




Sete
Eu entrei em pânico então.
E se eu só tivesse dias de vida? Engoli em seco. Quem cuidaria do meu irmão? O que seria de Janice?
Tudo isso era novo para mim, estranho, inaceitável. O que estava acontecendo comigo? Eu me sentia estranha, como se precisasse vê-lo novamente. Eu não queria isso. Juntei minhas coisas e saÃ. A caminhada para casa parecia mais longa. Eu precisava estar ao lado de outra pessoa, em algum lugar onde eu pudesse esquecer. Virei à esquerda, caminhei por alguns minutos na estrada de terra e estava na floresta. Fechei os olhos e encostei minhas costas em uma árvore.
Quando abri os olhos, Benjamin estava ao meu lado. Eu não o ouvi se aproximar. Quando ele me viu, seu rosto se contorceu de dor e ele me envolveu em um abraço. Ele não disse nada. Apenas me segurou e acariciou minhas costas de maneira fraternal. De vez em quando, passava as mãos pelo meu cabelo.
Foram horas até que eu adormecesse nos braços de Benjamin. Quando acordei, o sol já havia se posto. Ele sorriu para mim e me ofereceu uma garrafa de água.
"Como você está se sentindo?" a preocupação era clara em sua voz.
"Melhor."
"Quer falar sobre isso?"
Balancei a cabeça. "Não sei."
"É sobre seu irmão?"
Assenti. Eu não podia contar a verdade para ele. Eu me sentia envergonhada. Ele parecia ser capaz de me ler, de saber quando algo estava errado comigo.
"Vai melhorar com o tempo." ele me tranquilizou suavemente. "Você vai ver."
"Droga, vou largar a escola. Preciso de mais dinheiro. Vou precisar arranjar um emprego."
"Oh não, você não pode." ele disse, horrorizado. "Seu irmão não iria querer isso. Eu não quero isso." ele se aproximou de mim. "Vou te contar uma coisa; eu tenho um plano que pode fazer todos os seus problemas desaparecerem."
Eu estava cética. "O quê."
"Você quer minha ajuda." Não era uma pergunta.
Assenti.
"Mas primeiro você precisa prometer que não vai surtar."
Assenti.
"Seu silêncio está garantido?"
Franzi a testa.
"Eu sou um bruxo." Ele me deu um olhar astuto. "Posso te dar tudo o que você quiser."
"E eu sou meio unicórnio, mas obrigado, amigo, por tentar me animar." Tentei não rir histericamente. "E além disso, se você fosse um bruxo, não me contaria, nem somos tão próximos."
"Eu preciso de algo de você," Ele me olhou com desdém. "E você precisa dos meus poderes mágicos."
"Qual é o truque?"
"Você só precisa assinar um contrato."
"Ok," sufoquei uma risada. Ele era louco.
"Você está ferindo meu ego," A seriedade em sua voz me pegou de surpresa.
"Ah, qual é, bruxos definitivamente não existem," eu disse em voz baixa, tentando não ferir seus sentimentos.
"Eu existo, não existo?" ele sorriu. "Sim, eu não viajo em vassouras; não preciso de uma varinha para fazer minha mágica."
Revirei os olhos.
"Vou te contar uma coisa, vá para casa. Seu irmão será curado, todos os problemas resolvidos. Amanhã você assina o contrato."
"Supondo que ele esteja..." Eu queria me dar um tapa por estar entretendo isso. "Não estou dizendo que acredito em você, mas supondo que ele esteja curado. Deve haver condições... termos, regulamentos."
"Nenhum," Ele prometeu. "Você só precisa assinar com sangue, tirado do seu dedo indicador."
"Como vou saber que você não vai voltar atrás na sua palavra?"
"Eu não tenho o poder de fazer isso."
Desta vez eu ri. "Preciso ir para casa."
"Elizabeth, estou te dando uma oportunidade única na vida."
Eu queria revirar os olhos. Bruxos não existem. Talvez ele estivesse tentando melhorar meu humor. "Ok então. Temos um acordo."
Ele me deu um olhar severo. "Quando a escola começar amanhã, venha me encontrar. Traga uma agulha."
"Tá bom,"
Ele assentiu e recuou para a borda da floresta. "Mais alguma coisa que você queira?"
Balancei a cabeça, cansada de jogar esse jogo infantil.
"Amanhã,"
"Amanhã," concordei. Eu tinha que me perguntar sobre sua sanidade. Será que ele realmente acreditava que era um bruxo? Eu ri. Absurdo.
Em casa, Janice me cumprimentou na varanda.
"Elizabeth, você não vai acreditar no que aconteceu," Ela estava ofegante, os cantos de seus lábios tremiam, seus olhos vagavam por todo o nosso quintal. Ela estava confusa.
"Você recebeu um aumento no trabalho?"
"NÃO!" Ela gritou. "Seu irmão está em casa!" Eu não conseguia dizer se ela estava animada, aterrorizada ou bêbada – provavelmente a última.
"Zack," Abri a porta com força e corri para a sala. "Oh não, pensei que estávamos cobertos pelo próximo mês."
"Estamos..." ela me olhou com dúvida e suspirou. "Estávamos."
"O que aconteceu?" Não sei o que aconteceu primeiro - a dor aguda que começou na minha coluna, viajou até os meus dedos dos pés e finalmente se instalou no meu peito, ou o arrepio dos pelos finos na nuca, ou a necessidade de ir ao banheiro.
"É muito estranho. Recebi uma ligação do hospital esta manhã," Ela balançou a cabeça cética. "Aparentemente, um tumor encolheu e eles operaram nele. Acho que a quimioterapia funcionou." Seus olhos brilhavam com desconfiança.
Balancei a cabeça. "Não, não. Isso é mentira. Eu estava lá. Eu vi os sintomas. Ele perdeu o cabelo. Ele tinha leucemia. A quimioterapia não estava funcionando."
"Ele não... tinha... hum, leucemia," Janice estava tentando manter a calma, tentando convencer a si mesma mais do que a mim. "Aparentemente, eles misturaram os resultados dos testes."
"Não!"
"Eu pensei que você ficaria feliz."
E então me dei conta. "Você está bêbada."
"O quê?"
"Isso tem que ser algum tipo de piada," eu disse, incrédula. Será que ela estava participando da brincadeira? Será que ela ainda estava brava comigo por causa desta manhã? "Alguém está fazendo uma brincadeira cruel comigo."
"Eu só estava fazendo sopa para o Zack."
"Onde ele está?"
"Dormindo," Ela murmurou enquanto entrávamos na cozinha. "Ele está no quarto. Vocês vão dividir a cama. Eu vou dormir no sofá."
Assenti. Ainda em choque, meu cérebro estava funcionando lentamente. Eu ainda estava esperando pelo momento em que alguém gritaria 'primeiro de abril', mas isso nunca aconteceu. Afinal, era o final de janeiro. Ela tinha que estar mentindo. Corri escada acima para o quarto e, com certeza, Zack estava na beirada da cama, encolhido.
"Não pode ser mera coincidência que Zack esteja em casa agora," eu disse em voz baixa.
"Não entendi," Janice estava de repente atrás de mim. Eu não sabia que ela tinha me seguido.
"Benjamin?" Eu sussurrei desconfiada. Será possÃvel? Será que Benjamin era realmente um bruxo? Ou ele sabia que meu irmão estava em casa e estava pregando algum tipo de peça em mim? Sim, é isso. Ele deve ter sabido que Zack estava de volta. Mas como?
"O quê?" Janice perguntou, com uma de suas expressões confusas.
Tinha que ser Benjamin, não havia outra explicação.
Ela me perguntou se eu ficaria bem e se eu queria ficar sozinha com Zack. Assenti. Ela desceu para a cozinha para terminar o jantar enquanto eu observava Zack dormir, sempre com medo de que ele pudesse parar de respirar a qualquer momento. Ele parecia ter ganhado algum peso, sua cabeça ainda estava careca. Seus olhos azuis tinham olheiras. Uma cicatriz ia de uma orelha à outra. Eu me encolhi. Além de seus cÃlios longos e bochechas redondas, ele parecia um alienÃgena.
Mais tarde naquela noite, liguei para meu tio. Foi direto para a caixa postal.
"Tio Miles, só liguei para avisar que Zack está de volta em casa. Ainda não o vi, ele está dormindo, tenho medo de acordá-lo." E eu fiz um acordo com um bruxo. Mas ele não precisava saber disso. "Me ligue assim que puder. Eu te amo."
Pela primeira vez em dois anos, dormi tranquilamente.
De manhã, me senti energizada e realmente fiz um esforço para parecer bem.
Janice desceu para o café da manhã com o cabelo ainda molhado do banho. Ela estava lendo o jornal e olhou para cima, "Você ainda não falou com seu irmão."
"Vou falar."
"Você adormeceu na cadeira ontem à noite, parecia tão tranquila," ela quase sorriu.
Tentei sorrir.
Ela balançou a cabeça, "Isso é estranho. Muito estranho."
Dei de ombros.
"Você vai ficar bem?"