




A acusação
O rosto de Gigi caiu enquanto ela dava um passo para trás, "O que... o que você quer dizer?"
Tentei manter meu rosto indiferente ao ver a dor que passou pelo rosto dela. Era difícil, especialmente sabendo que o homem lá dentro costumava ser o homem que eu amava.
"Significa que ele pode esquecer você e todas as situações em que esteve."
"Não... não... isso não... eu não acredito... não pode ser."
Me perguntei se ela estava entrando em choque, "A menos que," ela gritou, sua voz cortando o ar como uma lâmina. "Você fez isso! Isso é culpa sua!"
Pisquei, as palavras me atingindo como um tapa na cara. "Gigi, acalme-se. Eu fiz tudo o que pude para salvá-lo. Ele está estável agora, mas—"
"Estável?" ela me interrompeu, suas mãos tremendo enquanto apontava um dedo acusador para mim. "Você chama isso de estável? Ele pode morrer! Ou pior, você disse que ele pode ter amnésia! Como você pôde deixar isso acontecer? Você deveria ser uma cirurgiã, uma médica, e nem conseguiu fazer seu trabalho direito!"
Fiquei ali, tentando manter a compostura. Eu sabia que isso não era sobre mim. Gigi estava com medo, e o medo fazia as pessoas atacarem. Mas suas palavras doíam mesmo assim. "Gigi, eu sei que você está chateada, mas você precisa entender que eu fiz tudo ao meu alcance para—"
"Você não fez o suficiente! Você deveria ter—" A voz dela falhou, e por um momento, vi além da raiva a desesperança por baixo. "Você deveria tê-lo salvo sem toda essa... essa bagunça! Ele vai acordar e não vai se lembrar de mim, não vai se lembrar de nada, e é tudo culpa sua!"
Exalei lentamente, me esforçando para não retrucar. "Isso não é culpa de ninguém. Rowan sofreu um acidente grave. O fato de ele estar vivo agora é um milagre."
Ela balançou a cabeça, suas mãos segurando os lados da cabeça como se não pudesse lidar com a verdade. "Não... não, isso não pode estar acontecendo. Ele estava bem esta manhã, e agora—" Ela parou, seus olhos arregalados de pânico.
Dei um passo mais perto, tentando oferecer algum tipo de conforto. "Gigi, me escute. Rowan é forte. Ele vai lutar contra isso. Mas precisamos dar tempo para ele se curar. Eu sei que isso é difícil, mas—"
"Não ouse me tratar com condescendência!" ela cuspiu, se afastando de mim como se minha própria presença fosse ofensiva. "Você não se importa com ele! Nunca se importou. Você sempre o odiou. Você acha que eu não te conheço? Deve ser o carma de Rowan ter você como cirurgiã!"
Estremeci com a acusação dela, meu coração batendo forte no peito. Eu odiava quando falavam sobre meu passado. Eu odiava isso.
Olhei ao redor, as pessoas estavam olhando. A Sra. Isolde não estava em lugar nenhum. Eu precisava acalmá-la antes que as coisas escalassem mais do que eu queria.
"Gigi, este não é o momento para ataques pessoais. Eu entendo que você está chateada, mas—"
"Você não entende nada!" ela gritou, sua voz ecoando pelo corredor. Enfermeiras e médicos que passavam olhavam em nossa direção, mas rapidamente seguiam em frente, sem dúvida reconhecendo o nome Vaughn e querendo evitar o drama. "Você não sabe como é estar no meu lugar, ser a pessoa que ele ama. Você não sabe o que passamos juntos, quanto sacrificamos um pelo outro e agora ele não vai se lembrar de nada. Você provavelmente fez isso com ele por ciúmes."
Cerrei os punhos ao meu lado, segurando a resposta que ameaçava sair. Claro que eu sabia. Eu sabia bem demais. Mas agora não era o momento de trazer o passado à tona. Não quando a vida de Rowan estava em jogo.
Não quando, mesmo odiando-o, eu fiz o meu melhor.
"Não estou aqui para brigar com você, Gigi," disse, mantendo minha voz o mais calma possível. "Estou aqui para ajudar Rowan. Isso é tudo o que importa agora. Eu apreciaria se você não me difamasse."
"Você não entende," ela sibilou, se aproximando, seus olhos selvagens de fúria. "Eu não posso perdê-lo. Não assim. E especialmente não por sua causa."
"Oh Deus."
Respirei fundo, tentando manter meu profissionalismo, mesmo que cada fibra do meu ser quisesse revidar. Ela era estúpida.
"Você não vai perdê-lo. Mas você precisa me deixar fazer meu trabalho."
"Seu trabalho?" Gigi soltou uma risada amarga. "Seu trabalho? Você chama isso de trabalho? Você não fez nada! Você falhou com ele, e falhou comigo!"
"A cirurgia foi bem-sucedida. Ele está estável. Agora esperamos que ele recupere a consciência, e então avaliaremos a extensão dos danos. Há uma possibilidade de amnésia, sim, mas não saberemos até que ele acorde."
"Amnésia." Ela cuspiu a palavra como se fosse veneno. "Ele pode acordar e nem saber quem eu sou. Você tem ideia do que isso faria comigo? Com ele?"
Pressionei os lábios, escolhendo minhas palavras com cuidado. "Eu sei que é difícil, Gigi. Mas agora, só podemos dar um passo de cada vez."
Ela me encarou, seus olhos se estreitando. "Você não sabe nada sobre o que isso faria conosco. Você não o conhece como eu. Você não o ama como eu."
Senti uma pontada aguda no peito com suas palavras, mas me recusei a deixar isso transparecer. "Isso não é sobre quem o ama mais. Isso é sobre a saúde dele, e agora, eu sou a melhor pessoa para ajudá-lo. Então, por favor, confie em mim."
"Confiar em você?" A voz de Gigi estava carregada de desdém. "Por que eu deveria confiar em você? Você não passa de uma médica fria e sem coração. Você não se importa com as pessoas. Só se importa com sua carreira."
Cerrei os dentes, "Isso não é verdade, Gigi. Eu me importo com todos os meus pacientes."
"Mas Rowan não é apenas mais um paciente, é?" Ela se aproximou, seus olhos ardendo. "Ele é o homem com quem você se casou. O homem que você traiu. Você o enganou e foi embora. Encontrou outro cara."
Franzi a testa. "Foi isso que ele te disse?"
"Ele não precisa me dizer nada para eu saber que foi isso que aconteceu. Ele teve que vir até mim. Seu amor original."
Eu murmurei, forçando um sorriso. "Bem, parabéns para você. Com licença."
Eu precisava sair dali, rápido. As lágrimas já estavam se acumulando nos meus olhos, ameaçando transbordar, e eu não queria que a Sra. Isolde testemunhasse meu colapso. Seis anos. Seis malditos anos, e ainda doía como se tivesse acontecido ontem. A dor era fresca, crua, e nenhum tempo foi suficiente para curar as feridas.
Virei-me para passar por ela, esperando escapar antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, mas sua mão disparou e agarrou a minha firmemente. Seu aperto era surpreendentemente forte para uma mulher da idade dela, e eu congelei, sem ousar olhar para ela.
"Quem disse... que você podia ir embora?" A voz dela era suave, mas autoritária, com um tom que me dizia que ela não ia me deixar sair sem responder.
"Gigi, já chega."
Gigi soltou minha mão instantaneamente quando um homem de terno, provavelmente seu segurança, a ajudou a entrar no quarto.
Engoli em seco, meu pulso acelerando. "Sra. Isolde, eu não queria que essa confusão acontecesse—"
"Oh, mas eu acho que é," ela interrompeu, seus olhos afiados cravados em mim. "Você fez algo notável hoje. Você salvou a vida do meu neto, e por isso, eu te devo mais do que apenas agradecimentos."
Ela deu um tapinha nas costas da minha mão gentilmente, seus dedos enrugados frios contra minha pele. "Remi, eu não sabia. Eu realmente não sabia que você foi casada com Rowan."
Mordi o lábio, segurando as lágrimas que ameaçavam cair. "Foi há muito tempo."
"E ainda assim, isso ainda te assombra," ela disse calmamente, seus olhos nunca deixando os meus. "Eu posso ver isso no seu rosto. Você carregou essa dor por tempo demais. Eu vi isso no seu rosto quando você o viu na TV. Fui egoísta ao pedir isso de você."
Balancei a cabeça, tentando manter minha voz firme. "Isso não é sobre mim. Rowan é quem precisa de ajuda agora."
A Sra. Isolde sorriu, um olhar triste e conhecedor em seu rosto. "Talvez. Mas isso não significa que você não precise se curar também."
Cerrei a mandíbula, o peso das palavras dela pressionando sobre mim. "Como ele está?" ela perguntou, sua voz um pouco mais suave agora, como se pudesse sentir a mudança na conversa.
"Ele está estável," eu disse, respirando fundo para me acalmar. "Mas vai ser um longo caminho para a recuperação. A cirurgia foi bem-sucedida, mas ainda há a possibilidade de amnésia. Não saberemos até que ele acorde."
Seus olhos suavizaram enquanto ela apertava minha mão. "Eu confio em você, Remi. Sempre confiei."
Essas palavras enviaram uma pontada de culpa através de mim. Se ao menos ela soubesse a verdade—toda a verdade sobre meu relacionamento com Rowan, sobre os erros que cometi, os arrependimentos que ainda carrego. Mas agora não era o momento para confissões.
"Obrigada," murmurei, oferecendo-lhe um pequeno, forçado sorriso. "Eu só quero o melhor para ele."
Ela assentiu, ainda segurando minha mão, e eu podia ver a preocupação gravada em seu rosto. "Você sabe, Remi... Eu posso ver que você ainda está profundamente conectada a ele. Não importa quanto tempo tenha passado."
Abri a boca para responder, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, uma enfermeira entrou de repente na sala, seu rosto corado de urgência.
"Dra. Laurent!" ela chamou, sua voz ligeiramente ofegante. "O Sr. Vaughn está acordado!"