




O Flashback
O café estava agitado ao meu redor, o barulho das xícaras tilintando e o murmúrio das conversas se misturando em um zumbido distante. Normalmente, essa familiaridade me trazia paz, mas hoje, tudo estava me irritando. Minha mente estava inquieta, consumida por pensamentos sobre Rowan e a bagunça em que minha vida se transformou.
Limpei o balcão novamente, meus olhos se voltando para a porta, meio esperando que ele entrasse. Só de pensar nele, meu peito se apertava. Já fazia alguns dias desde o nosso casamento, e embora eu esperasse que o choque passasse, ele ainda me envolvia como uma névoa pesada.
Rowan Vaughn—o homem que uma vez me cativou, o homem por quem eu estupidamente me apaixonei—agora era uma presença constante na minha vida. Mas a fantasia que eu criei sobre ele se despedaçou no momento em que caminhei pelo corredor. Ele não era o herói que eu sonhei. Ele era um pesadelo envolto em um terno sob medida.
O dinheiro foi depositado na conta da minha tia, exatamente como Rowan prometeu. Jules estava estável agora, pelo menos por enquanto. Mas o custo... Eu não sabia se conseguiria viver com o preço que paguei.
"Ei, terra chamando Remi," a voz de Nina cortou meus pensamentos em espiral. Ela se encostou no balcão, um sorriso provocador no rosto. "Você está limpando esse mesmo lugar há uns dez minutos."
Pisquei, saindo do meu transe. "Desculpa, me perdi nos pensamentos."
Nina revirou os olhos. "É, você tem feito isso muito ultimamente. E aí, como está a vida de casada? O Sr. Alto, Moreno e Misterioso é tudo o que você esperava?"
Forcei um sorriso, embora parecesse vazio. "É... complicado."
"Complicado?" Ela levantou uma sobrancelha. "Você costumava praticamente desmaiar toda vez que ele entrava aqui."
Meu peito se apertou com a lembrança, o momento em que vi Rowan pela primeira vez. Parecia uma vida atrás.
Flashback
Era uma tarde movimentada, e eu estava correndo entre as mesas, equilibrando uma bandeja de xícaras de café. O sino acima da porta tocou, e eu olhei para cima. Foi quando o vi pela primeira vez.
Rowan Vaughn.
Ele estava parado na porta, sua presença comandando atenção sem nem tentar. Seu terno, perfeitamente ajustado, se moldava aos seus ombros largos, e seus intensos olhos escuros varreram o café até pousarem em mim. Por um momento, o mundo ao nosso redor desapareceu, deixando apenas nós dois. Lembro de pensar que ele parecia ter saído de um sonho—ou de um daqueles dramas românticos sombrios que eu costumava assistir.
"Oi, o que posso te trazer?" Consegui perguntar, minha voz tremendo um pouco.
Ele olhou brevemente para o cardápio antes de fixar os olhos em mim. "Café preto."
Ele me entregou o cardápio de volta, nossas mãos se tocando, eu engoli em seco. O jeito que ele me olhava fez minhas bochechas doerem enquanto eu colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha.
Enquanto preparava a bebida dele, não pude deixar de lançar olhares furtivos. Havia algo na maneira como ele se portava, a confiança silenciosa, a aura de poder. Quando entreguei o café, nossos dedos se tocaram novamente, e um arrepio percorreu meu corpo.
"Obrigado," ele disse, sua voz profunda fazendo meu estômago revirar. Ele sorriu—apenas um pequeno, mas significativo sorriso—e meu coração disparou.
"De nada..." respondi timidamente.
Seus olhos se voltaram para o crachá no meu uniforme. "Remi."
A maneira como meu nome saiu de sua boca quase me fez desmaiar. "Um nome bonito para uma garota bonita. Espero que não se importe de me servir café daqui para frente. Gosto do seu atendimento."
Ele sorriu novamente e eu apenas assenti, atônita demais para falar.
Aquele momento ficou gravado na minha memória. A primeira vez que realmente notei um homem assim ou, melhor ainda, a primeira vez que um homem como ele me notou.
Ele saiu do café e da minha vida tão rapidamente quanto entrou, mas deixou uma impressão.
"Remi!" Nina estalou os dedos na frente do meu rosto, me trazendo de volta ao presente. "Você está corando como uma colegial."
Ri de forma constrangida, balançando a cabeça. "Eu estava apenas... lembrando."
Ela sorriu de lado. "Eu sabia. Você estava caidinha desde o primeiro dia. Então, qual é o problema agora? Problemas no paraíso?"
Hesitei, olhando ao redor para garantir que ninguém estivesse ouvindo. "Não é tão simples, Nina."
Sua expressão suavizou. "O que você quer dizer?"
Suspirei, me encostando no balcão, sentindo o peso de tudo me pressionando. "Ele... não é quem eu pensei que fosse. Senti que ele veio aqui naquele dia para avaliar como eu era. Para saber se eu era do tipo que luta. É a única maneira de explicar o fato de que o vi com outras mulheres no dia do nosso casamento."
Os olhos de Nina se arregalaram. "O quê? No dia do seu casamento?"
Assenti, engolindo o nó na garganta. "Sim. E eu não fiz nada. Minha tia e meu tio praticamente me empurraram pelo corredor. Eles usaram Jules contra mim, disseram que se eu não fosse adiante, não poderíamos pagar o tratamento dela."
"Meu Deus, eu pensei que você estava feliz que o destino te trouxe ao homem dos seus sonhos."
Suspirei. "Eu queria que esses sonhos fossem pesadelos."
"Isso é muito errado," Nina sussurrou. "Por que você não se defendeu?"
"Porque eu não tinha escolha," disse, minha voz tremendo. "Rowan controla tudo agora. Minha vida, minhas finanças... o tratamento de Jules. Estou presa."
Nina franziu a testa, cruzando os braços. "Isso não está certo, Remi. Você merece algo melhor do que isso."
"Eu sei," sussurrei, meu coração pesado. "Mas que escolha eu tenho?"
A porta do café tilintou novamente, e meu coração disparou. Rowan entrou, seus olhos varrendo o ambiente antes de pousarem em mim. Ele se dirigiu ao balcão, sua presença tão imponente como sempre.
"Nina, você pode cobrir a mesa cinco?" perguntei, minha voz tensa.
Ela me lançou um olhar preocupado, mas assentiu. "Claro."
O sorriso de Rowan não chegou aos olhos quando se aproximou. "Remi, precisamos conversar."
Saí de trás do balcão, indicando um canto mais tranquilo do café. "Sobre o que você quer falar?" perguntei, cruzando os braços defensivamente.
Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo escuro. "Há um evento beneficente no próximo sábado na casa do meu avô. Preciso que você esteja lá. Você precisa desempenhar o papel—sorrir, ser a esposa perfeita. Você pode fazer isso?"
Meu sangue ferveu com suas palavras. "Você está falando sério? Você estava com outras mulheres no dia do nosso casamento, Rowan. Você nem sequer pediu desculpas, e agora está me pedindo para fingir que está tudo bem?"
Ele ficou tenso, sua expressão endurecendo. Mas eu podia ver o estresse em seu olhar.
"Você não entende. Este casamento é... complicado."
"Complicado?" retruquei. "Você não pode culpar seu avô ou suas circunstâncias. Você fez suas escolhas, Rowan."
Ele abriu a boca, mas eu o interrompi. "Eu não sou uma marionete que você pode controlar. Eu não vou fazer isso a menos que você comece a me tratar com respeito. Se você não pode fazer isso, então eu não me importo com seu evento beneficente ou sua reputação."
Por um momento, ele apenas me encarou, como se tentasse processar minhas palavras. Então, lentamente, seu maxilar se contraiu. "Eu não queria este casamento mais do que você, Remi. Mas está feito. Estamos nisso juntos, goste você ou não."
"Só porque você precisa de mim," cuspi. "Para sua imagem. Para seu avô. Não porque você realmente se importa."
"E você se importa comigo?"
Meus lábios tremeram enquanto eu olhava para aqueles olhos. "Mais do que você. Eu queria não me importar, mas infelizmente eu me importo."
Ele estendeu a mão como se fosse me tocar, mas eu recuei. "Não," sussurrei, minha voz falhando. "Não finja que se importa agora. Você já me mostrou quem você realmente é."
Os olhos de Rowan brilharam com algo—culpa? Frustração? Eu não conseguia dizer. "Remi..."
"Não," disse firmemente. "Eu não vou fazer isso. Não desse jeito."
Sem dizer mais nada, me virei e me afastei, meu coração batendo forte no peito. Não olhei para trás enquanto me dirigia para o fundo do café, precisando de um momento para respirar, para me recompor antes de desabar completamente.
O resto do meu turno passou em um borrão. Quando saí do café, estava exausta, tanto física quanto emocionalmente. Apertei o casaco ao redor de mim, saindo para o ar frio da noite. Mas, assim que alcancei minhas chaves, uma mão agarrou meu braço.
"Remi," a voz do Tio Jacob era fria e autoritária. "Precisamos conversar."
Puxei meu braço, olhando para ele com raiva. "Agora não, Tio Jacob. Estou cansada."
Seu rosto escureceu, seu aperto se intensificando. "Você não tem escolha. Entre no carro."
Relutantemente, o segui para fora, meu coração afundando mais a cada passo. A viagem até a propriedade de Rowan foi silenciosa, a tensão no ar era palpável. Eu não queria voltar lá, não depois de tudo. Mas eu não tinha escolha. Nunca tive.
Quando chegamos, Tio Jacob olhou para mim, seu rosto uma máscara de determinação fria. "Melhor se comportar," ele murmurou.
Cerrei os punhos, engolindo a amargura que subia na minha garganta. "Tanto faz."
Lá dentro, a casa estava quieta, a grandiosidade da propriedade parecia mais uma prisão do que um lar. Rowan estava esperando na sala de estar, um copo de uísque na mão, seus olhos vidrados de tanto álcool.
"Remi," ele balbuciou, fazendo um gesto para que eu me aproximasse. "Venha aqui."
Fiquei onde estava, meu coração pesado.
"O que você quer, Rowan?"
Seus olhos estavam vidrados, e eu podia ver que ele estava longe de estar sóbrio. Era a primeira vez que eu o via assim, sua compostura calculada destruída pelos demônios que o assombravam naquela noite. Ele nunca aparecia em nossa casa antes—preferia sua cobertura, onde podia manter distância de mim. Mas naquela noite, ele estava aqui. E algo estava errado.
"Eu... senti sua falta."
Franzi a testa. "O quê..."
As palavras mal saíram dos meus lábios antes que as mãos de Rowan me alcançassem, segurando minha cintura com uma súbita desesperação que me pegou de surpresa. Sua respiração estava quente, tingida com o amargo cheiro de uísque enquanto ele enterrava o rosto contra meu pescoço, inalando profundamente.
"Eu preciso de você... Gigi," ele sussurrou, o nome saindo de sua boca como uma adaga.
Eu congelei, o nome me atingindo com um choque cruel.
Gigi.
Ele não estava me vendo.
Ele não estava aqui comigo. A dor rasgou meu peito como um vento frio, afiado e implacável. Mas então ele se aproximou mais, suas mãos tremendo enquanto deslizavam pelas minhas costas, me puxando contra ele.
"Desculpe," ele murmurou contra minha pele, seus lábios roçando minha clavícula. "Sinto muito, Gigi... Senti sua falta..."
Meu coração gritava para eu empurrá-lo, para gritar com ele, para exigir que ele parasse de me confundir com quem quer que fosse.
Mas algo me manteve ali, presa entre a dor no meu peito e o calor do toque dele. Passei tantas noites me perguntando se ele algum dia viria até mim, se algum dia me mostraria algum sinal de afeto. E agora, aqui estava ele—bêbado, vulnerável, me confundindo com outra pessoa—mas o anseio em sua voz, a necessidade em seu toque, fizeram minha determinação desmoronar.