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3.O amanhã não espera pelos inimigos

Dentro de uma tenda banhada pelo luar que lentamente se livrava das nuvens negras, duas vozes femininas conversavam com uma tensão palpável.

  • Chegou a hora - disse a garota de olhos negros e semblante sereno apesar da situação, mas não se podia ver muito além do lado de seu rosto branco com um tom acinzentado, sua boca sensual, seu nariz teimoso, seus olhos negros, assim como as mechas de cabelo que caíam ao lado de seu pescoço alvo.

  • Sim, - disse a outra mulher ao seu lado, também mostrando parte de seu rosto onde o que brilhava mais à luz eram seus olhos verde-claros bem delineados com kajal e o cabelo preto enrolado em torno do que seriam pedras coloridas ao lado de seu pescoço, onde correntes o adornavam. Júlio César persegue seus alvos implacavelmente sem dar trégua.

A garota, que parecia muito mais jovem que a mulher, suspirou enquanto dizia - Eu sei bem - e olhou-a nos olhos - ele não vai desistir de Soraia até tê-la para si.

  • Mi hijo tampoco (meu filho muito menos).

Soraia e Amy já estavam em casa, no elegante quarto de Soraia, com móveis de madeira vermelha e branca, vidro e flores no mesmo tom. Soraia estava usando uma calcinha fio dental vermelha em frente a um espelho de corpo inteiro na parte interna de uma das portas do guarda-roupa, escolhendo um suéter enquanto ouvia Sepultura.

De repente, dentro do espelho, uma fumaça branca apareceu e gradualmente tomou a forma de uma bela garota com longos cabelos cacheados negros e grandes olhos negros tristes, vestindo um longo vestido branco com um generoso decote.

Soraia estava tão envolvida em seu roupão que não notou o 'fantasma' dentro do espelho até que...

  • Soraia - chamou em um sussurro que ecoou, e então Soraia pulou, tremendo da cabeça aos pés, e gritou, seus olhos tão negros quanto os que a encaravam de volta.

Os suéteres que Soraia estava segurando caíram aos seus pés e ela estava tão assustada que demorou um pouco para perceber que estava nua da cintura para cima, então rapidamente cobriu os seios.

A garota é uma velha conhecida nossa que atende pelo nome de Miranda. Ela foi a companheira de Júlio César, a primeira vampira transformada não pelo morcego, mas pelo homem.

  • Não tenha medo. Eu só quero te ajudar.

Soraia parecia uma estátua, sem movimento, sem voz, e até seus olhos estavam imóveis, encarando a coisa dentro do espelho... e falando... com ela.

QUE HORROR!

  • Escute-me com atenção. Fique. Longe. De Júlio César.

Lágrimas começaram a rolar dos olhos de Soraia enquanto ela rezava para que Amy saísse logo do banho para beliscá-la e fazê-la acordar daquele pesadelo.

  • A morte é a companheira de Júlio César - continuou Miranda, mas Soraia podia ouvi-la no fundo de sua mente:

  • Não se deixe levar pelo seu charme.

As pernas de Soraia não conseguiam mais suportar o peso de seu corpo e, entre lágrimas e balançando a cabeça, ela caiu no chão.

O que, em nome de Deus, é essa coisa dentro do meu espelho? Eu nunca acreditei em fantasmas, mas o que é então?

De repente, a porta do banheiro se abriu e uma Amy envolta em uma toalha rosa escura felpuda saiu cantarolando.

Miranda então disse - Eu não vou te abandonar - e desapareceu na fumaça como se nada tivesse estado ali.

Amy se assustou ao ver sua amiga de joelhos chorando e correu para seu lado perguntando o que havia acontecido, mas Soraia apenas pediu - Me abraça - e assim ela fez, acariciando o cabelo da amiga e olhando ao redor desconfiada.

Na floresta, entre as sombras, os belos olhos verdes do estranho brilhavam e agora ele estava sem a máscara, mostrando seu rosto esculpido por Deus com aquela boca linda desenhada milímetro por milímetro, o queixo forte com uma barba fina e o cabelo castanho-claro iluminado pela lua com mechas teimosas ondulando em sua testa.

  • ¿Qué provocas en mí, Soraia? (O que você provoca em mim, Soraia?) - perguntou ele enquanto olhava para o pouco do rosto da lua que se infiltrava pelas folhas das palmeiras, ah, e com aquele profundo sotaque espanhol...

De repente, um ruído diferente do usual para os ouvidos de sua espécie o deixou alerta, seus olhos se estreitaram e procuraram por quem ele já sabia quem era.

  • Saia das sombras, Júlio César.

Graciosamente, uma figura caiu do topo da palmeira em um agachamento enquanto apoiava as pontas dos dedos no chão e se levantava todo pomposo enquanto sussurrava - Augusto - esse era o nome do estranho que ignorou a saudação.

  • Quanto tempo, velho amigo - ele usou de deboche, é claro, pois a última coisa que seriam era amigos. Talvez nem se fossem da mesma espécie.

  • Não tempo suficiente para eu esquecer seu rosto assassino - retrucou Augusto enquanto avaliava as expressões físicas de Júlio César para encontrar algo de Soraia nele.

Para seu alívio, havia apenas o cheiro do toque sutil dela e nada mais.

  • Uh, el lobo está agressivo esta hermosa noche (uh, o lobo está agressivo esta noite) - debochou Júlio César enquanto apontava para o belo céu noturno e tentava imitar horrivelmente o sotaque espanhol de Augusto, afinal, ele era romeno. Bem longe, não?

  • Vamos direto ao ponto - ele então assentiu, mas sem perder o sorriso cínico - o que você quer com Soraia?

  • Então você já a conheceu?

Júlio César não fazia ideia de quanto, afinal, eles já haviam trocado um beijo enquanto ele não havia experimentado nada além do calor do toque na pele dela.

  • Não se faça de bobo, eu sei que você sabe disso.

Júlio César sorriu amplamente enquanto dizia, "O sangue dos lobos está começando a ferver em suas veias, não é mesmo, amigo?

  • Você não faz ideia - ele respondeu com um sorriso sexy e provocante que fez seus olhos verde-claros se tornarem amarelos como chamas vivas dentro de suas pupilas. Júlio César nunca se permitiria ficar para trás, muito menos por Augusto. Então, como ele, fez seus olhos já negros de nascença adquirirem o rubi de sangue no centro, tão característico de sua espécie.

  • O que quer que você queira com Soraia, eu vou te impedir - eu o avisei, afinal, ele não enfrentou anos de solidão e guerra para chegar até ela apenas para ter algum dentista intrometido roubando-a dele.

  • Sabe, - ele sorriu astutamente, - eu não quero nada dela.

Augusto franziu a testa, sua cabeça latejando de desconfiança, "Eu quero o que ela pode ser.

  • Miranda. Então é tudo por causa de sua antiga amante.

Esse desgraçado quer trazer Miranda e sua alma para dentro do ser de Soraia.

Augusto rosnou, mas não era qualquer rosnado, era o rosnado que vem de dentro de sua alma.

De dentro da alma do lobo.

  • Ela é minha, Augusto - disse Júlio César, totalmente armado para o combate - e eu vou matar qualquer um que tentar tirá-la de mim.

Augusto estava frustrado no momento, pois se transformou em um morcego e fugiu. Mas da próxima vez...

  • Mas da próxima vez... - Augusto rosnou, transformando-se em um belo lobo negro gigante com pelo brilhante, e correu furiosamente para a floresta, seus olhos de fogo desaparecendo por lá.

Agora banhada e mais calma, Soraia descansava a cabeça no colo de Amy enquanto ela acariciava seu cabelo úmido.

  • Soraia, me conta o que aconteceu - ela perguntou.

  • Eu não sei se foi real ou apenas minha mente - disse ela enquanto se virava no colo de Amy e se encaravam - mas uma garota coberta de fumaça falou comigo de dentro do meu espelho.

Reação natural; Amy riu, mas logo se recompôs ao ver que sua amiga estava muito séria - desculpa.

  • Tudo bem - disse ela enquanto se levantava - eu também riria se fosse o contrário - e respirou fundo enquanto passava a mão pelo cabelo.

  • Mas o que ela disse para você?

  • A mesma coisa que aquele estranho de olhos verdes.

  • Para se afastar de Júlio César.

Soraia assentiu.

Amy bufou, como se dissesse: "Ah, agora estamos ferradas."

Uma batida na porta chamou a atenção delas. Uma bela mulher com cabelo preto preso em um coque solto e olhos azuis hipnotizantes entrou, carregando uma bandeja com dois copos de suco e dois sanduíches, dizendo: - Olá, meninas, estão com fome?

  • Oi, mãe.

  • Oi, tia Katrina.

Explicando: Sim, a mulher é a mãe de Soraia, mas ela não é tia de sangue de Amy - apenas por adoção - já que as famílias se conhecem desde que as mães eram crianças e a amizade se estendeu às filhas.

  • E onde está o papai?

  • Ele manda beijos - disse ela enquanto colocava a bandeja em uma mesinha perto da janela onde, por incrível que pareça, o sol já estava brilhando e elas ainda nem tinham dormido - e ele acabou de sair para o trabalho. Agora comam e vão para a cama - disse sem vergonha - afinal, era sábado e elas não tinham aulas, e poucas pessoas trabalham de manhã como o pai de Soraia.

Marcus saiu apressado de seu quarto, vestindo sua jaqueta de couro preta sobre a camisa branca e se dirigindo ao quarto de Brenda, pois precisava contar a alguém o que havia descoberto e só confiava nela ali.

Brenda estava penteando seu longo cabelo castanho-avermelhado quando uma batida na porta a fez desviar o olhar do espelho, dizendo "entre" e através dela viu um Marcus muito agitado entrando e dizendo: - Rachel está de volta e quer vingança.

Brenda deixou suas tarefas e encarou Marcus calmamente, pois já suspeitava dos segredos de Lais - a alma dela está encarnada no corpo de Lais, não é?

  • Você sabia?

  • Eu desconfiava.

  • E por que não me contou?

  • Porque eu não tinha certeza e não queria alertá-la de que eu estava desconfiada dela.

Marcus suspirou e se deixou cair na cama de Brenda. - Ela ainda me quer - ele olhou para Brenda, que sorriu de maneira maternal - e está disposta a fazer qualquer coisa.

  • E sua preocupação é com Amy, não é?

Ela se aproximou dele, sorrindo, e sentou-se ao seu lado, dizendo:

  • Existem dois sentimentos que você não pode esconder: ódio e amor.

  • Se você pudesse ver o rosto de Lais.

  • Vamos cuidar dela - ela prometeu.

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