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1: O avarento e as escadas

"Eu sei que não deveria dizer isso, mas você preenche todos os requisitos", disse o Sr. Lawson sem levantar os olhos enquanto ajustava os óculos para ler melhor os documentos. Sophie quase corou, mas conseguiu manter uma expressão séria. Ela apenas assentiu, meio se perguntando se isso seria considerado um gesto rude. Não foi. O entrevistador era um aposentado reverenciado da empresa, que o dono queria manter o máximo possível, então lhe ofereceu um trabalho temporário. Ele estava na casa dos setenta anos, tinha menos de um metro e meio de altura e usava um traje formal simples, junto com suspensórios e uma gravata borboleta. Era um homem rechonchudo, de rosto limpo e cabelo completamente branco. A sinceridade e competência do homem eram incomparáveis. Impressionar genuinamente um homem como ele não era brincadeira. Ela era exatamente o que o anúncio pedia. Em alguns casos, ela era até superqualificada. Depois de um longo olhar para os papéis, o entrevistador tirou os óculos e descansou o queixo nas mãos apoiadas nos cotovelos sobre a mesa.

"Alguma outra coisa que não pôde ser colocada nesse papel?", perguntou o entrevistador. Sophie olhou para o ar por um momento e respondeu, "Estou sempre participando de algum tipo de curso de treinamento profissional, então só mencionei os relevantes". O Sr. Lawson ficou ainda mais impressionado. Ele suspirou e fechou a pasta que Sophie havia oferecido. Ele a empurrou para frente e falou, "Ok, tudo está em ordem. Agora uma pergunta que é mera formalidade", ele se recostou na cadeira e acrescentou, "Por que você acha que é adequada para o trabalho?". Sophie havia praticado as falas tantas vezes que não poderia errar essa.

"Minha família sempre dizia que não havia como me fazer perder a calma, então decidi tentar o atendimento ao cliente para aproveitar essa habilidade", respondeu Sophie com um sorriso. O sorriso foi retribuído por Lawson, que perguntou se poderia fazer uma pergunta pessoal. Sophie assentiu. "Se você não se importa de eu perguntar, este não é seu primeiro emprego?", Lawson falou. Ele estava além das formalidades naquele ponto. O acordo estava fechado, então ele recorreu a uma conversa informal para passar o tempo. Sophie assentiu novamente. "Então como diabos você é tão experiente?", Lawson não pôde deixar de perguntar. Sophie sorriu e respondeu, "Primeiro emprego, mas um monte de entrevistas fracassadas". Lawson teria socado a pessoa que a rejeitou, e ela pôde ver isso em seu rosto, então acrescentou, "Mirei alto demais". Lawson riu e Sophie se sentiu envergonhada.

"Você sabe, meu pai costumava me contar uma história. Não me lembro da moral dela, então me aproveito de qualquer coisa que posso", disse o entrevistador, e Sophie ouviu atentamente. "Um avarento estava batendo no filho. Um transeunte viu e perguntou o motivo. O avarento disse que o filho havia quebrado seus sapatos novos. No dia seguinte, o avarento estava batendo no garoto novamente. O mesmo transeunte viu e não pôde deixar de perguntar novamente. O avarento disse: 'Comprei sapatos novos para ele e disse para subir dois degraus de cada vez para reduzir o uso', o transeunte ficou perplexo, então o avarento acrescentou: 'esse idiota rasgou as calças tentando subir quatro de uma vez'". Lawson mal conseguiu terminar a piada com sua risada descontrolada. Sophie achou difícil rir em concordância. A piada era pelo menos uma geração mais velha que ela, mas ela conhecia algumas pessoas que fariam isso. Quando finalmente recuperou o controle de si mesmo, Lawson explicou, "Eu tiro muitos significados diferentes disso, dependendo da situação, mas agora, isso diz para você dar um passo de cada vez para preservar sua dignidade".

Sophie não esperava um ambiente tão amigável, mas não estava reclamando. O Sr. Lawson fez um gesto para que ela pegasse seu currículo e disse para esperar uma ligação da empresa. Sophie entendeu que o gesto significava que a conversa havia chegado ao fim. Ela pegou seus pertences da mesa e caminhou até a porta.

"Eu não sou daqueles que vendem mensagens gravadas. Quando digo que uma ligação está vindo, você pode contar com isso", acrescentou Lawson por trás dela. Ela se virou para oferecer um aceno de agradecimento, mas o viu arrumando suas coisas. Ela provavelmente tinha sido a última da lista ou ele havia concluído que não havia necessidade de mais candidatos. Ela saiu do escritório.

Sophie saiu do prédio e se viu cercada por trabalhadores de escritório tagarelando em seus fones de ouvido. Era como uma debandada. Sophie era loira, tinha um metro e meio de altura e usava um terno preto sobre uma camisa branca. A roupa combinava com seu cabelo loiro, longo e liso. Nova York estava sendo tão implacável quanto colorida. As pessoas que esbarravam umas nas outras não se preocupavam com desculpas, nem as pessoas que recebiam os esbarrões esperavam por elas. Era uma norma. As pessoas na rua não se reconheciam. Ternos pretos preenchiam a vista. Estavam consumidos por seus trabalhos, ações e negócios. A própria Sophie parecia fazer parte do cenário por causa da roupa típica de advogada que escolheu para a entrevista. Até os cafés estavam lotados de homens e mulheres fazendo chamadas de vídeo em seus laptops caros. Sophie decidiu que, se quisesse um minuto de paz, seria em qualquer lugar, menos ali. Pensando no lugar de paz, percebeu que seu telefone estava no silencioso há três horas. Quando procurou no bolso da bolsa, encontrou o que temia: "15 chamadas perdidas". Ela sabia exatamente quem estava por trás delas. Quatorze eram de sua mãe e uma de sua melhor amiga Chloe. Ela decidiu retornar a ligação, mas sua mãe não deixou necessidade para isso. Assim que Sophie estava prestes a fazer a ligação, sua mãe a superou. O telefone vibrou e a foto extravagante de sua mãe do último aniversário de Sophie apareceu.

"Olá, querida! Eu estava preocupada. Por que você não atendeu o telefone?", a mãe de Sophie começou a falar assim que Sophie tocou no botão verde. O massacre continuou por alguns minutos até que ela finalmente desabafou todo o vapor das quatorze chamadas perdidas.

"Eu tive uma entrevista, lembra?", respondeu Sophie assim que encontrou uma breve pausa na bronca. "Claro que lembro, mas...", sua mãe estava prestes a retrucar quando Sophie interveio, "Eu deveria atender seu telefone durante a entrevista?", Sophie retrucou. Houve uma breve pausa. "Mas ele teria entendido!", sua mãe deu o golpe final que não poderia ser contrariado e Sophie pensou consigo mesma, por que ela se deu ao trabalho de explicar?

"Então, como foi?", sua mãe perguntou abruptamente. O estômago de Sophie estava roncando como um leão. Ela procurou com os olhos por qualquer comida de rua nas proximidades. "Eles disseram que vão ligar", respondeu Sophie.

"Oh... Não é uma maneira agradável de dizer 'cai fora'?", sua mãe respondeu suavemente. Sophie caminhou pela multidão de zumbis bem vestidos. Ela fez um sinal para um vendedor de cachorro-quente preparar um enquanto segurava o telefone com o ombro e usava a mão livre para pegar um dólar do bolso do casaco. "Não, desta vez parece diferente", disse Sophie. Havia uma série de sons do outro lado. Sophie podia imaginar os diferentes tipos de rotinas de dança que sua mãe estava fazendo. "Só não espalhe a notícia ainda! Espere até estar no papel", disse Sophie assim que sentiu sua mãe voltar à terra. Ela conhecia sua mãe, então esperava ouvir tudo sobre isso de seus parentes uma hora depois. O cachorro-quente estava pronto. Houve uma breve pausa.

"Você contou ao seu pai?", sua mãe perguntou hesitante. Sophie sabia que a pergunta estava vindo. Ela estava planejando usar a desculpa "estava muito ocupada para ligar para alguém", mas tinha esgotado essa opção ao retornar a ligação para sua mãe. A incapacidade de sua mãe de guardar segredos tornaria as coisas piores se Sophie não desse a notícia primeiro. "Ele está em casa?", Sophie perguntou suavemente e deu uma mordida no cachorro-quente.

"Outra daquelas malditas reuniões", sua mãe respondeu com um suspiro. Isso deu a Sophie uma desculpa ainda melhor.

"Vou avisá-lo quando voltar", disse ela e ambas sabiam que isso concluía a ligação. Ela ficou parada por alguns minutos e aproveitou o cachorro-quente. Ela mandou uma mensagem para Chloe, "Consegui!!!".

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