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A triste notícia

No dia seguinte, como sempre, sentei-me sozinha, olhando pela janela, perdida em meus pensamentos. Minha mente estava enevoada pela depressão, uma névoa pesada que se recusava a se dissipar. Eu alucinava sons fracos de bebês vindo do berçário, um quarto que foi construído para uma criança que nunca nasceu.

Enquanto eu estava ali, lágrimas começaram a cair, escorrendo pelo meu rosto como um rio de dor. Eu não conseguia mais conter meu luto. A depressão estava me consumindo e eu não tinha amigos. Ninguém com quem conversar. A porta se abriu, e eu me virei, esperando ver Rowan sozinho, mas, em vez disso, uma mulher deslumbrante estava ao lado dele.

Ela era uma visão de beleza, com longos cabelos castanhos cacheados e olhos verdes penetrantes que brilhavam como esmeraldas. Sua pele tinha um brilho radiante, beijado pelo sol, e seus lábios cheios se curvavam em um sorriso branco e brilhante. Ela usava um vestido vermelho justo que realçava suas curvas nos lugares certos, exibindo sua silhueta tonificada. Um colar de diamantes brilhava em seu pescoço, chamando a atenção para sua elegante clavícula.

Fiquei surpresa, sem saber o que dizer ou fazer. Franzi a testa, sentindo uma mistura de emoções: raiva, mágoa e confusão. Seria essa mais uma das conquistas de Rowan? Outra mulher para adicionar à sua coleção?

Virei-me, tentando me recompor, mas a voz da mulher perfurou o ar. "Quem é essa?" ela perguntou, com um tom curioso e inocente.

Eu não respondi, meu coração pesado com o peso das minhas lágrimas. Rowan não a apresentou, e eu não perguntei. Apenas fiquei ali, perdida em minha tristeza, enquanto os dois permaneciam na porta.

"Uma empregada. Ignore-a. Ela é louca." Rowan disse.

Uma empregada? É isso que eu fui reduzida. Uma empregada?

"Por que você não a demite?" A mulher perguntou.

"Apenas ignore-a, Gigi. Não temos um casamento para planejar? Vamos focar nisso."

Mordi meus lábios com tanta força enquanto eles passavam, que senti sangue na boca. Então essa era a Gigi? Depois de três anos, ele finalmente a tinha de volta.

E casamento? Eu o ouvi discutindo isso na noite passada também.

Acho que não sirvo mais para nada. Ele cumpriu o pedido do avô ao se casar com quem queria, ele conseguiu sua posição como CEO de recursos tecnológicos, eu consegui o tratamento de Jules... agora não sirvo mais para nada.

Tudo está indo bem para todos, menos para mim.


Enquanto eu saía pelo portão da mansão Vaughn, tremi quando o clima gelado atingiu minha pele.

Olhei para o tempo escuro, esperando que chovesse, talvez pudesse lavar as memórias e a dor que eu sentia.

"Você merece morrer, Remi. Nunca conheci alguém tão vil, perversa e inútil como você. Como ousa tirar a vida do meu neto não nascido!"

"Você é sem coração. Saia da minha vista."

Eu cambaleava pelas ruas movimentadas, balançando como um bêbado, o barulho das buzinas e o caos da cidade não conseguiam me tirar das minhas memórias atormentadoras. Meus olhos ainda estavam inchados da surra brutal que eu havia sofrido nas mãos do pai do meu marido.

Eu era seu saco de pancadas em um dia bom. Era a maneira dele de me lembrar de ser grata.

Rowan não sabia, ele me ameaçava, uma palavra e Jules morria.

Até a memória da minha última conversa com minha tia estava impregnada de amargura.

"Você se casou com um homem rico e ainda quer se divorciar?" ela cuspiu, suas palavras carregadas de veneno. "Admite logo que quer ver sua prima morta. Você é ingrata, sua bruxinha."

Meus pés se moviam por conta própria, me levando adiante com uma determinação sombria.

Eles entendiam a missão: encontrar um lugar tranquilo onde eu pudesse morrer em paz.

Ou pelo menos, um lugar onde eu não traumatizasse os espectadores. A ideia de me deitar na estrada e ser atropelada passou pela minha mente, mas a imagem de rostos horrorizados e o trauma que isso causaria nos transeuntes e naqueles que ouviriam minha história me deteve. Eu não suportava a ideia de adicionar mais dor ao mundo.

Enquanto eu estava ali, olhei ao redor e vi crianças brincando, suas risadas ecoando no ar. Felizes com seus pais, eram uma imagem do que eu havia perdido. Forcei um sorriso.

Se minha filha tivesse sobrevivido, ela seria uma linda menina. Meu casamento teria sido suportável, no mínimo.

Mas a vida é injusta, nunca te dá o que você quer.

Com esses pensamentos, atravessei a rua em direção a uma ponte. Mesmo de longe, eu podia ouvir o som suave das ondas batendo na costa.

Minha vida inteira passou pela minha mente como um filme deprimente. Minha respiração ficou instável, e meus joelhos vacilaram a cada memória abusiva recordada. Até o vento parecia contra mim, mordendo e beliscando com um frio cortante à medida que o tempo passava.

"Finalmente," murmurei para mim mesma e me movi em direção à ponte.

A pedra áspera arranhava minhas palmas, mas eu não dei atenção a isso. Era hora. Meus joelhos subiram primeiro, depois o resto do meu corpo.

Em pouco tempo, eu estava em pé na grade, a um passo de mergulhar nas águas geladas abaixo.

As ondas se agitavam violentamente, batendo contra os pilares da ponte com uma força estrondosa.

A água escura brilhava sob o sol da tarde, parecendo ao mesmo tempo bela e aterrorizante. Ela girava e espumava, uma entidade poderosa e implacável que me chamava com seu abraço frio.

Fechei os olhos, deixando o som das ondas preencher meus ouvidos, seu ritmo implacável quase reconfortante. Meu coração disparava, mas, em meio ao medo, havia uma estranha sensação de paz. Um passo, e eu estaria livre da dor, das memórias, do ciclo interminável de abuso e traição.

Foi quando meu telefone tocou.

Suspirei, olhando para ele. Era de um número desconhecido.

Suspirei, atendendo. "Alô..."

"Jules está em coma."


As luzes fluorescentes duras do corredor do hospital lançavam longas sombras enquanto eu corria para o quarto de Jules. Meu coração batia forte a cada passo, o medo apertando meu peito. A notícia havia chegado de repente: a leucemia de Jules havia piorado, e ela havia entrado em coma.

Entrei no quarto, meus olhos encontrando imediatamente a forma pequena e frágil de Jules deitada imóvel na cama. Máquinas bipavam ritmicamente, cada som um lembrete de quão frágil era sua vida.

A voz da tia Victoria cortou o silêncio. "Você finalmente chegou. Demorou o suficiente."

Ignorando-a, corri para o lado de Jules, segurando sua mão fria na minha. "Jules," eu sussurrei, minha voz falhando. "Estou aqui."

O tio Jacob pairava atrás de mim, sua expressão tão dura como sempre. "Precisamos conversar."

Virei-me para encará-lo, o pavor se acumulando no meu estômago. "O que agora?"

"Você não pode se divorciar," disse a tia Victoria, sem rodeios. "A menos que queira que Jules morra."

Eu a encarei, horrorizada. "Do que você está falando?"

"Rowan acabou de enviar dinheiro para a cirurgia dela," ela continuou, seu tom gelado. "Se você o deixar, ele vai parar. E sem esse dinheiro, Jules não tem chance."

Lágrimas encheram meus olhos enquanto a realidade da minha situação me atingia. "Então eu devo apenas ficar nesse casamento miserável? Deixar que ele me trate como lixo? Ele está até planejando se casar com outra pessoa. Eu perdi meu bebê. Ele me estuprou duas vezes. Uma vez eu engravidei. Outra foi no mês passado. Eu não posso mais viver assim.

"Sim," disse o tio Jacob firmemente. "Se você se importa com Jules, fará o que for necessário para mantê-lo feliz."

Senti meus joelhos cederem, o peso das palavras deles era demais para suportar. Agarrei-me à beira da cama de Jules, tentando me equilibrar, mas o quarto girava ao meu redor.

"Remi?" A voz da tia Victoria parecia distante. "Remi!"

A escuridão se fechou, e eu senti que estava caindo.


Quando acordei, estava em outro quarto de hospital, o cheiro estéril preenchendo meus sentidos. Um médico estava ao lado da minha cama, verificando meus sinais vitais.

"Sra. Vaughn," ele disse, notando que eu estava acordada. "Como está se sentindo?"

"Confusa," admiti, minha voz rouca. "O que aconteceu?"

"Você desmaiou," ele explicou gentilmente. "Estresse e exaustão. Mas há algo mais que você deve saber."

O medo me dominou. "O quê?"

"Você está grávida."

As palavras pairaram no ar, surreais e inesperadas. "Grávida?" eu repeti, incapaz de processar a notícia.

"Sim," ele confirmou. "Aproximadamente oito semanas. Você precisa cuidar melhor de si mesma, pelo seu bem e pelo bem do bebê."

Nodando mecanicamente, as palavras do médico ecoavam na minha mente. Grávida.

"Você deve descansar. Vamos mantê-la aqui para observação."

Eu assenti, sentindo o peso da nova vida crescendo dentro de mim. Depois que ele saiu, fiquei deitada ali, minha mente um turbilhão de emoções.

Grávida. Com o filho de Rowan. O pensamento era avassalador, mas também despertou algo em mim — uma necessidade de proteger esse bebê do mundo tóxico em que eu estava presa.

Horas depois, saí do hospital, determinada a voltar para casa e descobrir meu próximo passo.

Eu estava grávida, mas não ia deixar os Vaughn saberem.

Não. Eu preferia morrer a deixar que eles vissem meu filho.

Mas ao entrar na casa, ouvi vozes vindo da sala de estar.

Não, não vozes. Gemidos.

De novo. Provavelmente com Gigi. Aquela a quem ele disse que eu era uma empregada.

Eu zombei. O destino não queria que eu morresse, a vida não era justa. Mas agora, estou grávida novamente.

Tomei uma decisão naquele momento. O divórcio não era mais uma opção até que o acordo terminasse.

Mas ficar aqui, nessas condições, era igualmente impossível. Eu tinha que sair, para proteger meu filho não nascido e a mim mesma desse pesadelo.

Enquanto caminhava para o meu quarto para arrumar algumas coisas, o aviso da tia Victoria ecoava na minha mente. Mas a imagem de Jules, deitada indefesa naquela cama de hospital, fortaleceu minha determinação. Eu não deixaria que eles me controlassem mais.

Eu estava farta.

Com minha mala pronta, saí da casa sob a cobertura da escuridão.

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