




5- Sereias perigosas
Voltamos para casa naquela noite, quase comemorando nossa fuga clandestina e perigosa. Pouco antes do pôr do sol, já tínhamos quebrado pelo menos 20 regras, e além disso, Seila e Mathias almoçaram juntos quando ele a convidou para comer. Afastei-me para dar-lhes mais privacidade e esperei por ela no restaurante da empresa, localizado no saguão. O que foi surpreendente é que, mesmo que Mathias não se lembrasse de nada específico sobre Seila, ele a tratava como se já a conhecesse.
Eu não tive tanta sorte, pois nunca mais vi o homem careca que avistei na praia, e não sabia nada sobre ele, nem mesmo seu nome. Mas algo no meu coração, uma voz de outro plano, me dizia que em breve ele estaria perto de mim novamente.
- Eu sei de tudo - disse Yryhnna, nadando em direção a Seila, justo quando ela, com um rosto feliz, estava se preparando para pentear o cabelo.
Seila estava sentada no sofá da nossa luxuosa sala de estar, cercada por uma pilha de revistas e fotografias de modelos humanos maquiados.
- O guarda informou Alan - ela anunciou, mas Seila mal mostrou qualquer expressão de culpa ou vergonha; estava perdida em seus sentimentos de amor.
- Eu não quero que você volte para aquele lugar; não quero que você tenha contato com humanos.
- Bem, sinto muito, irmã, mas fui convidada para uma festa amanhã na praia.
- Outra festa? Você perdeu a cabeça?
- Você pode vir comigo se quiser.
- Eu não vou, e você também não deveria ir.
Na noite seguinte, Seila estava se arrumando com um vestido novo, curto e bastante sexy, com as costas abertas, ajustando-se perfeitamente à curva de sua cauda de sereia, assim como faria com suas nádegas e pernas uma vez transformada. Claro, seu encontro naquela noite não sabia sua verdadeira natureza; pelo menos por enquanto, sua identidade mágica parecia clandestina.
- Ninguém vai descobrir o que realmente somos - Seila me assegura. Ela não precisa fazer muito esforço para me convencer a acompanhá-la.
- A verdade é que eu gostaria de sair e me distrair, e talvez entender algumas coisas sobre o que aconteceu.
- Mía, não vamos falar sobre o acidente; vamos deixar tudo para trás. Vamos apenas nos divertir, ok?
Eu aceno levemente e aplico um batom vermelho pastel. Se minha irmã não quer compartilhar nada, eu também não vou; manter o segredo da nossa raça é essencial. Ainda assim, não posso deixar de me perguntar se Yryhnna está certa, se aqueles homens que caçam lobisomens realmente não se lembram de nada e são completamente inocentes, ou se é uma armadilha.
Quando saímos de casa, Yryhnna não se despede; ela vai para a casa de Alan naquela noite, e Seila e eu nos dirigimos para a festa.
- Mantenha-me informada de cada detalhe - ela me diz, sua voz soando severa, mas em seus olhos azuis, vejo um brilho de desespero.
- Não se preocupe; eu vou te manter informada - eu a asseguro, deixando claro que nossa comunicação mental é infalível e que aquela noite não será exceção.
Quando Seila e Mía se despedem, Yryhnna chega em casa. Alan está descansando no quarto, pois o dia de trabalho foi bastante pesado; desde que os alertas sobre os lobisomens foram levantados, sua carga de trabalho aumentou. Yryhnna vive em uma bela casa localizada em um recife, no fundo do oceano; ela deve passar por uma cachoeira e chegar em casa a pé, em forma humana, porque a casa não está submersa, mas flutuando na água. Algumas sereias têm suas casas acima da água, em lugares muito bonitos, aproveitando o som do mar e o movimento das ondas.
Quando Yryhnna entrou em seu tranquilo lar, o suave balanço das ondas batendo contra a estrutura encheu o ar com uma melodia relaxante. O interior estava adornado com conchas cintilantes e pedaços de coral macio, criando uma atmosfera etérea que combinava com sua essência de sereia. As paredes pareciam brilhar com uma luz suave, reminiscente das criaturas bioluminescentes nas profundezas do oceano.
Ela se moveu silenciosamente pela sala de estar, cuidadosa para não perturbar Alan, que estava esparramado no sofá macio, os olhos fechados de exaustão. O peso de suas responsabilidades pesava sobre ele, e Yryhnna sentiu uma pontada de simpatia pelo humano. Ele tinha sido um aliado fiel, oferecendo proteção a ela e sua irmã, apesar dos perigos que vinham com a existência secreta delas.
Yryhnna se acomodou ao lado dele, seu olhar derivando para a janela que emoldurava uma vista deslumbrante do oceano iluminado pela lua. As ondas brilhavam sob a luz prateada, um contraste marcante com o céu escuro. Era uma noite bonita, mas ela sentia uma tensão inquietante no ar—uma consciência da tempestade que se formava entre seus mundos.
Ela estendeu a mão, passando os dedos pela testa de Alan, desejando aliviar seu cansaço. Como se sentisse sua presença, ele se mexeu e abriu os olhos, encontrando o olhar dela com um sorriso suave.
"Oi, você," ele murmurou, a voz grossa de sono. "Não esperava que você voltasse tão cedo."
"Senti sua falta," ela respondeu, a voz mal acima de um sussurro. "Queria te ver antes da festa."
Alan se mexeu, apoiando-se em um cotovelo. "Você tem certeza disso? Seila saindo com um humano—é arriscado."
Yryhnna hesitou, seu coração pesado com o peso das escolhas de sua irmã. "Eu sei. Mas ela acredita que pode lidar com isso. E eu não posso impedi-la de viver sua vida. Ela já passou por tanta coisa."
Alan suspirou, passando a mão pelo cabelo despenteado. "Eu só me preocupo com ela. E com você. Há muitas incógnitas agora."
"Vamos ser cuidadosas. Temos uma à outra," Yryhnna o tranquilizou, embora sua própria incerteza a corroesse. Os caçadores estavam se tornando mais vigilantes, e seus segredos pareciam cada vez mais precários.
"Prometa-me que você vai ficar conectada com Seila," Alan pediu, seus olhos buscando confirmação nos dela. "Se as coisas derem errado, quero que você saia de lá."
"Eu prometo," ela disse, embora o nó em seu estômago apertasse. Elas realmente estariam seguras? Ou estariam caminhando para uma armadilha?
À medida que o relógio se aproximava da hora da festa, Yryhnna sentia um senso de urgência. Se Seila estava se aventurando em território humano, ela precisava estar preparada para qualquer coisa. O vínculo delas seria testado naquela noite.
Enquanto isso, do outro lado da água, Seila e Mía estavam a caminho da praia, risadas borbulhando entre elas enquanto navegavam pela areia macia. A noite estava viva com os sons de música e conversas, um contraste marcante com o murmúrio do oceano.
Seila ajustou seu vestido, o tecido aderindo às suas curvas, um sorriso confiante no rosto. "Lembre-se, estamos aqui para nos divertir. Ninguém precisa saber quem realmente somos."
Mía assentiu, embora uma parte dela sentisse o peso do segredo delas. Ela não conseguia se livrar da sensação de que a noite guardava mais do que apenas frivolidade. Elas estavam à beira de algo significativo, algo que mudaria suas vidas.
À medida que se aproximavam da reunião, o brilho da luz da fogueira iluminava a cena, lançando sombras tremeluzentes que dançavam pela areia. Humanos se misturavam, alheios ao mundo sob as ondas, enquanto o coração de Seila batia acelerado com excitação e apreensão.
"Vamos mergulhar," disse Seila, a voz cheia de entusiasmo. Mía respirou fundo, preparando-se para a noite à frente enquanto entravam na energia pulsante da festa, inconscientes dos olhos vigilantes que espreitavam nas sombras.
Nas profundezas do oceano, Yryhnna sentia o puxão da conexão delas, um laço com sua irmã que a mantinha ancorada. Enquanto se acomodava em uma cadeira ao lado de Alan, seus pensamentos vagavam para a noite que estava por vir.