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Capítulo 2

Depois de três semanas vivendo nos confins mal iluminados e quase surreais do dormitório, as coisas finalmente começaram a mudar. Não era que o mundo tivesse se tornado menos caótico de repente; era mais como se a energia coletiva de pânico tivesse diminuído, deixando para trás uma aceitação cansada e sombria da nossa nova realidade. A frenética reação imediata ao apagão havia se transformado em um silêncio persistente e inquietante. As pessoas pararam de brigar por recursos e começaram a se adaptar à ausência de energia, lei e ordem. A cidade se tornou uma sombra do que era antes, um lugar onde a sobrevivência se tornou o objetivo principal, e qualquer semelhança com a vida que conhecíamos antes parecia uma memória distante.

A maioria dos meus amigos havia deixado o dormitório em busca de suas famílias ou simplesmente para escapar da loucura. Eu os via arrumando suas malas com uma mistura de determinação e desespero, seus rostos abatidos e cansados. Alguns poucos ficaram, esperando contra toda esperança que as coisas voltassem ao normal, mas o número diminuía a cada dia. O dormitório, que antes era um centro movimentado da vida estudantil, havia se tornado uma cidade fantasma assustadora, cheia de ecos de risadas que pareciam fora de lugar nessa nova e sombria realidade.

Passei aquelas semanas lutando com os mesmos pensamentos repetidamente—preocupação com meus pais, confusão sobre o que estava acontecendo e um medo profundo e constante de que eu nunca mais os veria. A ausência de comunicação foi a parte mais cruel. Eu não tinha como saber se estavam seguros. A única coisa que eu sabia era que precisava encontrá-los, não importava o que fosse necessário.

A decisão de partir foi ao mesmo tempo libertadora e aterrorizante. Arrumei uma pequena mochila com itens essenciais: algumas roupas, algumas latas de comida, uma lanterna com pilhas extras e um kit básico de primeiros socorros. Respirei fundo, olhei ao redor do dormitório uma última vez e saí para o desconhecido. Parecia surreal, como caminhar através de um sonho. A familiaridade do campus desapareceu atrás de mim, substituída por uma paisagem que era ao mesmo tempo estranhamente quieta e inquietantemente estrangeira.

As estradas eram uma visão impressionante—um cenário apocalíptico de veículos abandonados e destroços espalhados. Carros estavam deixados em desordem, alguns com portas abertas e janelas quebradas, como se seus donos os tivessem abandonado às pressas. Lixo e pertences descartados estavam espalhados pelas ruas, deixando claro que as pessoas fugiram em pânico, deixando para trás tudo o que não podiam carregar. O mundo havia mudado tão drasticamente em tão pouco tempo que era difícil processar a extensão da transformação.

Comecei minha jornada a pé, movendo-me com cautela. A excitação inicial de partir deu lugar a um profundo senso de isolamento. Cada passo parecia ecoar no silêncio opressor, e a desolação ao meu redor fazia a enormidade da situação se instalar. Caminhei por cidades vazias, cada uma um retrato do caos que havia ocorrido—mercados saqueados e deixados em desordem, casas com janelas quebradas e portas abertas, ruas desprovidas do habitual burburinho da vida.

Cada dia se misturava ao seguinte enquanto eu caminhava, meus passos criando um padrão rítmico no asfalto rachado. O sol batia forte durante o dia, seu calor era ao mesmo tempo reconfortante e severo, enquanto as noites eram frias e cheias de ruídos inquietantes. Eu dormia onde podia—frequentemente em prédios abandonados ou abrigos improvisados que eu conseguia montar com materiais descartados. O sono vinha aos trancos e barrancos, perturbado pelos sons desconhecidos e pela constante preocupação com o que estava por vir.

Ocasionalmente, eu encontrava outros viajantes. Alguns eram famílias ou pequenos grupos, tentando encontrar um lugar seguro ou procurando por entes queridos. Compartilhávamos breves e cautelosas conversas, trocando as poucas informações que tínhamos. Muitos estavam tão perdidos e confusos quanto eu, seus rostos marcados pela preocupação e pelo cansaço. Alguns eram prestativos, oferecendo direções ou compartilhando suprimentos, mas outros eram bem mais inquietantes. Olhavam-me com desconfiança ou hostilidade aberta, seus instintos de sobrevivência os tornando cautelosos com estranhos. Aprendi rapidamente que confiança era um luxo que eu não podia me permitir. Cada encontro era carregado de tensão, e eu tinha que permanecer alerta e cauteloso, sempre atento às intenções daqueles que encontrava.

Conforme os dias se estendiam, comecei a desenvolver uma rotina para ajudar a lidar com a incerteza. Eu encontrava um lugar para descansar durante o dia e me movia à noite, usando a escuridão como cobertura. Confiava nas habilidades que havia adquirido em trilhas e acampamentos, tentando me manter autossuficiente e fora de vista. A busca constante por recursos se tornou um ritual diário—encontrar água limpa, procurar comida e garantir que meus suprimentos durassem o máximo possível.

De vez em quando, eu encontrava uma cidade onde um pequeno vislumbre de normalidade parecia permanecer. Alguns lugares tinham mercados improvisados onde as pessoas trocavam mercadorias, suas interações uma mistura de camaradagem e desespero. Eu parava brevemente para ver se conseguia encontrar algo útil, mas tinha que tomar cuidado para não chamar muita atenção. Nesses breves momentos de interação, tentava obter qualquer informação sobre a situação além das cidades que passava, mas as histórias eram sempre fragmentadas e incertas.

A busca pelos meus pais se tornou a força motriz por trás de cada passo que eu dava. Seguia todas as pistas que conseguia encontrar, desde rumores sobre onde as pessoas tinham sido vistas até rastrear conexões familiares distantes. Cada dia era um novo desafio, cheio de esperança e medo em igual medida. Eu me agarrava à crença de que, se continuasse me movendo, continuasse procurando, eventualmente os encontraria.

E assim, eu seguia em frente, o mundo ao meu redor um constante lembrete do que havia sido perdido. A jornada era longa e cheia de perigos, mas era o único caminho que eu tinha. Cada passo adiante era um passo longe da segurança e familiaridade da vida que eu conhecia, e um passo mais perto do que quer que estivesse à frente na escuridão.

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