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Morte

"Pare de me seguir."

Zaid não diz nada, ainda caminhando atrás de mim enquanto eu vou para a minha próxima aula.

Minha voz ainda treme de nervosismo, do ataque de pânico que quase me derrubou. Mas eu não me importo.

Entro na aula da Sra. Art, revirando os olhos quando Zaid me segue. Vou direto para um assento ao lado de uma garota quieta que estava sozinha ontem, mas sou puxada de volta quando Zaid agarra minha mochila.

Ele me leva para os assentos do fundo, sentando-se ao meu lado.

"Você nem está nessa aula," sussurro, enxugando as lágrimas frescas que caem pelo meu rosto.

"Estou em qualquer aula que eu quiser."

Dou uma risada sarcástica. "Quem é você?"

"Sou Zaid," ele dá de ombros.

"Você sabe o que eu quero dizer."

A Sra. Art começa sua aula, nos dizendo para ler um capítulo do livro que ela colocou em nossas mesas. Pego o livro e o levanto para cobrir meu rosto enquanto me viro para Zaid.

Cerro os dentes, "Por que você está aqui?"

"Eu só queria ter certeza de que você estava bem."

"Mentira," rosno. Foi culpa dele que eu surtei. Eu disse para ele parar, implorei para ele parar. Ele não fez nada além de me provocar e jogar na minha cara.

"Eu não queria que isso acontecesse," ele sussurra. Ele não olha para mim, nem levanta seu próprio livro, apenas olha para frente como se a Sra. Art estivesse andando pela frente da sala.

"Essa é a pior desculpa de desculpa."

"Não é uma desculpa," ele se vira para mim, seu rosto afiado, seus olhos calculistas. "Eu não vou me desculpar por algo que você não pode controlar."

Meu coração bate forte no peito e as pontas dos meus dedos ficam dormentes. "Idiota."

"Eu aprendi a controlar meu pânico. Você precisa fazer isso também."

Dou um chute na canela dele por baixo das mesas e um sorriso levanta seus lábios. Isso só me deixa mais irritada, não era a reação que eu queria. "O quê? Você acha que porque mostramos nossas cicatrizes um para o outro, somos iguais? Que podemos nos conectar? Novidade, ninguém quer ser amigo de um degenerado."

Ele dá uma risada, seus ombros tremendo.

"Fico feliz que você ache isso engraçado."

Ele dá de ombros. "É engraçado. Meu pai me chama assim."

"Bem, ele parece ser um homem inteligente."

Ele se vira para mim, suas mãos em punhos apertados. "Você realmente acha um elogio ser comparada a um homem de quarenta anos?"

Minhas narinas se dilatam. "Quando você perde seu pai de quarenta anos, sim, é um elogio."

A dor passa pelos olhos dele. "Então, eu suponho que seria um elogio para mim ser comparado a uma mulher de quarenta anos?"

O choque me deixa sem palavras e meus olhos, por conta própria, descem até o peito e o estômago dele, onde está a cicatriz. Ele não diz nada, mas aquele olhar em seus olhos é confirmação suficiente.

É o mesmo olhar que vejo no espelho quando não consigo parar os pensamentos de culpa de tomarem conta do meu cérebro. Aquele olhar que tenho quando desejo ser eu a morta para que meu pai e Alex pudessem estar vivos. Aquele olhar que tenho quando não entendo por que fui eu que sobrevivi.

Idiota ou não, Zaid tinha perdido a mãe e meu coração doía por ele.

Eu sei exatamente como ele se sente, as lutas internas que ele enfrenta.

"Não me olhe com essa cara de pena," ele murmura, seus dedos sobre os lábios enquanto continua olhando para frente. "Já recebo olhares assim demais. Além disso, do meu ponto de vista, você precisa de muito mais ajuda do que eu."

Desvio o olhar dele e tento me concentrar nas palavras do livro. Elas ficam embaçadas na minha frente e eu luto para focar. Não dizemos mais nada um ao outro pelo resto da aula e, quando o sinal toca, ele me segue até minha última aula do dia.

"Você realmente não precisa me seguir. Estou bem agora," paro no corredor, virando-me para ele.

Ele franze a testa. "Não estou te seguindo. Essas são minhas aulas."

Levanto uma sobrancelha. "Não acredito em você."

Ele olha ao redor, sorrindo. "Não importa."

"Você não estava nessas aulas ontem."

Ele dá uma risada. "Eu pareço o tipo que sempre vai às aulas?"

Franzo os lábios. Ele não parece, mas me sinto boba admitindo isso para ele. Em vez disso, giro nos calcanhares e entro na sala, exalando de irritação enquanto ele se senta ao meu lado.

"Você vai me deixar em paz algum dia?"

Ele lambe os lábios, jogando a cabeça para trás e fechando os olhos como se estivesse se preparando para uma soneca. "Não."

O fogo ferve dentro de mim, saindo enquanto exalo, mas não digo nada, sabendo que nenhuma conversa com ele terminará comigo feliz e concordando com ele.

Seu maxilar se contrai, a veia em seu pescoço saltando. Ele tem uma tatuagem atrás da orelha, um pássaro de algum tipo, preto com asas grandes e um bico pontudo. Ele levanta a cabeça, olhando para a frente da sala.

"É um corvo."

Engulo em seco, "Do que você está falando?"

Ele sorri e vira aqueles olhos escuros para mim, "Você estava me olhando."

"Não, não estava."

Ele inclina a cabeça, seu sorriso se espalhando em um sorriso maior. Seus olhos me examinam, da cabeça aos seios. Eu esquento sob seu olhar e lambo os lábios, forçando-me a não desviar o olhar, a não lhe dar a satisfação.

"Você é uma péssima mentirosa."

Inspiro. Eu sei que sou uma péssima mentirosa, odeio mentir, odeio enganar. Não digo nada, apenas o encaro enquanto ele junta suas coisas. Ainda faltam 30 minutos para o fim da aula.

"Você vai embora?"

Ele dá de ombros. "Essa aula é uma porcaria."

Ele se inclina para a mesa, pronto para se levantar, mas eu solto. "Por que um corvo?"

Seus olhos se estreitam, eles percorrem meu rosto, dos meus olhos até a minha boca. "Você sabe o que os corvos simbolizam?"

Balanço a cabeça.

Ele inclina a cabeça, levantando-se completamente, mas antes de sair da sala, ele murmura uma palavra sussurrada.

"Morte."

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