




Capítulo 5
PONTO DE VISTA DE LUXURIA
O vento frio soprava pelos arcos de pedra da alcateia da Montanha de Cinzas, filtrando-se na grande câmara onde eu estava sentada.
O vento gelado não era nada comparado ao medo congelante em meu coração.
Lá fora, no pátio, a cerimônia estava preparada. Não uma cerimônia de casamento, como minha linhagem exigia, mas uma cerimônia de acasalamento, conforme solicitado pelo Alpha Parthe.
Eu seria a primeira da minha linhagem a ser acasalada sem uma cerimônia de casamento adequada. Era assim que meu povo estava envergonhado de mim.
Esta noite, eu seria unida, não a um homem de minha escolha. Não ao homem que sempre amei. Nem mesmo ao homem próximo ao meu homem dos sonhos. Mas à besta que governava as terras vizinhas com uma pata de ferro.
O Alpha do Norte.
Esta noite era a noite da lua cheia. O dia que o Alpha Parthe escolheu.
Não diziam que a lua cheia era quando seus demônios eram libertados? Qual é o plano dele?
Embora a lua cheia ainda esteja a algumas horas de distância, espero, acima de tudo, que a cerimônia termine antes disso para que Parthe possa levar sua maldição para fora da alcateia do meu pai antes de liberá-la.
Acho que ele escolheu hoje de propósito. Ele sabia que eu não ousaria atrasar a cerimônia pela segurança da minha alcateia.
Apertei o medalhão de prata em minha garganta. Um presente que me foi dado pelo Beta Kahel.
Kahel havia prometido desafiar o Alpha do Norte, Alpha Parthe, para lutar pelo nosso amor... mas e se a escuridão desse inimigo, Alpha Parthe, já tivesse se infiltrado em minha alma, contaminando minha inocência?
Na outra noite, tive que impedi-lo de fazer algo tão estúpido quanto entrar na alcateia do Lobo Selvagem para 'lutar' contra Parthe.
Ele estava loucamente apaixonado. Caso contrário, quem ousaria fazer isso?
Uma batida na porta da câmara fez meu coração saltar. Era Rella, a última pessoa que eu gostaria de ver em um dia como este.
"Minha senhora," ela ronronou, os olhos brilhando com uma malícia muito mais profunda do que mera inveja, sua voz gotejando zombaria, "Ele chegou. O Alpha Amaldiçoado." Ela riu, deleitando-se com meu sofrimento.
A alegria na voz de Rella. A satisfação em seu rosto. Enviando-me para a morte. Todos eles mal podiam esperar para se livrar de mim. Meu pai, madrasta, irmãos, membros da alcateia. Todos.
Todos me viam como uma maldição. Ao descobrir que eu estava acasalada com Alpha Parthe, confirmaram que eu era realmente amaldiçoada e merecia ser acasalada com alguém tão amaldiçoado quanto eu.
Nenhuma mulher que já foi acasalada com um Alpha da linhagem da alcateia do Lobo Selvagem viveu mais de um ano. Todas desaparecem misteriosamente. Assim diziam os rumores.
Vi meu próprio reflexo no espelho. Meus olhos azuis quentes de repente brilharam com um tom opaco de vermelho, mas desapareceu tão rapidamente quanto apareceu. Rápido o suficiente para que Rella não tivesse notado.
Este era um segredo que ninguém sabia. Um segredo do qual tentei fugir após a noite proibida com o Alpha amaldiçoado. Uma noite que tenho vivido para me arrepender.
Eu havia fugido dele assim que amanheceu, antes mesmo que ele acordasse de seu sono, mas o destino traçou o mapa perfeito e o levou diretamente à porta da casa do meu pai, vindo reivindicar sua companheira.
"Eu já vou sair," limpei a garganta e finalmente respondi à minha querida meia-irmã.
"Como se você tivesse escolha?" Ela zombou. "Não deixe seu cavaleiro de armadura brilhante esperando."
Fiquei em silêncio. Não tinha palavras para ela.
"Pensando bem," Rella disse, se aproximando. "Ele é um ótimo partido. Sério. Vamos deixar a maldição de lado. Ele é um sonho!" Ela disse em um tom sedutor, quase como se eu fosse o Alpha Parthe e ela estivesse tentando me conquistar.
Sentei-me quieta, esperando que ela fosse embora logo. O brilho nos meus olhos aparecia com ainda mais frequência do que antes.
Eu precisava saber o que estava acontecendo comigo. Tinha que fazer minha pesquisa. Não conseguia me obrigar a perguntar ao Alpha Parthe.
O que eu diria? 'Alpha Parthe, meus olhos estão brilhando porque fomos íntimos?'
Isso é ridículo. Como se olhos brilhando fossem o efeito colateral de uma noite bem passada.
"Rella. Agora não," eu disse, tentando me levantar, mas ela me empurrou de volta na cadeira.
"Sente-se aqui, bruxa amaldiçoada!"
Isso não era novidade. Eu estava acostumada. A crueldade.
"Me diga, Luxuria, como se sente sabendo que Kahel finalmente será meu? Depois de todos os obstáculos que você superou para mantê-lo longe de mim..." As palavras de Rella se enrolaram no meu estômago, torcendo a faca onde ela sabia que doeria mais.
"Se isso te faz feliz, gostaria de ver você tentar," digo, levantando-me e passando por ela.
Se há uma coisa que todos odiavam em mim, era minha resiliência. Eu sinto a dor, como qualquer outra pessoa, mas não deixo que ela me derrube. Continuo em frente, sempre—porque a vida não para, e eu também não.
Antes de dar mais dois passos para longe dela, Rella me puxou pelo cabelo e deu um tapa ardido no meu rosto.
"Rella!" Eu gritei. Não era a primeira vez que ela me dava um tapa, mas hoje fui pega de surpresa. "Por que fez isso?"
"Nada. Apenas um presente de despedida," ela disse com uma risada, seus lábios finos se curvando para cima de um jeito que sempre a fazia parecer tão feia quanto um patinho.
Ela sempre se considerava muito. Se ao menos pudesse ver além daquele sorriso presunçoso para perceber o quão realmente feia ela era, talvez passasse mais tempo arrumando aquele cabelo loiro frisado e a pele rachada do que implicando comigo.
"Acredito que em algumas horas, esse espinho na sua carne vai desaparecer para sempre. Fico imaginando que outras coisas divertidas você terá que fazer para se entreter aqui na alcateia depois que eu me for." Com isso, saí pela porta, cerrando os punhos e impedindo as lágrimas de caírem.
Eu não podia deixar as lágrimas caírem. Não na frente de ninguém. E definitivamente não na frente de Rella. Ela não merecia vê-las.