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Exilado

“Rápido, Maya, siga seus irmãos. Não se preocupe com o café da manhã que sobrou. Você pode comer quando voltar. Hoje vou preparar seu prato favorito para o jantar.” Minha mãe disse animada, enquanto me dava um tapinha no ombro, ao ver meus irmãos saírem da sala de jantar.

E mesmo que eu apreciasse o fato de que minha mãe cuidava de mim como ninguém, como eu poderia dizer que sempre caminhava até a escola todas as manhãs, apesar de entrar no mesmo carro que meus irmãos? Eu queria perguntar a ela quando eu teria meu próprio carro, mesmo que fosse uma caminhonete velha, já que eu já tinha mais de dezesseis anos, mas os olhares do meu pai me interromperam. Será que o velho sabia o que seus outros filhos estavam fazendo comigo? Ou ele sabia o que eu queria dizer? Eu não achava que sim. Lobisomens não leem mentes.

“Tá bom, mãe. Obrigada. Você é a melhor.” Consegui dizer, antes de pegar minha mochila que eu tinha deixado aos pés da minha cadeira antes de me sentar para comer alguns minutos atrás.

“Tudo bem então. Tenha um bom dia.” ela disse, dando um beijo na minha cabeça, me observando atentamente, um sorriso nos lábios, enquanto eu me levantava da cadeira e saía da sala de jantar em direção à porta da cozinha. Era mais fácil e rápido chegar à garagem por ali do que passar pela sala de estar até o lado de fora.

Quando cheguei lá fora, vi que o carro da minha irmã ainda estava na garagem. Mas é claro que ela esperaria, embora eu soubesse que ela preferiria acelerar junto com meu irmão. Ela só esperava para não se meter em encrenca com minha mãe. Esse era o único motivo, já que ela adorava fazer qualquer coisa para ficar bem na fita com a mamãe, mesmo que isso significasse me pintar como suja e má na frente da mulher. Azar o dela que a mãe não era tão míope quanto nosso velho, que literalmente adorava o chão que ela pisava.

“Vai ficar aí parada, troll?” Ouvi ela perguntar da janela do banco do motorista e suspirei. Eu queria, pela primeira vez, me impor e dar uma resposta atravessada, e depois sair andando do carro, já que ela ainda me deixaria no meio do caminho para a escola assim que tivesse certeza de que estávamos fora da vista da nossa casa – para que eu não sujasse sua reputação, segundo ela.

Mas se eu seguisse com meus planos, a mãe não ficaria feliz. E é nisso que ela e meu irmão, seu gêmeo, prosperavam e capitalizavam, no fato de que eu preferia engolir os insultos deles a ofender minha mãe.

“Sua porta está trancada.” Eu disse, num tom entediado, apontando para o objeto em questão.

“Está aberta, cabeçuda. Verifica e para de reclamar. Não tenho o dia todo para conversar com você. Você não vale o meu tempo.” Ela mencionou, estourando o chiclete na boca, com o rosto fixado na janela lateral do carro ao seu lado.

Suspirei e tentei abrir a porta, mas estava trancada, como eu tinha pensado, como sempre estava todas as manhãs. Era agora um ritual, para me fazer parecer uma idiota antes de entrar no carro dela.

“Ah, desculpa, querida...” Ela disse com uma voz aguda, que irritava meus nervos. “Parece que esqueci. Pode tentar agora.” Ela bateu na aba de abertura, sorrindo maliciosamente para mim.

Demônio. Xinguei, antes de abrir a porta e entrar no carro.

“Hoje, não vou te deixar no lugar de sempre. Preciso pegar uma amiga, e tenho certeza de que ela não vai gostar de ficar no mesmo carro que você. Entendeu?” ela disse, assim que me acomodei no banco e fechei a porta do carro.

“Sim, só anda logo. Já estou atrasada para a aula.” Eu disse antes que pudesse me conter. O silêncio que se seguiu no carro depois da minha declaração me deu arrepios. Nunca tinha falado com Lilian daquele jeito, porque temia pela minha vida e sanidade. Não sabia o que me levou a falar assim, já que estava acostumada com a hostilidade dela, mas desejei poder voltar atrás.

“Você acabou de falar comigo assim?” Lilian perguntou, puxando minha orelha antes que eu pudesse sequer responder à pergunta dela, não que eu tivesse algo a dizer.

“Desculpa. Estou apenas estressada ultimamente. Desculpa.” Eu repeti. Exalei aliviada no segundo seguinte quando ela soltou minha orelha. Mas o próximo movimento dela me deixou em choque, eu não tinha visto o tapa vindo e, quando ele acertou minha bochecha esquerda, fiquei estupefata, sem acreditar na virada dos acontecimentos.

“Não me importa o que você está passando. Nunca fale comigo desse jeito, ou então, vou fazer da sua vida na escola um inferno, mais do que já é.” ela afirmou, antes de se virar e ligar o carro.

Eu queria me encolher como uma bola e chorar. Mas não queria fazer isso na frente de Lilian. Ela poderia gritar que eu estava manchando o banco dela com minhas lágrimas sujas. Já tinha tido drama suficiente dela por um dia, então, virando para a minha janela, respirei fundo, tentando manter a lágrima de frustração guardada e não me humilhar ainda mais.

Felizmente, o ar estava limpo como de costume, e continuei respirando fundo e soltando o ar para tentar me manter sob algum tipo de controle. Seja lá o que fosse. Era mais um dia infernal na escola e eu tinha que estar preparada para isso.

A viagem não tinha durado nem cinco minutos quando Lilian parou o carro e me mandou sair.

“Vou pegar minha amiga no próximo cruzamento.” ela disse sem emoção.

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