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BALA DE CANHÃO 1.3

CLANK!

"Rosé ou tinto?" Ruby perguntou animada. Suas panturrilhas tremiam enquanto ela se esticava o máximo que podia para alcançar o armário mais alto da adega. O ambiente fresco fazia surgir arrepios em seus braços bronzeados.

Com um sorriso meio forçado, Olivia respondeu, "O que você achar que o resto vai gostar." A adega era sua parte favorita da casa de Ruby—e praticamente de qualquer mansão inspirada em antiguidades. Curiosamente, a mãe de Ruby insistira em construir a villa em Hampton com um layout vitoriano, o que a fazia se destacar como um polegar dolorido em meio à arquitetura modernista da costa—e exibir o interior dos sonhos de qualquer amante de história. Sempre que Olivia descia a escada rangente que levava às prateleiras de garrafas escuras dos Bennett, ela simplesmente congelava e ficava boquiaberta. Boquiaberta com o quanto cada parte do cômodo parecia ter saído direto de um conto de fadas medieval, e com o quão escuro o lugar podia ficar porque o arquiteto não se importava com a moda atual de paredes abertas. Se as luzes piscassem, Olivia imaginava que alguém poderia se perder no labirinto de líquidos envelhecidos.

Em seu devaneio, ela quase foi pega de surpresa quando Ruby apareceu em sua visão. Quase. Ela sabia que Ruby estava prestes a pressioná-la sobre o que aconteceu mais cedo, e já havia preparado sua expressão de aço com antecedência.

"Não deixe os jogos mentais da Evelyn te afetarem," Ruby suspirou, descansando uma mão no ombro de Olivia. "Ela sabe o que faz as pessoas perderem a cabeça. Se você der um centímetro, ela vai tomar um quilômetro—é tudo por diversão, claro, mas eu só não quero que você surte por causa disso."

Olivia franziu os lábios. "Francamente, você se preocupou à toa." Ela afastou a mão da amiga de seu ombro e se abaixou para um dos armários inferiores. "Hmm... isso é Chardonnay Blanc?"

Houve um silêncio tenso na sala por um momento—Olivia murmurava alguns rótulos de vinhos enquanto Ruby se mexia desconfortavelmente pelo cômodo. Olivia sabia que sua amiga estava ficando inquieta, e odiava não conseguir simplesmente calar a boca e deixar isso pra lá.

Ruby sempre precisava resolver um problema. Ela sempre precisava arrancar a verdade—mesmo quando Olivia não conseguia descrever suas próprias emoções, o pacote perfeito de habilidades empáticas de Ruby arrancaria as confissões mais sombrias de qualquer um.

Olivia não acreditava que Ruby tivesse feito algo errado. Ela se importava muito com seus amigos, e isso significava que não queria que nenhum rancor fosse semeado por baixo da superfície. Mas e se Olivia estivesse cansada de ter os mesmos fios puxados?

"...E, temos que admitir que a Evelyn sempre tem um pouco de verdade em seus métodos..." Ruby disse, hesitante.

Olivia segurou um suspiro. Lá vamos nós de novo. Ruby sabia sobre seus sentimentos pelo outro Hartford, e aparentemente a dica de uma paixão tinha que ser legitimada através de beijos ardentes sob uma palmeira.

"Eu não pedi conselhos," Olivia retrucou. Ela não costumava ser tão direta, mas a conversa estava ficando velha. Ela falaria com Liam quando estivesse pronta. Se estivesse pronta.

Ruby rebateu, "Ninguém gosta de ouvir que tem que fazer algo difícil, Liv. Eu sei que eu com certeza não gosto—mas vamos lá! Liv, você é bonita, é filha do casal mais rico dessa costa, e conhece o Liam há EEEONS. O que está te segurando?"

"Eu não sei, Ruby! Eu não sei de tudo e estou cansada de todo mundo agir como se eu tivesse que ser a Senhorita Perfeição só por causa da família em que nasci!" Olivia retrucou. Ela estava ofegante no minuto em que soltou seu desabafo. Era como se uma montanha de turbulência tivesse saído dela—e

Infelizmente para Ruby, ela foi pega diretamente na linha de fogo. Lentamente, Olivia recuperou a humildade em seu coração, murmurando, "Deus, me desculpe. Eu devo estar parecendo uma completa louca agora."

Ruby sorriu de forma tranquilizadora para Olivia. "Liv, todos nós temos nossos problemas para enfrentar. Eu sei que há tópicos que acho difíceis de falar—não consigo imaginar o que é lidar com uma grande paixão que faz parte do nosso grupo de amigos."

Suspirando, Olivia se encostou em um pilar marrom. A estrutura acentuava as paredes de tijolos e o piso de carvalho da adega. "Eu simplesmente não sei como lidar com isso. Tenho tentado reprimir esses sentimentos por anos, e agora estou correndo contra o tempo. Se eu não fizer algo até o final do verão, posso praticamente dar adeus a ter um futuro com Liam—não há como ele não estar cercado por dezenas de garotas lindas na faculdade."

"E álcool," Ruby apontou. Diante da expressão azeda de Olivia, ela gaguejou, "Muito cedo?"

"Não, você está certa. Cada segundo conta—e ainda assim, só consigo me esconder como uma covarde na frente dele. Não quero arruinar o que temos, mas ao mesmo tempo, não acho que vou conseguir encará-lo novamente se eu vir outra garota nos braços dele." Olivia queria bater a testa na parede. Ela era uma Sterling, pelo amor de Deus—a filha do homem apelidado de "rei do comércio eletrônico" e a imagem cuspida de uma supermodelo que virou designer de moda. Ela não tinha nada para chorar. Com seu status, o mundo era sua ostra.

Exceto que o amor não podia ser comprado. Olivia sabia disso. A realidade pairava sobre sua casa todos os dias, e sempre que ela encontrava os olhos de Liam, seu coração doía com a ameaça de que talvez nunca o fizesse sentir-se eufórico como outra garota poderia.

De repente, Ruby agarrou os pulsos de Olivia. "OOOO, eu tenho uma ideia! Que tal aquela fogueira de fim de verão que vocês sempre fazem!"

Olivia ficou tensa. "Você acha que eu deveria tentar confessar no último dia que estamos nos Hamptons?"

"Você estaria transformando algo novo em uma tradição antiga de amizade. Isso tornaria o momento extra especial, além de que as pessoas não estariam se intrometendo a cada esquina para fazer alguma piada ou qualquer coisa irritante que fazemos todos os dias." Ruby cruzou os braços, encostando-se em uma das prateleiras de vinho. "Vamos lá, Olivia. Você realmente vai deixar seus nervos atrapalharem uma oportunidade única na vida?"

"Eu..." Olivia olhou para os próprios pés. Ela se sentia boba parada na frente de Ruby como uma tola sem esperança. Garotas da sua idade deveriam respirar a linguagem da paquera—mas lá estava ela, mal confiante se poderia sequer competir com as garotas que Liam acabara de conhecer no ensino médio.

Ao longo de sua vida no internato, Olivia havia recebido confissões de muitos garotos. E ela nunca achou que nenhum deles parecia ou agia mal, por assim dizer—mas eles nunca acenderam uma faísca nela. Liam acendeu.

Mas ela não conseguia ser a Liv racional quando seu coração estava disparado a mil por hora. Ela não podia arriscar sua amizade com Liam para ganhar seu coração quando mal conseguia formar uma frase sempre que seus olhares se encontravam.

Ela não sabia o que fazer. Dar o primeiro passo não era seu forte. Ao mesmo tempo, fingir que não sentia nada estava longe de ser sua realidade atual...

No meio de seus pensamentos turbulentos, um estrondo alto ecoou pela sala.

"AHH!" Ruby gritou. Ela e Olivia taparam os ouvidos com as mãos enquanto o som de vidro quebrando perfurava o ar.

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