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Capítulo 1

ANGEL SINCLAIR.

Desço cuidadosamente a escada, deslizando a mão pelo corrimão por causa dos meus sapatos. Passei tanto tempo indo para a escola de tênis que esqueci como é difícil andar de salto logo de manhã, pouco depois de acordar. Enquanto desço as escadas, encontro Margareth, a governanta de anos, em um dos corredores.

"Bom dia, menina anjo," ela diz, me chamando pelo seu habitual apelido carinhoso.

"Apenas bom dia, Marga," respondo, indo direto para a cozinha da casa e deixando Margareth com um ponto de interrogação na mente.

Vejo que meu pai está tomando café e meus olhos automaticamente reviram. Sem nem olhar para ele, pego a jarra de suco de laranja e despejo um pouco em um copo. Antes mesmo de levar à boca, meu pai começa com seu pequeno discurso.

"Escuta aqui, Angeline, você vai passar a vida inteira fingindo que eu não existo?"

"Honestamente, pai, você deixou de existir para mim quando inventou de trazer uma mulher para nossa casa!", exclamo, começando a ficar nervosa.

"Você tem que entender que eu não posso passar o resto da minha vida sozinho só porque sua mãe se foi. E sim, estou apaixonado pela Madison, e acho melhor você se acostumar com essa ideia, porque o filho dela também vai vir morar com a gente."

Não acredito no que estou ouvindo.

"Ah, ótimo", digo, batendo palmas e dando uma risada sarcástica, mas cheia de ódio por dentro, "Não só você está trazendo uma mulher para cá, mas o filhinho dela vem de brinde? Isso é ótimo! Parabéns, papai. Você está de parabéns. Além de tirar minha alegria de viver, você também está tirando minha privacidade ao colocar um homem que eu nem conheço dentro da nossa própria casa. Estou completamente decepcionada com você!".

"Você nunca procura entender o meu lado, Angeline. Já estou cansado de te servir, de fazer todas as suas vontades e nem ter o seu apoio no meu relacionamento."

"Papai, não faz nem um ano que a mamãe morreu e você já vai colocar outra mulher na nossa casa. Você quer que eu fique feliz com isso? Não, melhor, você quer que eu prepare uma festa de boas-vindas para o meu novo irmão? Não acredito, sério! Só espera até a vovó e o vovô saberem de tudo isso."

"Angeline, nem pense nisso!" ele diz, levantando-se da mesa alterado e limpando a boca com um guardanapo.

"Eu penso sim! E se você ainda não contou para eles, eu vou ser a primeira pessoa a contar com prazer. Vamos ver o que eles acham disso, não é, pai? Vamos ver se eles acham a coisa mais normal do mundo, assim como você. É até patético!

"Madison e o filho dela estão chegando hoje à noite. Esteja pronta às 20h, porque vamos jantar juntos, goste você ou não."

"Agora sou obrigada a jantar com vocês? Quero que os três vão se foder!", pego o copo de suco de laranja que está na mesa e jogo no chão.

Saio da cozinha ouvindo os gritos do meu pai, mas os ignoro e deixo a casa. Destravo meu carro e ligo o som assim que entro. Coloco minha música favorita e abro o conversível, sentindo o vento agradável no rosto enquanto dirijo pela estrada com meus pensamentos a mil. Chego à escola com 30 minutos de antecedência antes da aula começar e decido ligar para meus avós. Vou para um lugar mais reservado no estacionamento e disco o número da vovó, já que sei que ela está sempre com o vovô.

"Vovó Florence?", pergunto assim que minha ligação é atendida.

"Oi, querida. Como você está? Seu avô e eu sentimos muito a sua falta!" ela responde do outro lado da linha.

"Ah, vovó, eu também sinto falta de vocês! Prometo passar por Atlanta para visitá-los, mas ultimamente muitas coisas têm tirado minha paz."

"O que houve, Angel?" ela pergunta, com preocupação na voz.

"Você acredita que o papai está trazendo a namorada e o enteado para morar na nossa casa?"

"O quê?" meu avô intervém.

"Como assim, mocinha? O James não comentou nada disso com a gente. Nem seu avô sabe," ela diz, espantada com a notícia.

"Vovó, acalme o vovô John, por favor. Sabemos como ele fica nervoso, e eu também fiquei chateada quando o papai me contou sobre isso ontem à noite."

"Pode ter certeza de que vou falar com o John hoje, Angel," diz o vovô, "Quero saber o que ele está pensando. Não é possível!".

"Bem, Angel, pelo pouco que sei da Madison, ela parece ser uma pessoa legal, mas entendo você não querer que eles morem aí."

"Por favor, vovó Florence, não defenda essa mulher. Já estou furiosa com esse assunto!".

"Desculpe, querida, mas talvez você devesse dar uma chance para a mulher," ela continua.

"Independentemente de qualquer coisa, nossas portas estão abertas para você, caso queira passar um tempo aqui," diz meu avô.

"Obrigada, vovô John, mas não vou abrir mão da minha casa por causa de dois estranhos. Papai e eu vamos viver em pé de guerra até ele resolver essa situação ridícula que ele mesmo criou."

"Vamos falar com ele, querida, mas não prometemos nada. Você sabe que pode contar conosco para o que precisar. Você sempre será nosso Anjo, nossa querida netinha," diz meu avô.

"Eu amo vocês demais!".

"Nós também te amamos, meu amor," acrescenta minha avó.

"Bem, vou para a aula agora. Falamos mais tarde, tá bom?"

"Tá bom. Boa aula, Angel."

"Obrigada, vovó."

Desligo a ligação e suspiro enquanto bloqueio a tela do meu celular. Sei que, por mais que meus avós conversem com meu pai, ele não vai mudar de ideia. Parece que essa mulher o hipnotizou. Ele só vê ela e mais nada. E no fim, sou eu quem vai ter que aguentar tudo isso acontecendo.

Saio do carro, vou direto para a sala de aula e me sento ao lado da Ashley, minha melhor e única amiga.

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