




O futuro
Seis anos depois
Ajustei o gotejamento para a Sra. Isolde, que soltou uma tosse suave. Ela era uma mulher frágil, mas perspicaz, em seus oitenta e poucos anos, seus olhos de ônix ainda brilhantes enquanto me encarava. Seus pés de galinha se apertavam junto com seu sorriso caloroso. Eu tinha me afeiçoado a ela nos últimos meses desde que comecei a trabalhar como sua médica particular.
"Aqui está, Sra. Isolde," eu disse, alisando o cobertor sobre suas pernas na cadeira de rodas.
"Obrigada, querida," ela respondeu, sua voz rouca, mas afetuosa. "Você é uma bênção por estar por perto."
Um sorriso se espalhou pelo meu rosto. Equilibrar minha carreira como cirurgiã e criar meus gêmeos, Larry e Sally, não era uma tarefa fácil, mas momentos como este faziam tudo valer a pena. "É um prazer. A senhora me lembra minha própria avó."
A Sra. Isolde riu suavemente. "Você é muito gentil, Isolde. Sempre tão gentil."
Enquanto eu arrumava a mesa de cabeceira dela, a televisão no canto do quarto chamou minha atenção. A voz de um âncora de notícias encheu o ambiente, anunciando as manchetes do dia.
"...e nas notícias de negócios, o multibilionário Rowan Vaughn acaba de anunciar seu noivado com a namorada de infância e renomada filantropa, Gigi Raphael."
Minha mão pairou, o copo de água suspenso a meio caminho da Sra. Isolde.
Meu olhar se fixou na tela, meus pulmões travando em um suspiro silencioso. As palavras 'Rowan Vaughn' piscavam na tela, e meu coração tropeçou.
A câmera deu um zoom em um rosto que fez minha mente parar - traços esculpidos, mandíbula afiada e olhos que pareciam perfurar minha alma. Um arrepio percorreu minha espinha enquanto nossos olhares se encontravam, embora através da tela. Minha garganta se contraiu, o ar se tornando espesso como uma presença física. O copo de água tremia na minha mão, uma pequena ondulação perturbando sua superfície, enquanto minha mente lentamente lembrava daqueles mesmos olhos que me olhavam com tanto desejo.
E ódio.
E a mulher que ele amava em vez de mim.
Eu não deveria estar magoada. Eu não deveria me importar, já se passaram seis anos. No entanto, meu coração simplesmente não conseguia suportar.
"Rowan Vaughn," murmurou a Sra. Isolde, seus olhos se estreitando enquanto olhava para a tela. "Ele não é bem bonito?"
Eu assenti distraidamente, mas evitei olhar para ela para que não visse as lágrimas que enchiam meus olhos.
Meu olhar se deslocou para o colar em volta do pescoço dele na foto, uma corrente simples com um pingente com as iniciais "R.V." Meu coração disparou ao lembrar do anel. Nosso anel de casamento também tinha suas iniciais.
Meu Deus, Remi, não faça isso consigo mesma. Olhe para outro lado. Aja como se ele não existisse.
Mas ele existe e dói mais do que qualquer coisa saber que o homem que você amou, teve uma queda, se casou, destruiu sua vida.
Mentalmente e fisicamente.
"Remi querida, você está bem?" A voz da Sra. Victoria interrompeu meus pensamentos, e percebi que ainda estava segurando o copo de água.
"Estou bem," respondi, colocando o copo de água. "Só um pouco de choque, só isso."
Ela me olhou com preocupação, sua mão estendendo-se para cobrir a minha. "Você parece que viu um fantasma."
Antes que eu pudesse responder, o som de pequenos passos ecoou pelo corredor. Larry e Sally entraram correndo no quarto, seus rostos corados de excitação. "Mamãe! Mamãe! Olha o que encontramos!"
Eles ergueram um buquê de flores silvestres, seus olhos brilhando de orgulho. "Não são lindas, Sra. Isolde?" Sally perguntou, sua voz cheia de admiração infantil.
Os olhos da Sra. Isolde suavizaram ao ver os gêmeos. "São lindas, meu amor. Obrigada."
Respirei fundo, tentando acalmar meu coração acelerado. "Por que vocês não colocam elas no vaso ali?" sugeri, apontando para a cômoda perto da janela.
Enquanto eles corriam para arrumar as flores, voltei minha atenção para a televisão. As notícias já tinham mudado de assunto, mas a imagem de Rowan estava gravada na minha mente.
Quando olho para meus filhos, vejo o rosto dele. Quando Larry tropeça às vezes ou com sua atitude fria e madura, sei que ele herdou isso do pai. Tudo neles me lembrava dele.
A Sra. Isolde percebeu minha distração e aproximou sua cadeira de rodas. "Remi, você parece preocupada. Há algo que você queira conversar?"
Hesitei, não querendo sobrecarregá-la com minhas preocupações. "É só... aquele homem na TV. Ele parecia familiar."
Ela inclinou a cabeça, seus olhos buscando os meus. "Você o conhece?"
Mordi o lábio, incerta sobre quanto revelar. "Acho que ele pode ser... alguém do meu passado. Alguém importante. Talvez eles só se pareçam. Só isso."
A idosa assentiu pensativamente, apertando minha mão. "Às vezes, o passado tem uma maneira de nos alcançar quando menos esperamos."
Antes que eu pudesse responder, um estrondo alto veio do canto do quarto. Virei-me para ver o vaso de flores tombado, água e pétalas espalhadas pelo chão. Sally e Larry estavam parados, seus rostos cheios de culpa.
"Desculpa, mamãe," Larry disse, sua voz trêmula. "Não foi nossa intenção."
Corri até eles, meu coração doendo ao ver sua aflição. "Está tudo bem, querido. Acidentes acontecem."
Enquanto me ajoelhava para limpar a bagunça, peguei um vislumbre da Sra. Isolde nos observando, seus olhos cheios de tristeza e algo mais—curiosidade, talvez? Ela olhou de mim para os gêmeos e de volta para mim, sua expressão pensativa.
"Remi," ela disse suavemente, uma vez que o vaso estava de pé novamente, "esses seus filhos... eles têm uma semelhança impressionante com aquele homem na TV."
Congelei, meus dedos parando no pano úmido. "Eu também notei isso," admiti.
Os olhos da Sra. Isolde penetraram nos meus, seu olhar firme. "Você acha que é coincidência?"
Balancei a cabeça, as lágrimas ameaçando cair. "Sim... é." Desviei os olhos, não querendo que ela visse minhas lágrimas.
Antes que pudéssemos continuar, a mão da Sra. Isolde se estendeu para o telefone que começou a tocar, seus olhos fixos na tela como se quisesse silenciá-lo. Ela o levou ao ouvido, sua expressão serena. Mas enquanto ouvia, seu rosto se desfez, como papel amassado por uma mão invisível. Seus olhos se vidraram, seu calor extinto, deixando apenas um olhar vazio. O telefone escorregou de seus dedos, caindo no chão com um clangor metálico. Seu olhar se voltou para mim, suas pupilas dilatadas como se procurassem uma fuga. O terror se infiltrou em seus olhos, como tinta sangrando no papel, e sua boca se abriu, mas nenhum som saiu.
Exceto uma palavra.
"Ajuda."