




Capítulo 1
PRÓLOGO
Quatro anos atrás
"Eu não vou embora."
Ágata cruzou os braços e lançou um olhar firme para seus amigos. Eles podiam dizer o que quisessem. Mas nenhum argumento iria convencê-la. Ela ficaria aqui—com eles.
Sua família.
"O quê? Você vai ficar aqui e deixar que a Divindade te leve como sua próxima esposa? É isso que você quer?" Aarón exigiu.
Ela estremeceu ao lembrar da Divindade chamando-a para seu escritório no dia seguinte ao seu aniversário e seu grande anúncio. A maneira como ele a olhou. Com fome. Com posse. Ela ainda podia sentir suas mãos agarrando seus braços.
Ela olhou para eles. Parecia que deveria estar machucada, mas seu toque não tinha sido punitivo enquanto ele delineava seu futuro em termos claros.
"Aarón!" Roisin repreendeu. Ela estava sentada entre ele e Renaud no chão de madeira. Todos estavam amontoados na casa da árvore. Era o lugar seguro deles no Acampamento.
Ela nunca entendeu por que a Mamãe os mudou para cá. Mas sempre que Ágata perguntava, ela apenas ficava com um olhar assustado no rosto e dizia que este lugar era seguro.
Ou era, até a Divindade anunciar que Ágata seria sua próxima esposa. Esposa número cinco.
A náusea borbulhou em seu estômago e ela colocou a mão sobre ele. Havia apenas duas maneiras de sair de seu casamento com a Divindade.
Fugir ou morrer.
E ela não queria fazer nenhuma das duas.
"É a verdade, Roisin," Aarón disse com uma carranca. Ele sempre foi tão sério e protetor com o resto deles. Mas mais ainda agora que Ágata acabara de completar dezesseis anos.
A idade em que todas as meninas que faziam parte dos Filhos do Divino eram esperadas para se casar.
Que sorte a dela, ela tinha que se casar com o líder do culto. O maior, mais assustador de todos eles.
Ágata engoliu em seco.
"Você tem que ir, Ágata," Aine disse com sua voz doce. Ela estava encolhida entre Renaud e Jaime, sua figura pequena sendo ofuscada por eles.
O que aconteceria quando Roisin completasse dezesseis anos? E depois Aine? Para quem ele as daria? Para o pai de Aarón e Renaud? Para o pai de Isaac?
Era doentio.
Era errado.
E ela tinha que ajudá-los.
"Você não pode se casar com ele, Ágata," Isaac disse calmamente, seus olhos assombrados. Ele estava encostado na parede, seu pé batendo nervosamente. "Ele vai te machucar."
Ágata engoliu em seco. Ela não queria se casar com ele. Mas também não queria deixar os seis.
"Tudo bem, eu vou. Mas eu vou voltar para buscar vocês," ela prometeu ferozmente. Essa era a única razão pela qual ela iria.
Porque poderia ser a única maneira de salvar todos eles.
"Bom," Aarón disse bruscamente. Ele enfiou a mão no bolso e tirou algum dinheiro. "Aqui, todos nós contribuímos." Ele tentou entregar o dinheiro.
"O quê? Não. Eu não posso aceitar isso." Dinheiro era escasso e difícil de conseguir no Acampamento. Tudo o que ganhavam era dado à Divindade, e em troca, ele deveria usá-lo para cuidar deles. Seu raciocínio era que isso os libertava do fardo financeiro e significava que tinham mais tempo para adorar o Divino.
Ágata sabia, no entanto, que a maioria das pessoas que viviam no Acampamento trabalhavam duro e mal tinham algo em seu nome. Elas eram alimentadas e vestidas, mas era só isso.
Embora, se você estivesse mais alto na hierarquia, parecia que recebia melhores benefícios. O pai de Aarón e Renaud era um Sentinela e, por isso, eles viviam em uma casa de verdade, em vez de um barraco como praticamente todo mundo.
A mãe de Ágata era mais velha quando entrou para o culto, e como ela não era mais considerada boa para reprodução, não teve que se casar com um dos homens. Claro, isso significava que eles estavam bem baixos na hierarquia. O lugar onde viviam deveria ter sido condenado há muito tempo.
"Você pode e vai," Aarón ordenou. Ele era tão mandão.
Ágata lançou um olhar furioso para ele. Se ela algum dia se apaixonasse, seria por um homem tranquilo. Um que nunca tentasse dizer a ela o que fazer.
Um homem que a deixasse fazer o que quisesse, quando quisesse.
"Você vai precisar disso, Ágata," Renaud disse seriamente. Ele parecia cansado. Como se o peso do mundo estivesse em seus ombros. Isso era tão injusto. Eles eram adolescentes. Por que deveriam se preocupar com toda essa porcaria?
"Você pode usar isso para ir bem longe daqui. Você disse que sua mãe tem amigos com quem vocês podem ficar, certo?" Roisin perguntou. Ela mordia a unha do polegar.
"Sim. Foi o que ela disse. Mas como vamos fugir?" ela perguntou.
O Acampamento era isolado. Eles provavelmente poderiam caminhar até a cidade, mas quanto tempo levaria até que as pessoas começassem a notar que estavam desaparecidos?
"Não se preocupe," Isaac disse a ela. "Temos uma distração planejada para meia-noite. Vocês só precisam estar prontos para fugir. Cheguem a St Ives e depois peguem um ônibus para sair daqui."
Ágata assentiu. "Eu ainda vou voltar. Vou tirar todos vocês daqui."
Todos a olharam com expressões variadas de esperança e tristeza. Ela entendia. Eles estavam perdendo a esperança rapidamente naquele lugar.
Mas o que eles precisavam lembrar era que Ágata podia ser mais teimosa que uma cabra. E que ela nunca deixaria sua família para trás.
Família em primeiro lugar.
Sempre.
Cinco meses depois
"Precisamos estar lá quando eles invadirem o Acampamento, Mamãe," Ágata argumentou, andando de um lado para o outro no pequeno quarto de motel.
Eles estavam a apenas vinte minutos de carro do Acampamento. Ela estava tão perto, mas não tinha sido permitida ir com o FBI.
Idiotas.
"Você sabe o que o Agente Gordon disse, Mija," sua mãe respondeu. "Temos que ficar aqui fora do caminho. Não é seguro para nós irmos."
Ágata bufou. "Nós somos os que deram a eles as informações necessárias para invadir o lugar. Se não fosse por nós, eles ainda estariam correndo atrás do próprio rabo."
"Mija," Mamãe advertiu.
"O quê? É verdade! E os meninos podem precisar de mim. Eles vão estar com medo. Faltam apenas algumas semanas para o aniversário de Roisin... e se... e se ele decidir substituí-la por ela?"
Essa preocupação a mantinha acordada à noite. Roisin estava tão perto de completar dezesseis anos. Se aquele idiota a tomasse como esposa...