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PRÓLOGO.
Ainda me lembro do território que um dia chamei de lar.
Lembro-me do olhar feroz no rosto do Alfa quando ele declarou minha família como renegada.
Ainda me lembro do olhar de verdadeira agonia que cruzou o rosto do meu pai, e lembro-me vividamente de ter que assistir minha mãe morrer bem diante dos meus próprios olhos.
Lembro-me de ver meu pai perder a sanidade depois disso. E lembro-me da última vez que o vi antes de ele desaparecer; me deixando completamente sozinha.
Lembro-me de me sentir completamente desesperada e perdida. E lembro-me vividamente de ter atravessado os limites da vida em que nasci, e entrado em uma que sempre admirei.
Lembro-me de rejeitar minha loba, e afastá-la; sem sentir absolutamente nenhum remorso.
Ainda me lembro de quão feliz e em paz me senti no mundo humano. Encontrando-me novamente.
Até que...
Fui capturada e puxada de volta para a vida que abandonei anos atrás.
Estou aqui há tempo demais.
Arrastada contra minha vontade, e despojada de poder. Depois colocada em correntes, por um crime que todos acreditam que cometi, e do qual não tenho a menor ideia.
Caminho pelos corredores com olhares de ódio e ressentimento me seguindo. E me movo entre eles com homens querendo me despedaçar ou enterrar seus membros em mim até que tudo o que eu sinta seja dor; de qualquer forma— eles ainda querem que eu sofra.
Prometi a mim mesma que vou sobreviver a este inferno para o qual fui arrastada à força; vou suportar todo sofrimento. Vou morder a língua e resistir a cada impulso de revidar. E não darei atenção a cada olhar de ódio.
Posso ter perdido minha loba anos atrás, mas ela ainda vive em mim. E sinto coisas mais do que um mero humano pode. Vejo e ouço coisas que estão além da capacidade de um humano típico; pode não ser tão forte quanto ter minha loba comigo, mas é o suficiente para me fazer seguir em frente.
É por isso que não entendo o desejo pulsante que sinto profundamente dentro de mim toda vez que ele se aproxima demais de mim.
O mesmo homem que me odeia por tantos motivos, e me puniu severamente tantas vezes.
O mesmo homem que me acorrentou.
O mesmo homem que trouxe meu sofrimento.
O mesmo homem que eu desprezo mais do que jamais desprezei alguém.
O mesmo homem com uma mulher que igualmente me odeia, ao seu lado.
O Implacável, Assustador, Rei Alfa.
Por que quero que ele me empurre contra sua vontade, e enterre seu membro em mim até que o único som que saia dos meus lábios sejam gemidos, e ao mesmo tempo quero infligir nele a mesma dor que ele me causou?
Digo que são meus sentidos me pregando peças, ou é resultado de ficar longe dos homens por muito tempo?
De qualquer forma, planejo ficar longe do Alfa Selvagem.
Mesmo quando parece completamente impossível.