




♥ Capítulo 5 ♥
Yara Blake.
18:10. Casa da Yara. Eldoria.
Depois de tomar banho, me visto rapidamente, colocando uma roupa simples, mas confortável. Desço as escadas com cuidado, sentindo o frio do chão nos meus pés descalços. Assim que chego ao último degrau, a porta da frente se abre com um estrondo, revelando Ronan. Ele me lança um olhar frio, e suas primeiras palavras, como de costume, estão cheias de impaciência.
''O jantar está pronto?'' ele pergunta, sem um traço de afeto na voz. ''Estou morrendo de fome.''
Eu aceno rapidamente, tentando evitar qualquer tipo de confronto.
''S-Sim, está pronto. Eu fiz mais cedo, mas deve estar frio agora... Por que você não toma um banho enquanto eu esquento?'' Minha voz sai trêmula, e antes que eu perceba, estou desviando o olhar.
Seu olhar é penetrante—o tipo de olhar que me faz sentir pequena e insignificante. Ele me olha com desprezo antes de explodir em raiva.
''Você sabe que eu chego a essa hora, e ainda não esquentou a comida?'' Sua voz sobe de tom, carregada de frustração. ''O que você estava fazendo? Você é inútil!''
Ele passa por mim, esbarrando no meu ombro, e vai em direção ao quarto. Sinto as lágrimas começarem a se formar, mas as engulo, lutando para manter o controle. Tento afastar os pensamentos que me atormentam, mas é inútil. As perguntas que sempre me faço voltam com força total.
Por que ele é assim? Por que ele concordou em se casar comigo se nem me respeita? E por que eu tenho que passar por tudo isso? Odeio o que meus pais fizeram, eles tiraram de mim a chance de ser livre e de escolher meu próprio caminho. Minha vida sempre foi decidida por outros.
Enquanto essas perguntas me consomem, sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto, mas a enxugo rapidamente. Não quero dar a ele a satisfação de me ver chorar. Vou para a cozinha e começo a esquentar a comida. Meus movimentos são mecânicos, e minha mente está longe.
Assim que termino, Ronan entra na cozinha. Ele trocou o terno por roupas casuais, mas sua postura ainda é rígida e intimidadora. Ele se senta à mesa sem me olhar.
''Me sirva logo.'' ele ordena bruscamente.
Faço o que ele pede, colocando o prato na frente dele, minhas mãos ligeiramente trêmulas. Enquanto ele começa a comer, sinto uma onda de medo me invadir. Preciso falar com ele, mas o medo de sua reação me paralisa por alguns segundos. Respiro fundo, tentando reunir coragem.
''Fui aceita como empregada na mansão do Sr. Darkmore.'' digo, tentando manter a voz firme.
Ronan levanta os olhos do prato e me encara friamente, seus olhos se estreitando.
''Quando começa?'' ele pergunta, a voz carregada de desdém.
''Na noite de domingo...'' começo a explicar, mas sinto minha voz enfraquecer. ''E-Eu tenho que passar a semana lá. Não vou estar em casa até sexta à noite.''
Assim que termino de falar, ele bate na mesa com tanta força que os pratos caem no chão, o som me assustando. Todo o meu corpo treme enquanto ele se levanta, seu olhar agora cheio de uma raiva intensa, quase insana.
''Eu não vou permitir! Você não vai morar na casa de ninguém, Yara!'' ele grita, sua voz ecoando pela cozinha.
Eu me assustei, e o brilho de raiva nos olhos dele me apavora. Preciso ser forte, preciso tentar argumentar, então falo em um sussurro, minha voz quase se quebrando.
''O-O salário é bom... São quinze mil dólares... Eu quero poder te ajudar.''
Por um momento, ele ergue o queixo, e vejo o brilho da ganância passar por seus olhos. O sorriso que se forma em seus lábios é cruel, e ele me olha como se sua decisão já estivesse tomada.
''Hum, com esse tipo de dinheiro, vale a pena. Vou deixar você ir,'' ele diz, sua voz agora mais calma, mas ainda carregando algo perigoso.
Ele anda ao redor da mesa, se aproximando de mim com passos lentos, cada um aumentando meu pavor. Quando finalmente para na minha frente, ele agarra meus ombros com força. A dor que sinto é imediata, e um gemido escapa dos meus lábios.
''Vou te dizer uma coisa,'' ele diz, seus olhos cheios de loucura. ''Se eu ouvir que você deu moral para algum homem, você vai se arrepender.''
''Você está me machucando, Ronan.'' sussurro, tentando não deixar o medo transparecer.
Ele aperta meus ombros ainda mais, e sinto meu corpo encolher de dor.
''Você ouviu o que eu disse?'' ele grita, seu rosto agora próximo ao meu. ''Se eu descobrir que você deu mole para algum homem, vou te fazer sofrer. Você me ouviu, Yara?''
Eu apenas aceno com a cabeça, incapaz de falar, o medo me paralisando completamente. Sinto meu coração batendo tão rápido que parece que vai sair do peito. Ele solta meus ombros, mas antes de se afastar, me beija nos lábios—um beijo longo e desconfortável.
''Boa menina.'' ele sussurra com um sorriso sádico antes de sair da cozinha, me deixando paralisada.
Minhas mãos estão tremendo enquanto tento processar o que acabou de acontecer. Sinto as lágrimas se acumulando, mas desta vez não consigo segurá-las. Elas correm pelo meu rosto, carregando o peso da humilhação que acabei de sofrer. Me sinto pequena e quebrada, como os pratos que agora estão espalhados no chão. Olho para os cacos e, com um suspiro pesado, me abaixo para começar a recolhê-los. Cada pedaço que pego parece cortar minha alma, e a dor de saber que não tenho ninguém para desabafar me consome.
Um sentimento de solidão me envolve, tornando a atmosfera ainda mais sufocante. Termino de recolher os pedaços, limpando o chão com cuidado. Guardo o resto da comida e lavo a louça. O som da água corrente é a única coisa que preenche o silêncio opressivo da cozinha. Quando tudo está limpo e arrumado, apago a luz, deixando a escuridão tomar conta.
Entro na sala e vejo Ronan jogado no sofá, assistindo a um jogo na TV. Ele parece alheio ao que acabou de acontecer, como se nada importasse para ele além daquele jogo. Não digo nada, apenas passo por ele em silêncio, meu corpo exausto e minha mente ainda mais. Subo as escadas lentamente, cada degrau parecendo um peso extra nos meus ombros.
Assim que entro no quarto, vou direto para a cama. Me deito, desejando que o sono me leve para longe de tudo isso, mesmo que por algumas horas. Mas o cansaço físico e emocional é tão grande que as lágrimas vêm novamente, e tudo o que posso fazer é deixá-las cair, esperando que o amanhã traga alguma esperança.