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Capítulo 1

DIAS ATUAIS

Suspirei enquanto meu pai me levava para a escola, parecia que eu estava sendo arrastada para o inferno. Apenas algumas semanas atrás, eu estava vivendo confortavelmente com minha mãe, Emily McHawlin, meu mundo tão normal quanto poderia ser. Agora, eu estava vivendo com um homem que mal conhecia. Um homem que eu acreditava estar morto a minha vida inteira. Meu pai, Daniel, que de repente emergiu das sombras, insistindo que estava de volta para o meu próprio bem. A vida tem uma maneira engraçada de te dar um tapa na cara quando você menos espera, torcendo o destino de maneiras que te deixam sem fôlego.

Balancei a cabeça, ainda incapaz de processar totalmente a virada que minha vida tinha dado. Um novo pai, uma nova casa e agora, uma nova escola.

Peguei minha bolsa transversal da prateleira e enfiei alguns cadernos dentro, tentando me concentrar na tarefa mundana. Meus pensamentos corriam enquanto eu questionava como tinha concordado com isso. Eu, Prisca McHawlin, começando uma nova vida nos termos de outra pessoa. Daniel me convenceu de que era “saudável” voltar à rotina, mas não havia nada de saudável nessa situação. Ri amargamente com o pensamento.

Academia Saint Michaelson. Esse era o nome da minha nova escola, e o uniforme parecia tão estranho para mim quanto todo o resto na minha vida agora. Uma saia lápis azul, camisa branca com o brasão da escola e sapatos pretos padrão. Não era horrível, mas eu não estava acostumada a usar uniformes. Amarrei meu cabelo preto na altura dos ombros em um rabo de cavalo arrumado e me olhei no espelho. Parecia uma estranha, até para mim mesma.

Com um suspiro, desci as escadas, cada passo pesado com o peso da minha nova realidade. Quando entrei na cozinha, encontrei Daniel sentado à pequena mesa de jantar, tomando seu café. Ele nem olhou para cima quando entrei. O silêncio entre nós era espesso, desconfortável. Ele ainda parecia um estranho.

Fiquei na porta, apenas observando-o por um momento. Tantas perguntas giravam na minha mente. Quem ele era, realmente? Por que eu tinha que viver com ele agora? Mas nenhuma dessas perguntas saiu.

“Está pronta?” ele finalmente perguntou, sua voz cortando o silêncio.

Eu dei um pequeno pulo ao som da sua voz. “Sim... acho que sim,” murmurei, me mexendo desconfortavelmente. “Só um pouco nervosa.”

Ele franziu ligeiramente a testa, mas não insistiu. “Você vai ficar bem,” disse, pegando uma maçã do balcão. “Vamos. Você não quer se atrasar no seu primeiro dia.” Ele se dirigiu à porta, e eu o segui em silêncio, desejando poder desaparecer.

A viagem até a Academia Saint Michaelson foi igualmente silenciosa, a tensão entre nós crescendo a cada quilômetro. Olhei pela janela, observando o céu escurecer, nuvens espessas se formando como algo ameaçador. O clima parecia tão inquietante quanto meu humor, tingindo o mundo em tons de cinza.

Quando chegamos, meu coração afundou. A escola não era o que eu esperava. Era pequena, quase como uma velha mansão em vez de uma academia. O prédio de um andar era feito de tijolos escuros, as janelas alinhadas com ferro forjado, dando-lhe uma vibe sombria e gótica. Os gramados eram bem cuidados, mas nem mesmo a grama verde conseguia iluminar a atmosfera. Parecia frio, como se o ar ao redor tivesse sido sugado de todo calor e vida. Estremeci involuntariamente.

O céu acima parecia pressionar o prédio, pesado com a promessa de chuva. As nuvens eram escuras e giravam, como algo saído de um filme de terror. O vento aumentou, fazendo as árvores balançarem de forma ameaçadora. Tudo naquele lugar fazia minha pele arrepiar, como se eu estivesse entrando em uma armadilha e nem soubesse disso.

"Este lugar parece... estranho," sussurrei para mim mesma.

Daniel parou o carro e se virou para mim. "Estarei na sala do diretor se você precisar de alguma coisa," disse com aquela mesma voz calma que ele sempre usava. Me irritava como ele parecia não se incomodar com nada. "Você vai ficar bem, é só o seu primeiro dia, Prisca."

Bem? Eu não tinha certeza se acreditava nisso. Mas assenti de qualquer maneira e observei enquanto ele entrava no prédio da escola, me deixando sozinha em frente à academia.

Respirei fundo e ajustei a alça da minha bolsa no ombro. Você consegue, Prisca. É só uma escola. É só um lugar novo. Mas quando dei meu primeiro passo em direção à entrada, um arrepio percorreu minha espinha. O ar parecia denso, opressivo, como se algo sombrio pairasse nas sombras. Aquele tipo de sensação que você tem quando está sendo observada. Que tipo de escola era essa?

Lá dentro, o corredor estava mal iluminado, com lustres antigos pendurados no teto. As paredes eram revestidas com painéis de madeira escura, e tudo parecia ter uma leve camada de poeira, como se a escola não visse muita luz ou vida há anos. Os alunos se moviam rapidamente, todos parecendo saber exatamente para onde ir, seus rostos inexpressivos. Ninguém me notou. Ou se notaram, não se importaram.

Eu me sentia deslocada, como uma intrusa em um mundo ao qual não pertencia. Meu peito apertou de ansiedade enquanto eu mexia no horário em minha mão. Eu não tinha ideia de para onde ir, e a multidão em movimento rápido tornava impossível parar e pedir ajuda.

Quando estava prestes a virar em um corredor, esbarrei em alguém. Forte.

"Ei! Cuidado!" uma voz disse, irritada mas brincalhona.

Olhei para cima e vi um garoto da minha idade, com cabelo loiro areia e óculos grossos. Ele tinha aquele tipo de charme nerd que era quase cativante.

"Eu-eu sinto muito," gaguejei, dando um passo para trás e tentando não fazer papel de boba. "Eu não quis—"

"Não se preocupe," ele interrompeu, sua irritação desaparecendo rapidamente. "Só tente não esbarrar no diretor. Você é nova, né? Nunca te vi por aqui antes."

Assenti, aliviada. Finalmente, alguém me notou. "Sim, sou nova. Desculpe, estou um pouco perdida e... muito nervosa."

Ele levantou uma sobrancelha, claramente divertido. "Nervosa? Você? Bem, não se preocupe. Este lugar é estranho, mas você vai se acostumar. Eu sou Bryan, a propósito."

Soltei um suspiro que não percebi que estava segurando e sorri pela primeira vez naquele dia. "Prisca. Prazer em te conhecer."

"Vamos, Prisca. Vou te ajudar a encontrar o caminho. Onde é sua primeira aula?" Ele pegou meu horário e deu uma olhada. "Biologia, hein? Sorte sua, estou indo para lá também."

Enquanto Bryan me guiava pelo labirinto de corredores, não conseguia afastar a sensação de desconforto que subia pela minha espinha. Quanto mais fundo íamos na escola, mais escuro parecia ficar. Eu me sentia como se estivesse andando por uma casa assombrada, não uma academia. Mas afastei esses pensamentos, tentando me concentrar no alívio de não estar completamente sozinha nesse lugar estranho.

Quando finalmente chegamos à sala de aula, Bryan segurou a porta para mim. "Primeiro as damas," brincou.

Eu ri, mas o desconforto ainda persistia.

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