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Capítulo 9

A praça do mercado estava cheia de vida enquanto eu me movia pela multidão. O sol começava a se pôr, lançando um brilho dourado e quente sobre os paralelepípedos. Eu tinha saído novamente, pela segunda vez. Desta vez, para comprar um pouco mais de suprimentos. E talvez ver um pouco o sol. Minha missão era simples, mas significativa: comprar lenha para o fogo, farinha e um pouco de leite. Mas fiz várias paradas. Até parei em uma confeitaria para comprar doces para o Príncipe Rowan. Notei que ele gostava de coisas doces, então decidi comprar alguns doces para ele, sabia que ele apreciaria. Quando me aproximei da barraca da confeitaria, o aroma doce e açucarado pairava no ar, e não pude deixar de sentir uma sensação de empolgação.

Entreguei as moedas e recebi um pequeno pacote de doces, cuidadosamente embrulhado, em troca. Apertando-o contra o peito, fiz meu caminho de volta ao palácio, tomando cuidado para não sacudir a preciosa carga. Os aposentos do Príncipe Rowan estavam silenciosos quando entrei, o único som era o suave crepitar da lareira.

"Vossa Alteza," chamei suavemente, empurrando a pesada porta de madeira com a mão livre. O Príncipe Rowan estava sentado junto à janela, suas pernas cobertas com um cobertor grosso. Eu o havia colocado ali antes de sair, para que ele pudesse olhar pela janela e ver o mercado movimentado. Ele parecia gostar de sair da cama de vez em quando.

Ele se virou para me olhar, parecia aliviado por eu estar de volta.

"Espero que não tenha sido vista."

Ele disse e eu assenti.

"Não. Fui muito cuidadosa."

"Trouxe algo para você," disse, caminhando até ele e estendendo o pacote.

Seus olhos brilharam de alegria ao pegar o pacote das minhas mãos.

"O que é isso?"

Ele perguntou e eu abri o pacote.

"São doces."

"Obrigado, Ariadne. Você é muito gentil comigo."

Sorri e dei um passo para trás, pronta para voltar às minhas tarefas, mas Rowan me deteve com um pedido gentil. "Por favor, sente-se e coma alguns comigo."

Hesitei. Não era meu lugar compartilhar seus doces. "Vossa Alteza, eu não poderia—"

"Besteira," ele interrompeu, seu tom firme, mas gentil. "Você precisa comer mais, Ariadne. Sei que não temos muito e percebi que você sempre me dá a maior porção."

"Isso é porque você é meu mestre," respondi, abaixando a cabeça.

Ele suspirou, uma mistura de frustração em seus olhos. "Ariadne, não me sinto confortável com você me chamando assim. Por favor, pare de me chamar de 'Vossa Alteza' e me chame apenas de Rowan."

Olhei para ele, surpresa. Ele nunca havia feito tal pedido antes. "Desculpe, Vossa Alteza, mas não posso. Seria impróprio."

"Não posso fazer isso."

Rowan suspirou novamente, mas não insistiu no assunto. Em vez disso, ele me ofereceu um dos doces. "Pelo menos experimente um. Eu insisto."

Relutantemente, peguei o doce de sua mão e coloquei na boca. A confeitaria açucarada derreteu na minha língua e, para minha surpresa, descobri que gostei. Um pequeno sorriso surgiu no meu rosto, e Rowan percebeu.

"Viu? São bons, não são?"

"Sim, Vossa Alteza," admiti suavemente.

Sentamos em um silêncio confortável por um tempo, apreciando os doces. Depois de alguns momentos, levantei-me para limpar as embalagens. Escondi-as, não querendo que Lark encontrasse qualquer evidência delas. Em seguida, busquei um pouco de água quente e uma toalha para limpar seu corpo.

Enquanto limpava suavemente suas pernas, ele estremeceu ligeiramente. "A dor está aumentando," murmurou.

"Isso é uma boa notícia. Serei mais gentil, Vossa Alteza," disse, meu coração doendo por ele. "Vou ajudá-lo a mover suas pernas todas as manhãs. Talvez você comece a andar mais cedo do que esperamos."

Ele não falou por um momento, seu olhar fixo em um ponto distante além da janela. "Esperança é uma coisa perigosa, Ariadne," ele finalmente disse. "Não quero criar falsas esperanças."

Olhei para ele, meus olhos cheios de determinação. "Eu prometo, Vossa Alteza, você vai andar novamente."

"Você sabe como perdi a capacidade de andar?"

Ele perguntou e eu balancei a cabeça. Havia muitas histórias, mas nenhuma correta.

"Não. Nunca soube a verdadeira história."

"Era lua cheia. Eu havia ofendido meu pai, o Rei Alfa, dias antes e meu castigo foi recuperar uma de nossas antigas fortalezas que estava tomada por lobisomens selvagens. Arêtes."

Arêtes?!

Eu tinha ouvido falar desse lugar. Ninguém ia lá porque estava tomado por um grupo particularmente notório de lobisomens selvagens. Costumava ser uma das poderosas fortalezas do país anos atrás, mas as famílias nobres estavam sempre brigando e, de alguma forma, os lobisomens selvagens tomaram conta, fazendo dela sua própria.

O Príncipe Rowan desviou o olhar, seus olhos fixos no horizonte distante.

"Eu deveria lutar a batalha sozinho. Como um teste."

"Eu sei que meu pai não achava que eu sobreviveria."

"Mas eu sobrevivi. E matei todos os lobisomens selvagens também. Minha batalha final com o líder deles foi o que nos fez cair do penhasco de Arêtes. Ele morreu. E eu não andei mais."

"Não me encontraram até três dias depois. E eu soube que a equipe de busca estava procurando meu corpo, não a mim."

"Eles nunca pensaram que me encontrariam vivo. Aqueles três dias no fundo do penhasco foram passados em dor excruciante. E frio."

"E o que eu ganhei com tudo isso? O conselho do meu pai pedindo para eu ser deposto, pois agora eu estava inapto para ser o príncipe herdeiro. A concubina dele fez a moção. E meu próprio pai apoiou, assim como muitos outros."

"Como puderam! Como puderam ser tão cruéis?!"

Me peguei perguntando enquanto minhas mãos voavam para a boca, ainda chocada com a história.

Ele não respondeu, mas eu podia ver a dor em seus olhos. Ele queria me contar mais, mas suspeitei que não conseguiria continuar se tentasse. Mudando de assunto, ele disse: "Você deveria ir comer. Deve estar faminta."

Assenti, mas não me movi. "Vou trazer seu jantar em breve."

Ele assentiu e conseguiu esboçar um pequeno sorriso.

"Obrigado pelos doces. Eles me fizeram mais feliz do que eu estive em muito tempo."

"De nada, Vossa Alteza."

"Se me permite, posso cortar seu cabelo e barba primeiro? Estão muito crescidos e difíceis de manter."

O Príncipe Rowan olhou para mim, um grande sorriso se espalhando em seu rosto. "Você pode fazer o que quiser comigo, Ariadne."

Pisquei, surpresa com seu sorriso. Era a primeira vez que via tal expressão em seu rosto. "É a primeira vez que vejo você sorrir," disse suavemente.

"Bem, você torna isso fácil," ele respondeu, seus olhos brilhando com um calor que eu raramente via.

Fomos interrompidos por uma batida alta e persistente na porta. Meu coração disparou enquanto eu corria para abrir, torcendo para que não fosse quem eu temia. Mas lá estava ele, Lark, com aquele sorriso sarcástico no rosto, o que sempre me dava arrepios.

Ele entrou sem convite, seus pequenos olhos penetrantes procurando por toda parte.

"Faz tempo que você não me chama."

Ele disse enquanto caminhava em direção à cozinha. Eu o segui lentamente.

"Por que você não veio buscar mais suprimentos?" ele exigiu, invadindo a pequena cozinha sem esperar uma resposta. Seus olhos vasculhavam o ambiente, procurando algo de valor.

"Não tenho mais pulseiras para você," disse, minha voz o mais firme que consegui. "Dei tudo o que tinha."

Ele parou, virando-se para mim com um olhar de descrença. "Mentirosa," cuspiu. "Você chegou com três grandes caixas no dia em que chegou. Estava coberta de ouro e pedras preciosas. Está escondendo todo o seu ouro, não está?" Sem esperar uma resposta, ele começou a vasculhar a cozinha.

Ele começou pelos armários, abrindo-os até que tudo dentro deles voasse para fora, depois foi para o depósito e começou a rasgar minha bagagem, jogando roupas e lançando itens pessoais pela sala.

"Pare com isso!" gritei. "Eu disse que não tenho mais nada para te oferecer!"

Mas ele não estava ouvindo. Suas mãos remexiam minhas coisas, sua frustração crescendo a cada segundo que passava. Finalmente, ele parou, seu olhar fixando-se no colar ao redor do meu pescoço, a única herança que eu tinha da minha mãe.

Os olhos de Lark brilharam com uma luz predatória. "Isso," ele disse, apontando para o colar. "Me dê isso."

"Não," respondi firmemente, segurando o pingente de forma protetora. "Não está à venda."

“Então você e o Príncipe vão passar fome? Ou como vão sobreviver?!”

Ele perguntou e eu dei de ombros.

“Estamos nos virando com o pouco que você nos forneceu. Não temos dinheiro para mais.”

Ele zombou.

Eu podia ver que ele não acreditava em mim.

"Você está mentindo. Você, coisinha, está mentindo para mim."

"Não tenho razão para mentir. Verifique em todos os lugares. Verifique o forno. Tudo o que temos são alguns vegetais velhos e carne seca."

Apontei para a cozinha que ele agora havia virado de cabeça para baixo, sabendo que ele nunca encontraria o que estava procurando nos lugares óbvios. Eu havia antecipado isso.

Ele se aproximou, seu hálito quente contra meu rosto. Seus dedos roçaram meu pescoço, e eu bati em sua mão, mas ele retaliou com um tapa forte no meu rosto. A dor foi aguda, mas ele não sabia que eu estava acostumada a esse tipo de tratamento. Não era a primeira vez que eu era atingida.

Recusei-me a deixar que ele visse minhas lágrimas.

"É melhor você lembrar do seu lugar," ele rosnou, seus olhos escuros de raiva.

Meu lugar?! Eu queria argumentar.

Era ele quem deveria lembrar do seu lugar! Ele era um mero mordomo agindo como se fosse meu senhor.

"Além disso," ele continuou. "Há outras maneiras de você pagar."

Meu coração disparou enquanto ele pressionava seu corpo contra o meu, sua mão deslizando de volta para o meu pescoço. "Eu sei que o Príncipe não pode fazer muito nesse departamento. Permita-me ocupar a posição dele nesse aspecto," ele sussurrou, seu toque frio e vil.

"Me deixe em paz," implorei, minha voz trêmula. "Me deixe em paz, ou eu vou gritar."

Sua risada foi baixa e cruel, suas palavras ecoaram na pequena sala, um lembrete arrepiante de quão impotente eu realmente era.

"E quem virá em seu socorro?!?! Ninguém vai te salvar, Lady Isabelle. Nem mesmo o príncipe."

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