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Era uma vez um dia triste

Eu nunca pertenci aqui. Nem nesta casa, nem nesta família, e certamente não como esposa de Rowan Vaughn.

Os Vaughn sempre me viram como uma estranha, uma ninguém. As empregadas deixavam isso bem claro em seus sussurros quando achavam que eu não estava ouvindo. Mas eu ouvia. Sempre ouvia.

"Como ela conseguiu se casar com ele?" uma das empregadas riu enquanto eu passava pelo corredor.

"Ela é daquela família pobre, não é? Sem conexões, sem riqueza... Nada," a outra comentou, sua voz carregada de desdém.

Lembro-me de ter parado, minha mão apertando o corrimão até meus nós dos dedos ficarem brancos. Eu não deveria ter ouvido. Mas ouvi.

"E ela nem tem um bebê ainda. Pelo menos poderia ter garantido seu lugar assim," outra voz se juntou, uma das empregadas mais velhas. "Mas não, vazia. Aposto que não vai demorar muito para a família encontrar alguém mais... adequado."

As palavras delas grudaram em mim como um peso, mais pesado do que a solidão que preenchia essas paredes. Todos sabiam a verdade — todos sabiam. Eu estava aqui não porque pertencia, mas porque tinha sido comprada. Trocada.

Tecnicamente, minha tia estava navegando na deep web quando viu os anúncios. Engraçado o suficiente, ela tinha salvado o patriarca da família.

Isso fez com que ela tivesse sorte o bastante para me empurrar a casar com o filho deles e conseguir dinheiro para o tratamento da filha dela.

Eu não me importei. Eu tinha uma grande paixão por Rowan. Saber que ele era um bilionário rico me fazia sentir como aquelas garotas de novelas.

Mas então eu o conheci, sua atitude, sua frieza, seu desprezo e me senti uma idiota.

Me forcei a continuar andando, fingindo não me importar, mas a verdade é que eu me importava demais. Cada comentário cruel se enfiava sob minha pele, um lembrete constante de que eu não me encaixava no mundo dos Vaughn. E não poder dar um filho a Rowan só piorava as coisas.

Rowan não dizia, mas eu sabia. Seu silêncio, sua ausência, falavam volumes.

Os Vaughn precisavam de um herdeiro, um perfeito. Foi por isso que seu avô concordou com essa farsa de casamento em primeiro lugar. Não era por amor ou compatibilidade — era porque precisavam de alguém submisso, alguém que pudessem controlar. E eu, pobre, desesperada, não tinha nada para negociar além da minha obediência.

O avô de Rowan me olhou no dia em que fomos apresentados, e nunca esquecerei suas palavras. "Você entende por que estamos permitindo este casamento, não é, Remi?" Sua voz era fria, distante.

Eu assenti, mal conseguindo olhar em seus olhos. Eu sabia exatamente o porquê. Minha família era pobre, afundada em dívidas. O tratamento da minha prima Jules para leucemia estava nos deixando sem nada, e não havia esperança à vista. Minha tia e meu tio sempre deixaram claro que meu único valor estava no que eu podia fazer por eles, no que eu podia sacrificar. E assim, eu sacrifiquei minha vida por eles, minha liberdade.

"Você vai manter a cabeça baixa, certo?" o avô dele continuou, sem esperar uma resposta. "Sem escândalos, sem problemas. Você fará o que mandarmos. Esperamos discrição."

"Eu entendo," eu sussurrei.

Mas eu não entendia. Não de verdade. Não até eu ter entrado nesta casa e percebido o quão pequena eu era aos olhos deles. Uma ferramenta conveniente, um meio para um fim.

"Remi, por que você está parada aí?"

A voz de Rowan me tirou dos meus pensamentos. Eu me virei, encontrando-o parado na porta do nosso quarto na mansão de seu avô, me observando com olhos cansados e indiferentes.

"Eu... estava apenas pensando," murmurei, minha voz sumindo. Eu não precisava dizer. Ele não estava interessado. Raramente estava.

"Eu não sei no que você está sempre pensando," ele disse, esfregando as têmporas, "Você conseguiu o que queria."

O que eu queria? Uma risada amarga subiu pela minha garganta, mas eu a engoli.

"O que eu queria?" repeti, incapaz de esconder a mágoa na minha voz.

Ele me olhou como se eu estivesse falando outra língua. "Isto. O dinheiro. A segurança."

"Você acha que eu queria isso?" Dei um passo à frente, incapaz de me conter. "Você realmente acha que eu escolhi isso, Rowan? Este casamento? Sua família me trata como lixo. Eu os ouço, a maneira como falam de mim. Eu sei o que eles pensam de mim."

Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo. "Não é como se eles estivessem errados, Remi."

As palavras me atingiram como um tapa. Por um momento, eu não consegui respirar. Eu queria gritar com ele, dizer que ele estava errado, que eu era mais do que apenas uma ninguém. Mas naquele momento, eu não tinha forças.

"Você deveria ser grata. A maioria das garotas só sonharia com essa oportunidade."

Grata. A palavra fez meu estômago revirar.

"É isso que você pensa também?" eu sussurrei, minha voz mal audível. "Que eu sou apenas uma... garota desesperada, grata por qualquer migalha que sua família me joga?"

O silêncio de Rowan foi resposta suficiente.

Lágrimas arderam no fundo dos meus olhos, mas eu me recusei a deixá-las cair. "Você sabe como é, Rowan? Ser ridicularizada, ser sussurrada pela própria família do seu marido? Saber que eles pensam que você está aqui apenas porque foi comprada e paga?"

Seu maxilar se contraiu, mas ele não disse nada. Ele não me defendeu. Nunca defendia.

"E agora, eles me zombam porque eu não te dei um filho. Como se esse fosse o único valor que eu poderia ter," acrescentei amargamente.

Rowan finalmente falou, sua voz baixa. "Você sabia o que isso era, Remi. Você sabia no que estava se metendo."

"Eu não sabia que me sentiria assim," admiti, meu peito apertando, "Eu não sabia que me sentiria tão... sozinha."

Ficamos em silêncio, a distância entre nós crescendo a cada segundo que passava. Eu podia ver nos olhos dele, a batalha que ele travava dentro de si. Mas ele não diria. Ele não admitiria o que eu já sabia.

"Você acha que eu não me sinto sozinho também?" ele murmurou, quase para si mesmo.

Pisquei, surpresa. "O quê?"

Ele balançou a cabeça, virando-se de mim. "Nada."

"Não, diga," exigi, dando um passo à frente. "Diga como você se sente. Passei meses tentando entender por que você me odeia, por que você não suporta estar no mesmo cômodo que eu. Você me chama de interesseira, de ninguém. Mas eu nunca pedi nada disso, Rowan. Eu só queria—"

"O quê?" ele interrompeu, sua voz afiada. "O que você queria, Remi? Porque de onde eu estou, parece que você conseguiu exatamente o que queria."

"Eu queria uma vida que não fosse cheia de dor," retruquei, minha voz falhando. "Eu queria algo real. Eu queria... Eu queria não ser tratada como se eu não valesse nada."

Os olhos de Rowan suavizaram por um breve momento, mas as barreiras subiram novamente tão rapidamente. Ele passou a mão pelo cabelo, suspirando pesadamente.

"Eu não pedi por isso também," ele disse calmamente, sua voz quase um sussurro. "Você acha que eu queria estar preso neste casamento também? Você acha que eu não sinto como se estivesse me afogando?"

Eu o encarei, atônita pela vulnerabilidade em sua voz. Era a coisa mais próxima de honestidade que eu tinha ouvido dele em meses.

"Mas pelo menos você tem sua família," sussurrei. "Você não está sozinho."

Ele soltou uma risada amarga, balançando a cabeça.

Ele pegou um charuto, encostando-se na parede enquanto o acendia, "Diga-me o que você quer, eu te daria. Para que você não se sinta sozinha. Dinheiro. Casa. Uma ilha. Um gigo-"

"Eu quero o divórcio," disse a Rowan.

Rowan bufou, soltando fumaça do charuto bem na minha cara. "Você acha que está em posição de pedir um divórcio?" ele zombou, seus olhos brilhando com desprezo.

Eu tossi, afastando a fumaça acre, "Você disse que me daria qualquer coisa."

"Menos isso."

Sua expressão estava fria, como se ele tivesse acabado de chupar um limão. Seu terno preto parecia feito sob medida. Sua camisa branca estava impecável e brilhante, e sua gravata prateada cintilava à luz. Seu cabelo escuro estava penteado para trás, destacando sua mandíbula afiada e seus olhos penetrantes que pareciam olhar diretamente através de mim.

"Você não me ama. Eu não te amo. Foi um casamento por contrato e acho que é hora de acabar com isso," informei.

"Pelo que sei, esse casamento deve durar pelo menos mais seis anos," ele disse.

Franzi a testa, então mostrei meu braço esquerdo que tinha hematomas. "Estou cansada, Rowan. Só se passaram três anos, mas parece que foram cem. Fui espancada hoje, e você ficou parado assistindo. Você não fez nada para impedir."

Rowan deu de ombros, sua expressão implacável. "Não é minha culpa que você decidiu matar nosso filho," ele disse, sua voz fria e distante.

Gritei, minha raiva transbordando. "Por causa do estresse, Rowan! Estresse e pressão alta que você e sua família me causaram! Vocês transformaram minha vida em um inferno, e eu não vou aguentar mais!"

"Você acabou de levantar a voz para mim?" Os olhos de Rowan se estreitaram, sua voz gotejando desdém. "Quem você pensa que é? Você não é nada, um meio para um fim. Você acha que eu quero esse casamento? Eu só me casei com você para conseguir minha posição. E consegui. Você é inútil para mim. Para mim, esse casamento por contrato já acabou. Você é a única que ainda está presa a ele. Porque você sabe que, uma vez que sair, o tratamento da sua prima para e, quem sabe, ela morre."

Engoli em seco.

Ele não se importava com o contrato. Nos últimos três anos, várias amantes entraram e saíram. Ele só me tocava uma vez por mês. Depois daquela noite de paixão, seu ódio por mim só piorou.

Ele me impediu de trabalhar. Ele me mantinha dentro de casa, na maior parte do tempo com sua família.

O amor que eu tinha por ele foi diminuindo lentamente, tudo o que restou foi ódio.

"Estou cansada," eu disse, minha voz mal acima de um sussurro. "Estou realmente cansada."

"Não é meu problema," ele disse, sua voz fria. "Você não pode se divorciar. Isso é definitivo. Ou você faz terapia para sua saúde mental ferrada ou lida com isso. Pelo que me lembro, você estava bastante empolgada para se casar comigo."

Com isso, ele se virou e saiu, fechando a porta atrás de si. Suspirei, sentindo o peso do meu cansaço, e desabei no chão. Lágrimas brotaram nos cantos dos meus olhos, e eu as deixei cair.

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