Read with BonusRead with Bonus

2. A premeditação do sangue

Augusto mal podia acreditar que finalmente podia abraçar e sentir Soraia colada ao seu corpo como há muito desejava. Seu outro eu estava enlouquecendo com o calor e o perfume da pele dela, e ele mal sabia o quanto Augusto se esforçava para não 'mostrar' seu excesso de carinho, para dizer o mínimo, por ela.

Julio Cesar seguia uma garota ruiva por um dos corredores da escola, ele não sabia o que ela estava fazendo ali nem se importava, mas agradeceu ao diabo por vê-la sair do salão da escola e acabar ali onde não havia ninguém.

Ela até sorriu, porque provavelmente sabia que ele a estava seguindo, mas não tinha ideia de que ele já tinha suas presas - as verdadeiras - prontas para rasgar seu pescoço, literalmente.

A ruiva olhou para trás com seu sorriso típico de orelha a orelha, mas seu sorriso foi destruído na hora e seu rosto se tornou assustado.

Julio Cesar se tornou um borrão na frente dela, e antes que ela pudesse piscar, se viu jogada contra uma parede que rachou suas costas; ela gritou de dor; ele sorriu com a dor que ia piorar... muito pior.

  • Você é um louco! - ela gritou enquanto esfregava a cabeça dolorida.

  • Não - ele disse enquanto abria as presas, e a ruiva franziu a testa, ainda sem um real senso de perigo - Eu sou um vampiro - e cravou aquelas facas perfurantes em seu pescoço.

A ruiva até cravou as unhas na capa de Julio Cesar, mas não adiantou, porque esse era o fim para ela de todas as formas, não só devido à maldade e prazer dele em matar, mas também à quantidade de sangue que fluía não só do pescoço da garota, mas dos lábios dele em grossos filetes.

No salão, outra música já embalava Soraia e o estranho, mas algo aconteceu que até ela pôde sentir.

  • O que foi? - ela perguntou ao sentir ele tremer em seus braços, mas o choque de seus olhares foi muito mais intenso do que a pressão do horror cometido pelo vampiro que o estranho sentiu em seu estômago. Sem pensar, sem hesitar, suas bocas se encontraram em um beijo feroz e profundo, como um casal que não se vê há meses e precisa se sentir da maneira mais profunda possível naquele momento.

Brenda estreitou os olhos e, mesmo sem querer, ficou atônita, afinal, como não tinha visto aqueles dois tão próximos e, pior ainda, como tinha deixado eles se beijarem.

Droga!

  • Nossa! - exclamou Soraia assim que seus lábios se separaram dos dele.

  • Sim, claro, nossa - ele concordou, todo manso, mas muito feliz enquanto passava a mão pela máscara e desviava os olhos dos dela por um segundo.

  • Soraia, você tem que ficar longe de Julio Cesar - ele implorou, segurando os braços dela para ter sua total atenção.

  • Por quê?

  • Porque toda vez que ele se aproxima de alguém, a morte segue - ele sentiu ela tremer em suas mãos pelo medo que brilhava em seus olhos - desculpe, não quis te assustar.

  • Sério? - ela soltou as mãos dele, mesmo gostando do toque - Acho que você e ele são dois loucos - e antes que ele pudesse tocá-la novamente e ela pudesse se encolher, ela deu de ombros e ainda ouviu ele dizer para ter cuidado.

Depois de se acalmar com todo o turbilhão de sentimentos que lutavam dentro dela,

Soraia estava se aproximando do corredor principal em direção à porta de saída quando um grito de horror do outro lado percorreu seus ossos. Seu primeiro pensamento foi Amy, afinal, já fazia um tempo que ela tinha perdido de vista sua amiga.

pensou duas vezes antes de ir ao encontro do grito, fosse de quem fosse.

Quer visse ou não, o estranho a tinha seguido e agora a chamava, mas ela o ignorou e continuou andando com ele a seguindo.

As luzes do corredor estavam apagadas, o que já era estranho o suficiente, então, com a ajuda das luzes vindas dos quartos de ambos os lados do corredor, podia-se ver uma garota de joelhos com as mãos cobrindo o rosto ao lado de um corpo ensanguentado em uma poça de sangue, com os olhos arregalados como se tivesse visto o próprio diabo.

Soraia, simpática mas temerosa em seus passos, retirou sua máscara de mulher-gato enquanto se aproximava da garota, olhando aterrorizada para a cena, enquanto a abraçava.

O estranho parou e deu um passo para trás, ele não precisava nem queria ver mais para saber quem havia cometido esse ato horrível.

Nesse momento, alguém havia chamado a polícia, pois alguns homens uniformizados com as cores da bandeira preta e vermelha da cidade se aproximaram pelo corredor com seriedade.

  • Por favor, afastem-se da vítima - pediu o policial à frente do pequeno grupo.

Soraia sussurrou algo no ouvido da garota enquanto se levantava com ela do chão, mas sem soltá-la e se afastou um pouco, afinal, elas precisariam relatar ao delegado o que haviam visto.

O policial se agachou ao lado da garota morta e fez alguns exames preliminares, mas o que mais chamou sua atenção foram os dois buracos perfeitos e profundos que ele notou ao enfiar um lápis ali, que se enterrou na carne ao lado do pescoço dela.

O policial se levantou - qual de vocês duas pode me dizer o que aconteceu? - perguntou olhando para as duas garotas um tanto aterrorizadas encostadas na parede.

  • Eu só ouvi um grito - disse Soraia, e a outra garota também, embora tivesse chegado à cena primeiro, foi o grito que a trouxe até ali.

Um pequeno grupo de curiosos já se reunia no corredor e a única razão pela qual não avançavam era porque muitos policiais apareceram bloqueando seu avanço; esses deram passagem ao barulho das rodas da maca que foi trazida pelos paramédicos e pelo legista.

A tensão e o medo eram palpáveis no ar enquanto a garota era coberta pelo saco metálico, levantada do chão onde a poça de sangue era claramente visível, colocada na maca e levada dali na frente de todos.

Julio Cesar e sua gangue caminhavam em direção à sua casa como se nada tivesse acontecido. Mas, a partir de agora, não faltariam eventos que marcariam não só a 'vida' deles, mas também de todos na calma cidade de Lacrimal.

Dentro da casa, Marcus se dirigiu ao seu quarto e estava tão absorto em pensamentos sobre uma deliciosa ruiva que nem percebeu que a porta do seu quarto estava aberta, mas a voz dentro o trouxe de volta à realidade.

  • Olá, Marcus.

  • O que você quer?

Lais passou a ponta da língua pelos lábios enquanto dava passos lentos e sensuais em direção a Marcus, que fez uma careta e disse roucamente - você - e agarrou sua camisa, apertando-a firmemente entre os dedos.

Marcus segurou a mão dela e a forçou a soltar sua camisa enquanto dizia - desculpe, mas não estou disponível para esse tipo de relacionamento com você - o ódio brilhou nos olhos de Lais que passaram de humano para vampiro e de volta para humano em milissegundos.

  • Mas você foi correndo atrás da vadia ruiva, e em vez de matá-la - as presas e o olhar do vampiro brilharam - você a agarrou - e empurrou Marcus contra a lateral do poste da cama.

Marcus se recompôs - isso não é da sua conta.

  • Eu quero que você - ele apontou o dedo - faça comigo o que fez com ela - e novamente foi em direção a ele - agora - mas ele se afastou de seu avanço.

  • Eu disse não.

A expressão no rosto de Lais mudou da água para o vinho enquanto ela se afastava de Marcus com um sorriso diabólico que não o agradou em nada enquanto ela então falava.

-Você. Vai contar. O que. Você não. Fez com Amy - lentamente.

Marcus percebeu o tom ameaçador na voz de Lais e tentou alertá-la.

-Faça isso e eu te mato.

Ela sorriu - vai me matar de novo, Marcus?

Marcus se perguntou o que ela queria dizer com isso.

-Vai me matar depois de ter dado sua vida para me proteger?

Lais riu e, em um acesso de raiva, se transformou em um morcego e voou pela janela do quarto, deixando Marcus na mão.

De repente, os olhos de Marcus se arregalaram, sabe aquele instante em que sua mente desaba? Foi o que aconteceu com ele quando voltou muito, muito no passado distante e lembrou que a única pessoa que ele havia protegido com sua vida era...

-Raquel - ele sussurrou enquanto sua mente trabalhava nas possíveis maneiras de ela ter sobrevivido em espírito e ainda possuir outro corpo.

Marcus levou as mãos à cintura e se afastou da janela - droga - resmungou irritado, pois agora o passado do qual ele havia fugido estava de volta para assombrá-lo.

Amy e Soraia estavam andando pela rua um pouco movimentada, afinal muitas pessoas moravam ali, elas estavam conversando, tentando esquecer o que aconteceu no baile, como se fosse possível, quando, do nada, atrás de uma das muitas árvores do bairro, o estranho de olhos verdes apareceu.

Fazendo-as pular de susto, levando as mãos ao coração que ele claramente ouviu disparar.

-Por favor, sem mais sustos, tá?

Soraia teve que admitir que ele era insistente, afinal ela era um bom 'partido', e ainda assim lá estava ele com aqueles olhos hipnotizantes e aquele sorriso encantador pedindo desculpas e olhando para ela como se fosse seu sol.

-Você o conhece? - perguntou Amy, abalada de susto enquanto tomava um gole de água de sua pequena garrafa.

-É a voz dele que eu ouço - ela arregalou os olhos e olhou da amiga para ele - e agora ele está me seguindo - e deu uma ênfase aguda ao 'ele'.

Bem, pelo menos é uma voz sexy - pensou Amy enquanto o avaliava de cima a baixo e sorria boba ao perceber que sua amiga estava com sorte.

-O que você quer agora? - Soraia disse com certa dureza na voz enquanto cruzava os braços na frente do corpo e o encarava.

-Soraia, você tem que me ouvir e ficar longe de Julio Cesar - ele implorou enquanto juntava as mãos em oração e se aproximava delas - antes que seja tarde demais.

Soraia apenas balançou a cabeça, ao contrário de Amy que disse:

-Por que você quer tanto que Soraia fique longe dele?

-Ela sabe por quê.

-Não, eu não sei.

-Você realmente não sabe, ou só não quer admitir?

Soraia suspirou profundamente.

-Admite, Soraia, que Julio Cesar a domina - ela bufou, mas seu eu interior sabia que era verdade, mas nunca admitiria tal fato - ele a faz ficar ao lado dele mesmo contra sua vontade.

O silêncio reinou junto com aquelas típicas trocas de olhares confusos, até que ele falou novamente cheio de razão, o que estava fazendo Soraia ranger os dentes para evitar marcar seus dedos naquele rosto bonito com uma barba fina tão convidativa ao toque.

-Então, Soraia, não vai se defender?

-Não sou ladra para ter que me defender.

-Pelo menos admita que estou certo - ele exigiu, e isso foi o começo do desabafo de Soraia:

-Eu não sou submissa de ninguém!!!

Amy engoliu seco e olhou de canto de olho, mas não disse nada, afinal conhecia bem sua amiga e sabia que quanto mais a desafiavam para algo, mais

mais irritada ela ficava.

-Soraia, abra os olhos!

-Não me diga o que eu tenho que fazer!

-Não é necessário, você já tem Julio Cesar para isso!

-Cala a boca!

-Me escuta!

-Gente, pelo amor de Deus! - Agora era a vez de Amy se exaltar, afinal, já havia uma plateia olhando para eles e as coisas estavam esquentando ali. Para o lado negativo.

-Vocês parecem um casal de amantes tendo um pesadelo - ela concluiu, e eles se encararam, cada um mais nervoso que o outro e, pelo menos da parte dele, ele também queria terminar a discussão como os casais fazem, com um beijo voraz.

-Sua amiga está certa - concordou o estranho, embora adorasse descobrir que Soraia era tão boa, em todos os sentidos, julgando-a naquela roupa de couro na discussão acalorada. Mas o momento não era para isso. Ainda.

-Olha, faça um favor para nós dois, vá embora - pediu Amy, e vendo a careta que Soraia fazia, adoraria seguir aquela discussão, mas como disse, não era o momento para isso.

O estranho assentiu e olhou para Soraia, que fez questão de cruzar os braços e virar o rosto, o que trouxe um sorriso ao rosto dele, que, assim como apareceu, desapareceu nas sombras.

A lua se cobriu com um estranho e longo manto de nuvens negras e, como é bem sabido, um vampiro está muito zangado ou muito triste.

O sangue de Marcus corria por suas veias enquanto seus olhos mudavam da cor de mel para preto com o rubi do sangue a cada momento.

Adivinha por quê.

-Julio Cesar estava certo quando disse que você - ele apontou o dedo para Lais, que o encarava com desdém - era uma vadia sem caráter - ela riu.

Marcus respirou fundo.

-Querido, quem é Julio Cesar para falar de caráter? - ela zombou enquanto passava a mão pelo peito em um gesto comum aos humanos que provavelmente trouxe do passado.

-Olha o que ele quer fazer com aquela garota?

-Pelo menos ele é digno - ela respondeu com um gosto amargo na boca ao dizer isso - e não fingiu estar morto para encarnar em outra pessoa.

-Seria irônico, não acha?

Fingir ser o que você é por natureza - ela sorriu e deu um leve aceno de cabeça.

Marcus nem havia notado o sangue escorrendo de seus lábios, afinal, suas presas proeminentes estavam cravadas neles. Certamente como queriam estar na jugular daquela desgraçada.

-Você sabe o que quero dizer.

Lais fez sua melhor cara de coitada enquanto se aproximava de Marcus, que sabia exatamente o que ela queria ao dizer - bem, agora que estou aqui - ela lambeu os lábios sugestivamente - podemos compensar o tempo perdido - e levou as mãos ao rosto dele. Bem, pelo menos tentou, porque a centímetros de tocá-lo, ele as pegou no ar e as afastou.

-De jeito nenhum.

Lais rangeu os dentes e rosnou - Claro que agora você prefere a vadia ruiva - mas não esperava que Marcus a esbofeteasse violentamente e a jogasse no chão com os lábios sangrando.

O vampiro veio à tona e antes que Marcus pudesse se virar, ela devolveu o tapa em grande estilo. Mas para aqueles que pensaram que ele não retaliaria, estavam errados, pois ele voou em direção a ela e tentou acertá-la, mas seus braços foram imobilizados e ela foi jogada contra o espelho do armário, que caiu em pedaços no chão e sobre ela, vários desses cortando seu rosto, que se curou rapidamente.

-Eu não sou mais seu escravo - ele gritou enquanto se aproximava dela e a esmagava contra o espelho, ambos rosnando um para o outro, ele a segurava pelo pescoço, ela tinha as garras cravadas nas costas das mãos dele - e não ouse se aproximar de mim!

Amy - ele avisou enquanto a jogava contra a mesa de cabeceira que também quebrou, e antes que ela pudesse se levantar, ele já havia saído batendo a porta.

-Maldito!!!

Previous ChapterNext Chapter