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2: A preocupação do pai

O tempo havia passado rapidamente desde a entrevista. O céu já havia perdido o último raio de sol e estava agora completamente negro. Apenas as estrelas revelavam que ainda era o céu, e não uma manta preta cobrindo o planeta. A lua estava em seu auge. O tráfego noturno de Nova York era catastrófico como sempre. O constante buzinar e algumas trocas verbais obscenas ocasionais anunciavam a vida apressada e frenética da cidade. De vez em quando, o trânsito parava completamente e não se movia por um tempo. Os motoristas de táxi e Uber não se importavam. As outras pessoas tinham expressões que gritavam: "Tenho lugares para ir!". As enormes telas montadas nos prédios exibiam anúncios em cores psicodélicas. Os turistas capturavam cada momento na cidade sempre movimentada em selfies. Sophie caminhava por um tempo, aproveitando e absorvendo o caos ao seu redor. Ela não estava acostumada a ambientes tão animados. Sabia que era esperada em casa a essa hora, mas não estava com pressa. Na verdade, não estava particularmente animada para ir para casa tão cedo. O único motivo pelo qual planejava voltar para casa era porque não tinha alternativa. Passou o dia inteiro andando pelos arranha-céus, observando os nova-iorquinos em seu elemento. No fundo, queria passar a noite na rua, mas escolheu evitar a bronca que seu pai era conhecido por dar. Sophie caminhou por mais uma hora e aproveitou a atmosfera antes de voltar para casa.

A casa era um par de suítes reservadas por duas semanas em um hotel de luxo. A equipe do hotel adorava a família de hóspedes por conta das gorjetas generosas e da ótima etiqueta que deixava muito pouco a ser feito pelo serviço de quarto. Sophie chegou de táxi e desceu do veículo a uns trinta metros do portão do hotel. Ao se aproximar do portão, foi recebida por um porteiro. O manobrista quase queimou os olhos tentando localizar o carro em que ela havia chegado, mas não conseguiu. A decoração dourada do exterior era impossível de não gostar. Ela passou pela extravagante porta giratória e chegou ao interior, que era uma obra-prima de genialidade arquitetônica. Um enorme lustre de vidro a recebeu no centro da sala. Ela passou pela porta à sua esquerda e chegou ao saguão do hotel, onde meia dúzia de outros lustres pendiam majestosamente. O saguão era uma obra de arte. Nada parecia fora do lugar, nem nada parecia exagerado. A parede de champanhe parecia saída de um filme. Sophie adorava cada centímetro do hotel. A obra de arte italiana no teto da escadaria era tão hipnotizante que era difícil absorver tudo em uma única visita. Quanto mais beleza ela testemunhava, mais lutava contra a ideia de que não merecia nada daquilo. Rapidamente saiu desse pensamento e foi para os elevadores, que não eram de forma alguma menos ornamentados que o resto do hotel.

Ela chegou ao seu andar, em frente à sua suíte. Usou o cartão-chave e entrou. Sophie podia ouvir seu pai tendo uma discussão alta e acalorada ao telefone. "Droga!", sussurrou para si mesma. Ela escutou por um minuto para descobrir se a discussão era sobre ela. Não era. Ele não deveria estar na suíte dela, mas sua presença indicava que ele estava preocupado. Ela foi na ponta dos pés para o seu quarto, mas encontrou sua mãe no caminho.

"Oi! Você está em casa!", exclamou ela enquanto colocava o romance que estava lendo de lado, e Sophie fez uma careta. Ela ouviu seu pai pausar por um momento e concluir sua conversa ao telefone dizendo: "Eu volto a falar com você". Sophie sabia que agora estava encrencada. Ele surgiu do quarto dela, ainda com o telefone na mão. Ele não queria desperdiçar palavras. Apenas olhou para Sophie, esperando que ela respondesse ao seu silêncio. Ele tinha um metro e oitenta e usava um terno azul-marinho que de forma alguma parecia barato. Um relógio Rolex caro, mas elegante, espiava por baixo dos punhos do casaco. Ele estava na casa dos quarenta, mas parecia mais velho. Tinha cabelos pretos com costeletas brancas. Havia silêncio na sala.

"Vamos, Mike, dá um tempo para ela. Ela tem dezoito anos agora, pelo amor de Deus. Você não pode tratá-la como uma criança para sempre", a mãe de Sophie quebrou o silêncio. Mike ficou ali em silêncio, esperando que Sophie respondesse. Sophie não estava com medo ou nervosa. Mike nem era do tipo assustador. Nem mesmo seus funcionários tinham medo dele. Ele governava pelo respeito. Ela simplesmente não queria ter essa conversa. A resposta nunca veio.

"Quantas vezes...", Mike estava prestes a perguntar quando Sophie o interrompeu, "Eu estava na casa de uma amiga". Mike deu-lhe um olhar estranho e soltou, "Desde quando...", sua pergunta foi interrompida novamente, "Eu fiz algumas novas", acrescentou Sophie. Mike olhou para o lado e colocou a mão na testa. O silêncio dominou a sala novamente. Mike se aproximou lentamente de Sophie e disse suavemente, "Minha querida, é para sua própria segurança". Sua mãe interveio, "Estamos aqui por apenas alguns dias, então talvez ela possa fazer um pouco de turismo?".

"Mas Grace, ela estava sozinha!", exclamou Mike. Sophie estava prestes a falar sobre esses novos amigos. Mike viu isso em seus olhos e respondeu, "Ah, vamos lá, você fez um amigo em dezoito anos e 'alguns novos' em horas? Eu preferiria acreditar em unicórnios". Sophie não estava fazendo contato visual com seu pai. Mike também não estava se sentindo particularmente bem com a troca.

"Tá bom! Tá bom! Só traga seus amigos da próxima vez", ele cedeu.

"Estou cansada, vou dormir", ela disse abruptamente e foi para o quarto.

Mike e Grace ficaram sozinhos e entenderam que era a deixa para saírem da suíte dela e voltarem para a deles. Mike se livrou de sua roupa formal e foi para a cama. Grace havia escolhido um filme para a noite, como de costume. Eles apagaram as luzes, sentaram-se na cama e prepararam aquele filme específico. Quando estavam prestes a começar, Grace mudou de ideia. Mike não se importou, o pôster do título parecia infantil demais e a mudança deu-lhe mais tempo de lazer com sua amada esposa. Ela navegou pelas opções e rejeitou todas, encontrando algum motivo para cada uma delas. Já havia passado uma hora. O quarto estava iluminado pela TV, que mudava de cor como um camaleão. "Querida?", Mike chamou suavemente sua atenção. "Sim", respondeu Grace sem tirar os olhos da tela da TV. A maior parte de sua mente ainda estava navegando pelas milhões de opções.

"Eu sou muito duro com ela?", perguntou Mike. Grace não esperava tal conversa, então a pergunta a chocou. Ela se virou para vê-lo e encontrou-o olhando diretamente em seus olhos, exigindo uma resposta honesta. Ela não tinha certeza de como responder.

"Eu não te culpo", respondeu ela, e Mike pareceu satisfeito. Mike teria afrouxado a rédea se ela tivesse pedido, mas ela nunca pediu. Ela confiava no julgamento do marido. Mas era hora de soltar a rédea, ou ela se quebraria. Não era uma questão de como, mas de quando. Grace sabia que rédeas quebradas deixam cicatrizes em ambos os lados. Ela estava procurando maneiras de libertar Sophie, mas não tinha certeza de quando deixar Mike a par do plano. Ele não iria gostar, mas era inevitável, e ela confiava que ele entenderia quando chegasse a hora.

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