A confusão de Grimes
POV do Grimes
O dia em que notei uma mudança óbvia no meu irmão mais novo, Mario, foi o mesmo dia em que compreendi o que significava ter uma companheira.
A expressão alegre no rosto dele era real. Eu não duvidava disso.
Desde então, o tempo passou e eu fui nomeado alfa da nossa matilha, a matilha Crescent. Naquela época, Mario tinha viajado para longe, para um lugar que eu não conhecia.
Eu me tornei um alfa sem uma companheira. Nem todos os alfas precisavam de uma companheira para atuar como luna. Em casos onde a alfa é uma mulher, seu marido se tornaria o beta.
Eu não tinha uma companheira para ser luna, mas tinha alguém que ocupava o espaço de uma companheira. Eu também tinha um beta.
Claudia passou a mão pelo meu peito. “Se você deseja tanto uma companheira, poderíamos nos tornar companheiros instantaneamente.”
Ela era a pessoa que ocupava o lugar de uma companheira para mim, mas não atuava como minha luna.
“E como seria isso?”
Ela inclinou a cabeça um pouco para cima. “Nos tornaríamos perfeitos.”
O que ela queria dizer com perfeitos?
“E você acha que não estamos bem do jeito que estamos?” Franzi a testa.
“Você não é perfeito.” Ela respondeu rapidamente. “E é tudo porque você não tem uma companheira.”
Estávamos deitados na minha cama. Ela tinha acabado de satisfazer minha necessidade sexual, como de costume.
Nosso relacionamento não era unilateral, e ela desempenhava perfeitamente o papel de uma companheira, de modo que atendíamos nossas necessidades pessoais juntos.
Olhei profundamente em seus olhos azul-escuros. “Isso não tem nada a ver com nosso relacionamento.”
“Tem sim.” A mão dela se moveu lentamente do meu peito para a minha virilha. “Tem sim.” Ela insistiu.
A mão dela estava me acariciando.
“Deveríamos nos casar.”
Ela estava me pedindo em casamento?
“O que temos não é diferente de companheiros.” A mão dela saiu de mim, e ela se virou para o outro lado, de modo que eu não estava olhando para o rosto dela. “A menos que você realmente queira encontrar uma companheira.”
Eu não deveria encontrar uma companheira?
Eu não podia comparar nosso relacionamento ao de companheiros. Ela não era minha luna. Claro que eu estava procurando minha companheira, e se a encontrasse, deixaria as coisas seguirem o curso normal.
“Estou convencida de que sou mais do que uma companheira para você.”
Eu tive que ignorá-la.
Quando estava quase pegando no sono, ouvi uma batida na porta que me fez levantar para ver quem era.
Era Greyson, meu beta.
“A cerimônia de acasalamento,” ele disse.
Eu tinha esquecido dela, e estava usando o tempo livre que tinha para descansar nos braços de Claudia. Sem hesitação, tomei um banho rápido e saí com Greyson.
O tempo já estava curto.
“A cerimônia está quase terminando,” ele tentou garantir que eu acelerasse o que estava fazendo.
“Se minha companheira estiver lá, então ela deve estar me esperando.”
Em pouco tempo, chegamos ao salão, mas o interesse que eu achava que tinha já não era tão firme.
O medo de fazer algo completamente novo estava me prendendo, e eu me perguntava como seria ter uma parceira permanente. Imaginei ficar com uma pessoa só, e imaginei que isso seria cansativo. Era estranho que todos os outros tivessem passado por isso e estivessem felizes até o fim.
Nos próximos trinta minutos, eu ainda estava parado do lado de fora do salão, observando as reações dos novos companheiros.
“Você tem que entrar,” Greyson disse diretamente no meu ouvido.
Eu realmente tinha que entrar.
No momento em que coloquei meu pé direito dentro do salão, tudo parecia leve, me dando a sensação de estar sem peso. O ar ao meu redor ficou diferente.
Eu não tinha certeza da mudança, mas sabia que o ar tinha um cheiro diferente para o meu nariz.
O próximo momento aconteceu quando uma das garotas que estava saindo do salão esbarrou em mim. Em dias normais, um simples “desculpa” teria nos separado, mas ela não se afastou de mim, me dando sensações estranhas. O cabelo dourado brilhante dela roçando em mim deveria causar um incômodo, mas não causou. Parecia que nos conhecíamos há anos.
“Companheira?” Eu não consegui guardar para mim.
Finalmente senti o que era ter uma companheira!
Seu corpo já estava encostado em mim, e não demorou nada para eu plantar beijos em seus lábios. Sem dúvida, ela sentiu o vínculo, e eu tinha certeza disso, como ela teria beijado um completo estranho?
O vínculo de companheiros mais uma vez provou a natureza animal dos lobisomens, a ponto de um estranho se transformar em amante em poucos segundos.
Nos separamos um pouco, e ela levantou a cabeça para me olhar.
“O–lhos vermelhos.” Sua boca estava meio aberta, e ela recuou de mim até outra mulher que eu notei que tinha vindo com ela.
“O–lhos–vermelhos.” Seus dedos estavam apontando para mim.
Seus próximos passos para trás quase a fizeram cair no chão, mas sua amiga a segurou.
Eu não conseguia entender por que meus olhos vermelhos se tornaram um assunto. Claro que eu tinha olhos vermelhos, mas e daí?
A música parou, e todos estavam nos observando. Decidi que era parte do vínculo de companheiros agindo nela, e meu rosto ainda estava radiante com um largo sorriso. Eu estava muito convencido de que tudo ainda estava perfeito.
Ela se afastou um pouco de mim, e eu me aproximei dela. Mas então, quando toquei seu pulso, ela começou a correr para fora do salão.
Como correr para fora do salão fazia parte do processo de vínculo de companheiros? Ela não podia estar fugindo de mim, podia?
Greyson saiu do salão para chamá-la, mas ela estava tão longe dele que ele teve que voltar desapontado. Ele não sabia o nome dela.
Não tínhamos nos apresentado.
Eu estava parado no mesmo lugar, e Greyson era quem estava se movendo. Ele foi até a garota que estava anteriormente com minha companheira. Eu podia dizer que ela era minha companheira, que outra prova eu precisava?
“O que está acontecendo com ela?” Greyson perguntou.
Ela já estava saindo, mas eu vi a expressão estranha no rosto dela.
“Ela não está bem.” Ela respondeu.
“O nome dela?”
Pelo menos, deveríamos saber o nome dela.
“Não posso dizer.” Ela saiu do salão.
O salão estava ficando vazio, e quase todos já tinham saído, exceto algumas pessoas.
“O que acabou de acontecer?” Perguntei a Greyson.
Eu me sentia como um homem acabando de acordar de um sono profundo.
“Você viu tudo.”
“E…”
Ele segurou meu pulso para sairmos do salão. “Podemos encontrá-la.” Ele segurou meu rosto com ambas as mãos. “Mas primeiro, temos que voltar para casa.”
Esse foi o estranho desenrolar dos acontecimentos que me deixou atordoado.
Depois de alguns minutos, cheguei em casa, e tudo o que eu queria fazer era permanecer no meu estado de entrada. Greyson não me deu nenhuma explicação para isso, e eu acho.
A presença de Claudia me cumprimentou, mas eu simplesmente não conseguia falar com ela. Deitei na cama, virado para o outro lado para que ela não estivesse olhando para mim.
Ela era boa em ler emoções, e havia uma grande chance de que ela pudesse entender o estranho desenrolar dos acontecimentos só de olhar para mim.
Ela colocou as mãos nas minhas costas. “Você não poderia ter encontrado uma companheira, poderia?”
Virei-me para encará-la, havia necessidade de esconder algo?
Em vez de olhar para mim, ela deitou de costas, olhando para o teto.
“Tudo foi muito difícil para eu entender,” eu disse.
Eu não podia mais confiar no meu raciocínio, e senti que ela poderia ter uma melhor compreensão de tudo.
“Às vezes, acontece assim.” Ela tinha um sorriso fraco no rosto, e de repente começou a esfregar a barriga. “Acho que estou grávida.”
Levantei a cabeça da cama. “De mim?”
“Sim.”
Ela queria ver uma expressão feliz no meu rosto.
Levantei-me da cama, mas não consegui fazer uma expressão. Meu rosto estava vazio.
“E minha companheira?”
“Você encontrou sua companheira?” O sorriso no rosto dela desapareceu. “Estou tendo um filho seu.”
Ela se sentou na cama, e naquele momento, seus olhos azul-escuros, junto com seu cabelo escuro, se tornaram uma tortura para meus olhos. Como eu ia combinar o fato de que acabei de encontrar uma companheira com ela estando grávida de mim?
“Grimes!” O rosto dela ficou vermelho. “Você decidiu me deixar por outra pessoa, apesar do amor e cuidado que temos um pelo outro.”
Meus olhos não estavam mais nela, mas percebi que ela estava limpando lágrimas dos olhos.
“Diga que é uma brincadeira.”