Capítulo 6 — Praticando magia
Nozomu sorriu, "Eu sei, é para mudar o sabor e os efeitos de algumas bebidas, principalmente vinho. Melhor do que um galho de árvore, poderíamos usar folhas de chá preto, porque esse tipo de folha tem um excesso de taninos."
"Temos esse tipo de chá! O Padre está sempre bebendo, ele diz que o mantém acordado durante o dia quando fica até tarde lendo."
"Sim, esse também é o efeito dos taninos, eles dão um impulso de energia, e você não sente sono."
Taisetsuna assentiu lentamente, "Faz sentido, porque o livro diz que se alguns passos forem pulados, a Poção de Cura pode se transformar em uma Poção do Sono, mas como você sabe disso?"
"Eu... talvez eu tenha lido em um livro?"
Taisetsuna parou de andar enquanto empurrava um arbusto para o lado, "Ontem à noite foi a primeira vez que eu te vi lendo um livro sem reclamar que era chato. Como você poderia ler sobre taninos se sempre adormecia quando estávamos estudando? Ou durante as aulas do Padre?"
Nozomu deu de ombros e usou a pergunta para mudar de assunto para que Taisetsuna não continuasse, "Eu só sei que os taninos são assim, então. Não faço ideia de como, e não estou preocupado com isso. Você disse que tínhamos que secar as folhas, certo? Colocamos no chão para deixá-las secar ao sol, ou o quê?"
Taisetsuna sorriu e reuniu uma pequena Bola de Fogo em uma mão, e um pequeno Tornado de Vento na outra, "Ou trapaceamos e eu uso isso junto. Alguns segundos com um Tornado de Fogo ao redor das folhas serão suficientes. Só preciso ter cuidado para não deixar as folhas esquentarem demais, mas esse é o método que uso depois de tomar banho para secar meu corpo, então tenho experiência com essa técnica."
"Sim, isso funcionaria, com certeza. Deve ser legal, poder usar Magia assim. Se eu pudesse fazer isso, criaria um monte de coisas legais. Agulhas de Fogo, para perfurar um alvo! Uma enorme Bola de Fogo para obliterar uma rocha! Soco de Vento, para nocautear um oponente! Ah, ainda melhor, pequenos Tornados de Vento nos meus pés para me fazer voar! Isso seria tão legal!"
Taisetsuna riu enquanto se abaixava para evitar um galho, "Hahaha! Ninguém faz Magia assim! Eu nem consigo imaginar como fazer isso!"
"Ok, mas você já tentou? Você disse que era só uma questão de visualizar o que queria criar, então se você pode imaginar, pode fazer, certo?"
Taisetsuna deu de ombros, "Pode funcionar, mas eu não tenho tanto controle sobre minha Magia para fazer algo como Tornados de Vento para me fazer voar. Magia é legal, mas se você perder o controle, as coisas podem ficar feias e perigosas muito rápido."
"Então, como você melhora o controle da sua Magia?"
"Anos de prática. Magos mais velhos conseguem fazer coisas incríveis porque usam Magia há anos, e o controle deles melhora conforme usam a Magia."
Nozomu fez uma leve careta e, após alguns minutos de silêncio, perguntou, "E se você passasse dias inteiros com um Tornado de Vento na mão, controlando-o, não deixando ele se dissipar, fazendo-o girar em diferentes direções, mas sempre controlando? Isso seria o mesmo que usar sua Magia esporadicamente ao longo de vários dias ou anos, certo?"
"Ninguém faz uma coisa dessas! Mas... suponho que poderia funcionar, mas seria tão chato! Você consegue imaginar o dia inteiro mantendo um Tornado de Vento na mão? Como eu iria comer? Ou fazer qualquer coisa?"
"Suponho que você poderia mover o Tornado para o topo da sua cabeça, ou para a ponta do seu rabo se precisasse usar a mão. Com o tempo, você faria isso sem nem pensar, e não seria chato."
Taisetsuna olhou para ele com os olhos bem abertos, "Isso poderia funcionar! O Padre sempre disse que precisamos repetir movimentos até obter memória muscular e então você os faz sem nem pensar! Talvez isso também se aplique à Magia! Vou tentar isso depois que fizermos as Poções!"
"Por que depois? Por que não começa agora? Ainda temos que caminhar um bom tempo para sair desta floresta."
Taisetsuna imediatamente seguiu o conselho dele e fez um pequeno Tornado de Vento no topo da palma da mão esquerda. Ela diminuiu o ritmo porque estava focada em controlar o Tornado, então Nozomu a guiou segurando sua mão direita.
"Eu te ajudo, preocupe-se apenas com esse Tornado, não vou deixar você cair ou bater em uma árvore."
Taisetsuna não respondeu porque estava tendo dificuldade em manter o Tornado de Vento na mão. Era mais difícil do que ela pensava no início, porque estava acostumada a reunir um monte de Magia, fazer um Tornado de Vento e jogá-lo sem se preocupar em mantê-lo sob controle na mão.
Durante a caminhada de volta, ela perdeu o Tornado uma ou duas vezes após alguns minutos, mas na terceira tentativa, conseguiu mantê-lo estável por quase trinta minutos, mas esse feito estava cobrando um preço. Ela estava ficando cansada a cada minuto, começou a suar, e quando finalmente saíram da floresta, ela estava ofegante e com dificuldade para recuperar o fôlego.
Nozomu perguntou quando notou as gotas de suor escorrendo da testa dela, passando pelo queixo e caindo no chão, "Você está bem? Parece que esteve correndo por horas!"
O Tornado de Vento se dissipou, e Taisetsuna fez um grande sorriso, "Sim, estou exausta, mas estou me acostumando com isso! Está ficando mais fácil controlar o Tornado, e consigo controlá-lo para fazer alguns giros. Mais alguns dias, e talvez eu consiga fazê-lo se mover de maneira diferente! Será muito difícil para você escapar de um dos meus Tornados de Vento se ele continuar mudando de curso e forma, certo?"
"Com certeza! Mas você está extremamente cansada, não sei se vai conseguir usar sua Magia para secar as folhas. Talvez tenha sido uma má ideia treinar sua Magia hoje."
Taisetsuna sentou-se no chão para recuperar o fôlego e colocou as mãos no solo atrás de si. Ela olhou para cima e respirou fundo algumas vezes antes de falar novamente, "Só preciso descansar um pouco. O Padre sempre nos fazia treinar por horas, então minha resistência é alta. Apesar de parecer que treinamos a manhã inteira! Estou tão, tão cansada! Deixe-me ficar aqui por um tempo, voltaremos num instante, ok?"
"Você pode até deitar na grama se quiser e dormir um pouco. Quer usar meu colo como travesseiro? Não estamos com pressa, certo?"
Taisetsuna olhou para ele com um olhar intrigado, "Você não se importa de ficar parado por um tempo e me deixar descansar? Você realmente mudou."
Nozomu sentou-se no chão ao lado dela e deu tapinhas em suas coxas, "Espero que a mudança tenha sido para melhor. Aqui, use isso como travesseiro. É um pouco duro, acho que tenho mais músculos do que esperava."
Enquanto Taisetsuna se deitava no chão e se acomodava, ela disse enquanto fechava os olhos, "Eu gosto dessa versão de você, você é gentil e sempre se preocupa comigo, e isso é uma boa mudança. Não que você fosse mau comigo, mas tendia a não se importar com o que eu pensava ou fazia mais vezes do que eu gostaria."
Nozomu acariciou gentilmente a cabeça de Taisetsuna e, lentamente, seus dedos foram para a orelha direita dela, tocando a parte de trás da orelha bem no ponto onde se conectava à cabeça, fazendo Taisetsuna soltar um ronronar baixo. Ela mexeu a cabeça um pouco com os olhos fechados, e Nozomu viu um leve sorriso em seus lábios.
"Você acabou de ronronar?"
"Sim... Você tocou um ponto muito sensível para um Felino. É como se você tocasse meu rabo no ponto onde se conecta às minhas costas. Pode ser um pouco provocante em algumas situações, mas também pode servir para me relaxar. Se você continuar, vou adormecer em pouco tempo."
Nozomu imediatamente parou de tocar Taisetsuna, "Desculpe, eu não sabia! Não foi de propósito, acredite!"
Ela puxou a mão dele de volta para sua orelha sem abrir os olhos, "Tarde demais agora. Termine o que começou, eu estava me sentindo muito bem e pronta para uma soneca."
Nozomu lentamente e cuidadosamente tocou sua orelha novamente, e seus dedos acariciaram o mesmo ponto, fazendo Taisetsuna ronronar novamente de prazer. Ele pensou consigo mesmo, "|... Incrível, igual a um gato de verdade. Bem, se ela gosta, não vejo mal nisso. …|"
Nozomu acariciou lentamente e gentilmente a orelha de Taisetsuna, e sua respiração ficou superficial, e ela adormeceu. Ele olhou para os Unicórnios, e eles estavam ambos olhando para Taisetsuna, intrigados ao vê-la dormindo no chão em cima da comida deles. Eles pastavam a grama ao redor, olhando para ela de vez em quando. Quanto a Nozomu, ele estava olhando para o céu e aproveitando a brisa fresca no rosto.
...
Depois de um longo tempo, Nozomu sacudiu gentilmente os ombros de Taisetsuna. Ela abriu os olhos lentamente e esticou os braços e as pernas. Nozomu notou que até o rabo dela estava se alongando, e então ela perguntou, "Isso foi bom. Eu dormi por quanto tempo?"
"Não tenho certeza, mas julgando pelo sol, eu diria uma hora, talvez. Ou mais, não sei quanto o sol se move em uma hora."
Taisetsuna olhou para a sombra de uma rocha próxima e disse, "Essa sombra parece que foi uma hora. Ok, ainda temos tempo antes do almoço. O que você acha de voltarmos e fervemos um pouco de água para as Poções? Também ajudaria o Padre a ter o fogão pronto para ele cozinhar."
"Isso parece perfeito."
Taisetsuna se levantou e puxou Nozomu, e eles foram em direção aos Unicórnios novamente. Com a ajuda dela, Nozomu sentou-se facilmente nas costas do Unicórnio branco carrancudo, e ele disse enquanto puxava a crina, "O quê? Se você se abaixasse um pouco, seria mais fácil, sabia? Ou você é orgulhoso demais para ajudar um cara? Pare de franzir a testa, vai? Você fica feio!"
‘Rampage’ bufou e Taisetsuna riu enquanto pulava rapidamente para as costas de ‘Furnace’, que correu assim que ela se sentou. Quanto a Nozomu, ele quase caiu no chão no momento em que o Unicórnio carrancudo saltou para começar sua corrida, irritado por ter em suas costas um cavaleiro tão inábil.
Em menos de nada, eles estavam na frente da casa com os Unicórnios deslizando no chão para parar, e Taisetsuna usou o impulso para girar graciosamente sobre a cabeça de Furnace, fazendo um pouso perfeito a alguns metros à frente. Ela se virou assim que ouviu Nozomu gritando, e pulou para o lado, pegando-o no ar, e os dois rolaram no chão.
Taisetsuna se levantou e limpou suas roupas, a tempo de ver Nozomu indo em direção ao seu Unicórnio.
Ele agarrou o focinho que estava fazendo um som estranho como se estivesse rindo e o sacudiu, "Cavalo de um chifre irritante! Eu poderia ter quebrado meu pescoço! Pare de rir, maldito!"
Taisetsuna riu enquanto segurava a barriga e se juntou aos sons dos dois Unicórnios que estavam rindo às custas de Nozomu. Ele soltou o focinho que ainda o zombava e cutucou o nariz macio e úmido, “Isso não foi engraçado, Rampage! Se eu morresse, Suna te venderia, e você poderia ganhar um novo dono que não seria seu amigo, ele poderia muito bem ser um homem gordo e feio, que te usaria para puxar uma carroça, ou algo ainda mais degradante para um Unicórnio orgulhoso como você!"
O Unicórnio parou sua risada estranha como se de repente percebesse que Nozomu poderia estar certo. Ele então acariciou gentilmente a bochecha de Nozomu com o nariz e recebeu uma carícia no focinho.
Taisetsuna limpou as lágrimas de tanto rir e apontou para o estábulo, "Vocês dois conhecem o caminho, certo? Vamos entrar, Nozo, e pegar um pouco de lenha daquela pilha enquanto eu cuido do resto!"