha, precisaria de aliados, e talvez, mesmo dentro desta sala, houvesse aqueles que compartilhavam minhas preocupações.
"Muito bem," Drayton disse, endireitando a postura. "Vamos ver como isso se desenrola. Mas entenda, Dr. Adams, neste mundo, é a sobrevivência do mais apto—e agora, você está pisando em gelo fino."