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Capítulo 3

Andrew

1º de abril de 2023 começou como qualquer outro dia. O céu estava de um azul pálido, sem nuvens que sugerissem uma tempestade ou qualquer tipo de clima incomum. As ruas da nossa pequena cidade estavam quietas, uma típica manhã de sábado. Eu tinha me acomodado na minha rotina habitual, apreciando a tranquilidade que acompanhava as primeiras horas do fim de semana. Mal sabia eu que essa tranquilidade seria destruída por um evento que mudaria para sempre o curso da minha vida.

Eu estava na minha casa modesta, nos arredores da cidade, uma propriedade que herdei dos meus avós. Era uma casa pitoresca de dois andares, com uma cerca branca e um jardim bem cuidado que era um testemunho do carinho deles. A casa era meu refúgio—um lugar onde eu podia escapar da correria da vida e encontrar alguma paz. Eu sempre estive um pouco preparado para emergências, embora nunca esperasse algo dessa magnitude. Os painéis solares no telhado e a despensa bem abastecida eram destinados a pequenas interrupções, não a um apagão global.

Quando as luzes se apagaram, inicialmente pensei que fosse uma falha temporária. Afinal, o Dia da Mentira tinha uma maneira de pregar peças nas pessoas. Verifiquei meu celular e vi algumas notificações sobre quedas de energia, mas nada sugeria que fosse mais do que um problema localizado. Dei de ombros, esperando que a energia fosse restaurada em algumas horas, como havia acontecido em interrupções breves anteriores.

Mas à medida que as horas passavam e a escuridão persistia, ficou claro que isso não era uma queda de energia comum. Verifiquei os disjuntores, reiniciei o sistema e até tentei ligar alguns dispositivos a bateria para ver se o problema estava isolado à rede elétrica. Nada funcionou. A cidade inteira parecia envolta em um silêncio opressivo, quebrado apenas por um som distante ocasional ou pelo baixo zumbido do meu gerador.

A princípio, o silêncio era quase reconfortante—um alívio do constante zumbido da vida moderna. Encontrei consolo no fato de ser um dos poucos que ainda tinha alguma normalidade. Meus painéis solares mantinham as luzes acesas, e meu gerador fornecia energia adicional para o essencial. Os suprimentos de comida e água que eu vinha estocando pareciam mais úteis do que nunca. Encarei tudo com tranquilidade, pensando que era apenas mais um desafio a ser superado.

À medida que o sol se punha e a primeira noite caía sem o brilho familiar dos postes de luz, o mundo lá fora começou a mudar dramaticamente. A escuridão parecia despir a camada de civilidade, expondo um lado bruto e primitivo da humanidade. Eu podia ver as luzes tremeluzentes de fogueiras queimando à distância, ouvir sons de gritos distantes e, ocasionalmente, vislumbrar figuras se movendo na escuridão.

Na manhã seguinte, aventurei-me na cidade para avaliar a situação. As ruas, antes ordenadas, agora estavam caóticas. Veículos abandonados espalhavam-se pelas estradas, alguns com as portas abertas ou janelas quebradas. Fachadas de lojas foram arrombadas, e as pessoas estavam saqueando tudo o que podiam encontrar. Era como se a civilização tivesse desmoronado da noite para o dia. O caos era palpável, o ar denso com a tensão e o cheiro de fumaça e medo.

O supermercado era o ponto focal da desordem. As pessoas pegavam o que podiam—latas de comida, garrafas de água, até produtos de limpeza. A cena parecia saída de um filme de desastre. Vi famílias se amontoando, seus rostos marcados por uma mistura de desespero e determinação. O senso de comunidade que antes definia a cidade havia se fragmentado em pequenos grupos e indivíduos, cada um lutando para garantir sua própria sobrevivência.

Voltei para casa, sentindo uma profunda inquietação se instalar no meu peito. Minha casa, antes um santuário, agora parecia uma ilha em um mar de turbulência. Percebi que minhas preparações, embora úteis, não eram uma solução para a desintegração da ordem social. A sensação de segurança que inicialmente senti estava se desgastando. A realidade era que o mundo fora da minha porta era muito menos previsível e muito mais perigoso do que eu havia antecipado.

Os dias se transformaram em um borrão de alerta constante e rotinas cautelosas. Eu saía apenas quando absolutamente necessário, evitando cuidadosamente as áreas mais voláteis da cidade. O gerador era uma tábua de salvação, mas eu o mantinha funcionando com parcimônia para economizar combustível. Usava velas e lanternas para iluminação e racionava minha comida e água como se cada dia pudesse ser o último.

A violência e os saques continuavam sem cessar. As notícias, antes uma fonte confiável de informação, agora eram apenas estática em uma TV morta. Rumores e especulações substituíram as reportagens factuais, cada novo boato mais alarmante do que o anterior. Ouvi histórias de grupos armados tomando controle de bairros, de pessoas desesperadas recorrendo a medidas extremas para sobreviver. O tecido social que antes mantinha nossa comunidade unida havia se desintegrado, substituído por uma trégua incômoda entre aqueles que ainda tinham algo a perder.

Havia momentos em que a escala do colapso parecia esmagadora. Eu me sentava na varanda, olhando para a paisagem escurecida, minha mente correndo com perguntas e medos. O que havia acontecido com o mundo? Por que a energia nunca voltou? Seria isso o começo de algo muito pior? A incerteza me corroía, e eu me via lutando contra um sentimento de impotência.

Ocasionalmente, ouvia relatos de outros sobreviventes de cidades vizinhas. Alguns vinham para trocar mercadorias, outros em busca de refúgio. Conheci alguns deles, sempre com um senso de otimismo cauteloso. Eles tinham suas próprias histórias de sobrevivência e adaptação, mas suas experiências refletiam meus próprios medos e frustrações. Trocávamos informações quando podíamos, mas a natureza fragmentada da nossa comunicação significava que notícias confiáveis eram escassas.

À medida que as semanas passavam, o caos lá fora parecia se estabilizar em uma rotina sombria. Os saques diminuíram, substituídos por uma calma tênue que era mais inquietante do que a turbulência anterior. Era como se todos tivessem esgotado sua energia para a violência e se resignado à nova realidade. A cidade estava mais quieta agora, mas aquele silêncio estava cheio de uma tensão subjacente—uma espera coletiva, aguardando algo, qualquer coisa, para quebrar a monotonia da sobrevivência.

Permaneci vigilante, ciente de que o mundo fora da minha casa era imprevisível e cheio de perigos. Os pequenos confortos de casa—meus painéis solares funcionando, o gerador confiável e os suprimentos cuidadosamente racionados—eram minhas âncoras nesse mar de incerteza. Mas à medida que os dias se arrastavam, não conseguia me livrar da sensação de que algo estava por vir, algo que me forçaria a enfrentar a realidade desse novo mundo de maneiras que eu ainda não havia imaginado.

O dia em que o mundo parou marcou o fim de uma era, e o que estava por vir era um mistério para todos.

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