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Capítulo 4: O medo em seus olhos

Ao se levantar, ela ouviu o suave sussurro da chuva batendo contra as janelas, enquanto a casa permanecia estranhamente silenciosa. Decidiu que a melhor fuga seria focar no trabalho, em cuidar de Ethan, em vez de se prender a um passado que nem se lembrava de ter.

Depois de um café rápido na cozinha, subiu as escadas em direção ao quarto de Ethan, esperando que o menino tivesse dormido bem após o pesadelo. Bateu suavemente na porta antes de entrar, mas quando a abriu, encontrou-o acordado, sentado na cama com os olhos perdidos na janela. Sua pequena figura parecia ainda mais frágil na luz cinzenta da manhã.

—Bom dia, Ethan —disse ela com um sorriso, tentando soar alegre.

Ethan mal olhou para ela, mas Isabella se aproximou cuidadosamente e sentou na beirada da cama. Não conseguia afastar a crescente preocupação que sentia pelo menino. Sua natureza reservada a intrigava, mas depois do pesadelo da noite anterior, ele parecia ainda mais distante, como se estivesse preso em um mundo que ela não conseguia alcançar.

—Como você dormiu? —perguntou suavemente.

Ethan deu de ombros sem dizer uma palavra, seus olhos ainda fixos na paisagem chuvosa. Isabella respirou fundo, sentindo que precisava tentar algo diferente para romper a barreira que o menino havia construído ao seu redor.

—Você quer sair hoje? —propôs, com uma leve esperança de mudar seu humor—. Podemos ir à biblioteca, talvez assistir a um filme... o que você quiser.

O menino, surpreendentemente, olhou para ela, embora seus olhos estivessem cheios de desconfiança, como se não soubesse se deveria aceitar a oferta. Isabella sustentou seu olhar, tentando transmitir calma e calor.

—Podemos fazer algo que você goste, Ethan —insistiu gentilmente—. Hoje é um dia para relaxar.

Após alguns segundos de silêncio, Ethan assentiu lentamente. Isabella sentiu uma pequena vitória. Talvez não fosse muito, mas pelo menos era um passo.

**

Uma hora depois, desceram juntos para a sala de estar, onde Isabella havia preparado uma pequena seleção de filmes. Sentaram-se no grande sofá, e embora Ethan mantivesse uma distância segura, sua expressão estava mais relaxada do que de costume.

Colocaram um filme de animação, algo que Ethan havia escolhido entre as opções. Durante a exibição, Isabella notou que o menino, embora ainda não falasse muito, parecia mais confortável ao lado dela. Em um momento, ela se mexeu para ficar mais confortável, e Ethan, sem pensar muito, se aproximou um pouco mais dela, descansando a cabeça em seu braço. Isabella sentiu um calor no peito que não esperava. A ternura do gesto a comoveu profundamente.

—Você se sente melhor? —sussurrou, acariciando suavemente o cabelo dele sem pensar.

Ethan assentiu, embora não dissesse nada. Isabella percebeu que, pouco a pouco, ele estava começando a confiar nela, e esse simples fato a encheu de uma estranha sensação de satisfação. Algo nele despertava um instinto protetor nela que nunca havia sentido antes. Mas antes que pudesse analisar isso mais a fundo, a porta da sala se abriu.

Alexander entrou, sua presença imponente preenchendo o espaço. Isabella se tensionou instintivamente. Ethan, ao vê-lo, imediatamente se endireitou, como se uma parte dele também se fechasse de uma vez.

—Estou interrompendo algo? —perguntou Alexander, seu olhar alternando entre os dois.

—Não, estávamos apenas assistindo a um filme —respondeu Isabella, tentando soar calma.

Alexander observou Ethan por um momento e, embora não dissesse nada, Isabella pôde ver um lampejo de frustração em seu rosto. Ela se perguntava que tipo de relacionamento eles realmente tinham. Algo não se encaixava. Alexander parecia distante com o próprio filho, quase como se não soubesse como se aproximar dele, e Ethan parecia retraído na presença do pai. Era uma dinâmica estranha, cheia de silêncios constrangedores.

—Preciso falar com você, Isabella —disse Alexander de repente, cortando o clima com seu tom firme.

Ethan olhou para o pai por alguns segundos, depois voltou os olhos para a TV, embora sua postura estivesse muito mais tensa agora. Isabella se levantou, não querendo deixar Ethan sozinho, mas sabendo que não tinha outra escolha.

—Eu já volto —disse ao menino, que mal assentiu.

Ela seguiu Alexander até o escritório, onde a atmosfera mudou drasticamente. A noite anterior ainda estava fresca em sua memória, e a imagem da fotografia a assombrava como um fantasma.

—Você pensou no que eu te mostrei ontem à noite? —perguntou Alexander diretamente, cruzando os braços.

—Não consegui parar de pensar nisso —admitiu Isabella, tentando controlar o nervosismo na voz—. Mas ainda não entendo o que tudo isso significa.

Alexander a olhou intensamente, como se tentasse ler cada um de seus pensamentos. Finalmente, ele se aproximou dela, seus olhos escuros cheios de algo que ela não conseguia decifrar.

—Ethan precisa de uma babá confiável —ele finalmente disse—, mas também de alguém disposto a enfrentar os segredos desta família. E você, Isabella... parece que faz parte desses segredos, quer saiba disso ou não.

—O que você quer dizer com isso? —perguntou ela, sentindo o coração acelerar.

—Você vai descobrir —respondeu Alexander, seu tom era quase um aviso—. Mas aconselho que esteja preparada. Esta casa... esta família, não é o que parece. E se decidir ficar, terá que enfrentar tudo o que vem com isso.

Isabella sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Sabia que Alexander não falava levianamente. Havia algo sombrio e sinistro sob a superfície, algo que ela ainda não conseguia entender completamente, mas que começava a envolvê-la.

Antes que pudesse responder, um barulho alto vindo da sala a assustou. Isabella correu em direção a onde Ethan estava, com Alexander seguindo de perto.

Quando chegaram à sala, encontraram Ethan no chão, chorando. A TV havia caído no chão, despedaçada, e o menino tremia, com as mãos cobrindo a cabeça.

—Ethan! —exclamou Isabella, correndo até ele.

Ela rapidamente o levantou e o segurou nos braços, sentindo seu pequeno corpo tremer incontrolavelmente. Não entendia o que havia acontecido, mas o medo nos olhos de Ethan era palpável.

—Está tudo bem, está tudo bem, eu estou aqui —murmurou, abraçando-o apertado.

Alexander observava a cena em silêncio, seu rosto tenso, mas sem se aproximar. Isabella notou sua distância, mas estava mais focada em acalmar o menino, que chorava intensamente, agarrando-se a ela como se tivesse medo de que o mundo estivesse desmoronando.

Alguns minutos se passaram antes que Ethan se acalmasse o suficiente para falar.

—Ela não vai embora, né? —ele sussurrou com uma voz pequena, olhando para Isabella com olhos cheios de medo.

—Eu não vou a lugar nenhum —prometeu ela, acariciando ternamente sua cabeça—. Estou aqui, Ethan. Sempre estarei aqui para você.

O menino assentiu fracamente, enquanto Isabella o segurava apertado. Mas, no fundo, ela mesma começava a duvidar de quão verdadeira essa promessa poderia ser. Os segredos que cercavam os Blackwells estavam começando a envolvê-la, e ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, esses segredos a puxariam junto com eles.

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