




Capítulo 2: A agonia de Leonardo
Angela ficou surpresa com essa revelação chocante. Enquanto o olhava, um turbilhão de confusão tomou conta de seus pensamentos. Embora fosse simples para ela apertar o gatilho e acabar com a vida dele, faltava-lhe coragem para tirar a vida de um homem cego. Sua mente ficou enredada em uma teia de incertezas. O que havia acontecido com esse homem maligno?
A voz de Leo tremia de desespero. "Quem puder me matar será recompensado."
"Meu Deus, Leo, suicídio é um pecado imperdoável aos olhos de Deus," tentou argumentar a Sra. Gale. Ela explicou que o suicídio leva à condenação. No entanto, Leonardo estava tão destruído que não conseguia mais ouvir o evangelho. Angela ficou sem palavras diante do inesperado desenrolar dos acontecimentos.
"Não existe Deus, Sra. Gale, pois se Deus realmente existisse, ele nunca permitiria que isso me acontecesse!"
"Os ímpios devem enfrentar a retribuição!" exclamou Angela, sua voz transbordando de justa indignação. "Talvez seus olhos tenham se tornado as janelas de todos os seus pecados, e eles devem ser fechados para trazer-lhe justiça!" Finalmente, sua dor e raiva encontraram uma saída sem recorrer a uma arma de fogo. Ela estava fervendo, provocada pelo comportamento blasfemo desse homem cego.
"E quem você pensa que é para falar comigo dessa maneira?" Leonardo rosnou.
"Eu sou Angela, sua nova cuidadora," declarou Angela firmemente.
"Minha nova cuidadora?" Leo zombou sarcasticamente. Ele olhou com desdém para a empregada idosa. "Quantas cuidadoras minha mãe já contratou, Sra. Gale?" ele perguntou.
A Sra. Gale respondeu educadamente, "Angela seria a oitava cuidadora, Leo."
"Você é a oitava cuidadora, e está demitida!" Leo sibilou.
O surto e a raiva de Leonardo alimentaram o desejo de Angela de acabar com ele, mas retaliar contra suas palavras venenosas lhe deu uma pequena abertura para liberar sua fúria. Ela gritou de volta para ele:
"Sim, eu sou a oitava, e você não pode me demitir," Angela afirmou calmamente, sua voz resoluta. "Sua mãe é minha empregadora, Sr. Vera. Ela me contratou, o que significa que ela é a única autoridade para encerrar meu emprego. Está claro?"
"Você... vadia!" ele gritou em frustração.
"Meu nome é Angela Brinson, não 'Vadia', e eu sou sua nova enfermeira, goste você ou não." Os olhos de Angela brilhavam com determinação, recusando-se a recuar.
"E assim, você declarou guerra contra mim," Leo cuspiu asperamente.
"Então que seja," Angela ousou desafiá-lo, inabalável em sua determinação.
A raiva de Leo aumentou, compelindo-o a fazer um movimento para machucá-la, mas Angela rapidamente evitou o ataque agressivo de Leonardo. Desesperado para agarrá-la, a frustração de Leonardo encontrou uma saída enquanto ele repetidamente socava a parede com os punhos. "Eu vou te matar!" ele rosnou entre dentes cerrados.
"Se você conseguir me pegar," Angela deu um passo para trás e retrucou, "Deixe-me deixar algo claro. Eu precisava deste emprego, e ninguém pode tirá-lo de mim. E como sua enfermeira, devo cumprir minhas responsabilidades e manter esta posição."
"Eu sou o chefe aqui, e tenho o poder de demiti-la," Leonardo fervia de raiva, aproximando-se de Angela.
"Não mais," Angela interveio. "Nenhuma pessoa cega pode navegar pela vida sem a assistência dos outros." Ela sabia exatamente como feri-lo. Seu ego foi perfurado enquanto ela destacava sua impotência e o estado desleixado de sua barba por fazer, camisa suja e calças.
"Eu vou te matar!" Leonardo se levantou e deu dois passos ameaçadores para frente, suas costas contra a parede.
O rosto de Angela ficou pálido com uma mistura de raiva e angústia enquanto uma vozinha em sua cabeça a instigava a acabar com a vida dele. Lembrava-lhe que esse homem cego era o assassino de sua irmã. Tremendo, ela contemplou pegar sua arma, mas algo a impediu de recorrer a medidas tão drásticas. Em vez disso, ela respirou fundo, recuperando o controle de suas emoções. "Você não vale a pena," ela disse calmamente. "Não vou gastar minha energia com alguém que não merece um pingo de respeito."
Assustado pelo som de sua voz, Leonardo avançou, mas Angela rapidamente se esquivou, fazendo-o cair no chão, sua cabeça colidindo com a parede.
Angela ficou ereta, seus olhos queimando de intensidade. "Você colhe o que planta, Leonardo," ela cuspiu.
"Leonardo!" exclamou a Sra. Gale, correndo para ajudá-lo enquanto Angela permanecia imóvel.
"Saia! Desapareça!" ele gritou para Angela, empurrando a Sra. Gale para o lado.
Angela deu um passo para trás, recompondo-se. "Tudo bem, todos nós precisamos descansar um pouco, então vou sair por um tempo," ela comentou despreocupadamente.
"Nunca, jamais, volte!" Leonardo vociferou.
"Claro que voltarei; devo assisti-lo," Angela respondeu firmemente. Ela saiu rapidamente do quarto, encostando-se na parede enquanto ofegava, seu coração acelerado.
Os gritos de Leonardo ainda ecoavam de dentro do quarto.
Recuperando a compostura, Angela saiu da casa e notou a Sra. Vera sentada solenemente no balanço no quintal, lágrimas escorrendo pelo rosto. Angela se aproximou dela, fazendo um breve contato visual antes de pigarrear.
"Desculpe pelo caos que meu filho causou, Angela," a Sra. Vera falou suavemente enquanto Angela parava perto dela.
"Está tudo bem, senhora," Angela suspirou, oferecendo um sorriso simpático.
"Eu sei que a raiva e o comportamento autodestrutivo dele devem assustá-la. É só que ele não consegue aceitar o fato de que agora está cego. E quem poderia culpá-lo, crescendo como um artista feliz e renomado?" A Sra. Vera suspirou, seu olhar fixo nas casas abaixo. A mansão estava lindamente situada na colina, com vista para a cidade.
Angela não tinha palavras que pudessem aliviar a dor da Sra. Vera. Sentia um desejo genuíno de ouvir a história deles em vez de proferir platitudes vazias. Então, a besta era um artista, ela refletiu silenciosamente.
"Leonardo era bem conhecido por suas pinturas abstratas e de paisagens. O estúdio dele fica atrás daquelas árvores bem aparadas ali," disse a Sra. Vera, apontando para um grupo de árvores atrás da mansão, onde uma pequena casa com telhado vermelho espreitava entre as várias árvores frutíferas.
"Leonardo costumava pintar incansavelmente. Mas depois do acidente, o sonho dele de ter a maior galeria em todos os shoppings desapareceu," continuou a Sra. Vera.
"Posso perguntar o que aconteceu, Sra. Vera?" Angela perguntou gentilmente.
"Ele foi vítima de um atropelamento," sussurrou a Sra. Vera, com lágrimas brotando. "E esse incidente o transformou em uma bomba-relógio ambulante, pronta para explodir sempre que encontrasse um meio de acabar com a própria vida."
Angela ouviu atentamente cada palavra dita pela mãe de Leonardo. A Sra. Vera era uma boa mãe, mas parecia alheia à verdadeira natureza de seu filho. Dúvidas começaram a surgir na mente de Angela, questionando se deveria reconsiderar aceitar o emprego.
"Você acabou de me contratar, e eu realmente preciso deste emprego," Angela respondeu com um sorriso tranquilizador. Um pensamento surgiu nas profundezas de sua mente. "Posso ir para casa buscar minhas coisas, senhora?"
"Claro," o rosto da Sra. Vera se iluminou, um largo sorriso adornando suas feições. "Tome seu tempo. Estaremos ansiosos esperando seu retorno. E, por favor, volte."
De pé diante do túmulo de sua irmã no cemitério, Angela sentiu uma onda de emoções enquanto memórias inundavam sua mente. Ela ansiava por compartilhar com sua irmã sobre seu recente encontro com o assassino. "Ele está cego agora, mana," ela sussurrou, "e eu poderia acabar com ele a qualquer momento que eu quisesse. Mas primeiro, ele tem que sofrer como fez você sofrer."
Angela não pôde deixar de pensar nas doces lembranças de sua irmã mais nova, que sempre foi vulnerável e precisava de proteção. Como irmã mais velha, Angela sentia que era seu dever defender sua irmã, mesmo que isso significasse se meter em encrenca com os garotos. A mãe delas sempre lembrava que eram irmãs nascidas da mesma mãe e que deveriam se amar e apoiar, mesmo na ausência dela.
Esper sempre sonhou em se tornar comissária de bordo, viajar pelo mundo e comprar uma mansão para a família. Ela até planejava se casar com um médico para garantir a saúde delas e da amada mãe. No entanto, quando a mãe delas faleceu de câncer, todas as aspirações desapareceram no ar.
A vida de Angela e Esper foi jogada no caos quando se tornaram órfãs. Angela tinha doze anos e Esper tinha dez na época. Apesar das dificuldades, Angela se recusou a desistir da educação e trabalhou duro para alcançar seus objetivos. Ela começou como estudante trabalhadora em uma clínica de um dos amigos médicos de sua mãe e, eventualmente, tornou-se uma enfermeira certificada. Com o apoio de Angela, Esper frequentou a faculdade e sonhava em ter um casamento duplo com sua irmã.
Para apoiar a educação universitária de Esper, Angela se candidatou a um trabalho no exterior e foi bem-sucedida. Embora a separação fosse difícil, Angela prometeu estar em casa para os aniversários de Esper e cumpriu sua palavra. Infelizmente, a vida de Esper foi interrompida por um homem, e Angela ficou devastada com sua perda. O homem que causou o sofrimento de sua irmã pagaria pelo que fez, assim como Esper pagou antes de sua morte prematura.
Lágrimas escorriam pelo rosto de Angela, embaçando sua visão. "Eu tenho que ir, Esper. O inimigo está me esperando," ela murmurou enquanto enxugava as lágrimas.
Mais tarde naquela tarde, Angela chegou à mansão dos Vera com uma pequena mala a reboque. Ela não trouxe todos os seus pertences, pois não planejava ficar muito tempo na mansão do inimigo. A Sra. Vera a recebeu calorosamente, dizendo: "Obrigada por voltar, Angela."
"De nada, Sra. Vera," Angela respondeu, sua voz mal acima de um sussurro.
A Sra. Vera então se virou para a Sra. Gale e disse: "Por favor, leve Angela para o quarto dela e dê uma volta pela casa e pelos terrenos."
Poucos minutos depois, Angela se viu de pé no estúdio de Leonardo, que era pintado inteiramente de preto.
"Este é o estúdio de Leonardo, Angela," disse a Sra. Gale.
"Obrigada, Sra. Gale," Angela respondeu. "Por favor, me chame de Angela. É mais confortável para mim."
"Claro, Angela. Este é o lugar onde Leonardo trabalhava em suas pinturas e outras obras de arte. Ele nunca permitiu que ninguém entrasse sem sua permissão."
A mansão estava situada na beira de um penhasco, com uma varanda que dava para um desfiladeiro profundo cheio de grandes árvores. O estúdio ficava a uma curta distância da residência principal dos Vera. A Sra. Gale continuou, "Este lugar é simplesmente deslumbrante, um dos mais belos que já vi."
Enquanto a Sra. Gale continuava o tour, Angela se pegou prestando pouca atenção. Em vez disso, seus pensamentos estavam consumidos por Leonardo Vera e seu último surto, que ecoava pela casa.
"Vá embora e não volte!" A voz de Leonardo soou de algum lugar dentro da casa.
"Talvez Lara esteja aqui," murmurou a Sra. Gale.
"Quem é Lara para o Sr. Vera?" Angela perguntou.
"Lara é a namorada de Leonardo," respondeu a Sra. Gale.
Angela franziu a testa ao saber que Leonardo tinha uma namorada. Então esta é a mulher que o afastou da minha irmã, pensou consigo mesma. "Gostaria de conhecê-la, Sra. Gale," disse em voz alta.