




Capítulo 6
Após a intensa conversa sobre lobisomens e verdades ocultas, Penelope respirou fundo e mudou de assunto.
"Vamos falar de algo um pouco mais... normal," disse ela, embora seus lábios esboçassem um sorriso irônico. "Sua admissão na faculdade. Está animada para começar na Lockewood College?"
Shea se recostou, ainda processando as revelações. "Sinceramente? A faculdade em si nunca foi o principal atrativo."
Penelope ergueu uma sobrancelha. "Ah, é?"
"Não me entenda mal, é uma ótima escola," Shea esclareceu. "Mas minha verdadeira motivação para me matricular foi investigar mais a fundo os segredos de Lockewood. Achei que talvez pudesse encontrar uma pista sobre a matilha que atacou meu pai."
Sua tia assentiu lentamente. "Eu tinha a sensação de que havia mais por trás disso. Pensamento esperto, Shea. A faculdade tem uma coleção considerável de história local e folclore na biblioteca."
"Exatamente," disse Shea, seus olhos brilhando de determinação. "Além disso, ser estudante me dá uma razão legítima para estar aqui, fazendo perguntas sem levantar muitas suspeitas."
Penelope se inclinou para frente, sua expressão séria. "Só tome cuidado, Shea. Lembre-se do que acabamos de aprender - eles podem já estar te observando. Você vai precisar equilibrar sua investigação com a manutenção de um perfil baixo."
"Eu sei," concordou Shea. "Serei discreta. Mas não posso simplesmente ficar parada sem fazer nada, não quando estou tão perto de descobrir a verdade."
"Claro que não," disse Penelope suavemente. "Você é muito parecida com seu pai para isso. Só me prometa que será cautelosa e que virá até mim se encontrar algo... incomum."
Shea assentiu.
Tia Penelope assentiu, um sorriso gentil surgindo em seus lábios. "Podemos ir à faculdade amanhã para te instalar. O que acha?"
Os olhos de Shea brilharam. "Seria ótimo, na verdade. Quanto mais cedo eu puder começar, melhor."
"Bom," disse Penelope, dando um tapinha na mão de Shea. "Por enquanto, você deve descansar. Foi um dia e tanto para você, não foi?"
Shea assentiu, sentindo o peso de tudo o que havia aprendido se acomodar em seus ombros. Mas ao olhar em direção ao banheiro, um arrepio percorreu sua espinha.
"Tia Penelope," disse hesitante, "e sobre... o que aconteceu mais cedo? Aqueles olhos no banheiro. E se eles voltarem? E se tentarem me machucar?"
O rosto de Penelope ficou sério. Ela se levantou lentamente, seus olhos nunca deixando os de Shea. "Você está certa em se preocupar," disse suavemente. "Não podemos ser descuidadas."
Sem dizer mais nada, Penelope caminhou até seu armário. Ela o abriu, alcançando algo lá dentro. Quando se virou de volta para Shea, o queixo da jovem caiu.
Nas mãos de Penelope havia uma caixa de madeira intricadamente esculpida, sua superfície gravada com símbolos que Shea nunca tinha visto antes. A própria caixa parecia vibrar com uma energia que fez os pelos dos braços de Shea se arrepiarem.
"O que... o que é isso?" Shea sussurrou, incapaz de tirar os olhos do objeto misterioso.
Os dedos de Penelope traçaram os símbolos intrincados na caixa de madeira, seu toque reverente. Com um clique suave, ela abriu a tampa, revelando uma espingarda reluzente aninhada dentro.
Os olhos de Shea se arregalaram enquanto Penelope levantava a arma. Era uma obra-prima de artesanato - uma espingarda de cano duplo com coronha de nogueira polida e canos de aço azulado. Gravações intrincadas adornavam o receptor, lembrando os símbolos na caixa.
Penelope segurava a espingarda com uma facilidade prática que surpreendeu Shea. As mãos delicadas de sua tia envolviam o cabo, seu dedo indicador repousando logo acima do guarda-mato.
"Esta era do seu pai," disse Penelope, sua voz mal acima de um sussurro. Ela passou a mão ao longo do cano liso, um sorriso nostálgico no rosto. Com um movimento rápido, ela engatilhou a espingarda, o som ecoando no pequeno quarto.
"Você não precisa se preocupar, Shea," continuou Penelope, sua voz mais firme agora. "Esta espingarda está carregada com balas de prata. Segundo Vincent, elas são letais para lobisomens."
A boca de Shea ficou seca. A realidade de sua situação a atingiu novamente - lobisomens, balas de prata, a vida secreta de seu pai. Era quase demais para processar.
A expressão de Penelope suavizou enquanto olhava para sua sobrinha. "Você vai precisar de treinamento, é claro. Venha comigo."
Shea seguiu sua tia, sua mente girando. Elas desceram uma escada estreita, a madeira rangendo sob seus pés. No final, Penelope acendeu um interruptor de luz.
Shea piscou surpresa. O porão havia sido convertido em um campo de tiro compacto. Alvos de papel pendiam na extremidade oposta, e uma mesa robusta estava de um lado, com várias ferramentas e caixas de munição organizadas cuidadosamente em sua superfície.
Penelope ergueu a espingarda, sua postura mudando com facilidade prática. Ela carregou cartuchos padrão na câmara, seus movimentos fluidos e precisos. Com um aceno para Shea, ela mirou nos alvos à distância.
O porão ecoou com o estalo agudo dos tiros.
Shea se encolheu no início, mas seus olhos se arregalaram ao observar a pontaria impecável de sua tia. Os tiros de Penelope acertavam o alvo com precisão infalível, perfurando os alvos de papel em agrupamentos apertados.
"Impressionante," Shea sussurrou, um novo respeito por sua tia florescendo em seu peito.
Penelope abaixou a espingarda, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios. "Sua vez," disse ela, oferecendo a arma a Shea.
As mãos de Shea tremiam enquanto pegava a espingarda. Ela parecia mais pesada do que esperava, difícil de manusear em suas mãos inexperientes. Ela a levantou, tentando imitar a postura de sua tia.
O primeiro tiro foi longe do alvo, o recuo pegando Shea de surpresa. Ela cambaleou para trás, quase deixando a arma cair.
"Calma," Penelope acalmou, aproximando-se. "Vamos trabalhar na sua postura."
Durante a próxima hora, Penelope guiou Shea através das técnicas adequadas de tiro. Ela ajustou a postura de Shea, mostrou como se preparar para o recuo e ensinou a mirar pelo cano.
Lentamente, mas com certeza, os tiros de Shea começaram a acertar o alvo. Quando a última folha de alvo estava cheia de buracos, um sentimento de realização encheu seu peito.
"Nada mal para a primeira vez," disse Penelope, o orgulho evidente em sua voz. "Ainda faremos de você uma atiradora de elite."
Enquanto recolhiam os cartuchos usados, Shea percebeu quanto tempo havia passado. Seu estômago roncou, lembrando-a das refeições perdidas.
"Hora do jantar, eu acho," Penelope riu. "Vamos subir."
Elas subiram as escadas estreitas, os músculos de Shea doendo agradavelmente do exercício inesperado. Quando se aproximaram do topo, uma sombra caiu sobre a escada. Shea olhou para cima, prendendo a respiração.
Uma figura alta estava silhuetada na porta, de ombros largos e imponente.
Por um momento, o coração de Shea disparou, sua mente voltando aos olhos carmesins e ameaças ocultas.
Mas então a figura deu um passo à frente, revelando um rosto familiar. "Gregory," Penelope disse, surpresa em seu tom.
O rosto enrugado de Gregory se abriu em um sorriso caloroso ao ver Shea. "Bem, se não é nossa sobrinha perdida," disse ele, sua voz rouca tingida de afeição. "Bem-vinda de volta, garota."
Penelope pigarreou. "Greg, Shea já sabe sobre... tudo agora. Os lobisomens, Vincent, tudo."
A expressão de Gregory ficou séria. Ele assentiu lentamente, seus olhos nunca deixando o rosto de Shea. "Entendo. É muita coisa para absorver, com certeza. Mas você não está sozinha nisso, Shea. Estamos aqui para você, e vamos te ajudar a encontrar as respostas que procura."
O trio seguiu para a sala de jantar, onde uma refeição farta os aguardava. Enquanto comiam, a conversa fluiu mais livremente, tocando em tópicos mais leves e permitindo que Shea relaxasse um pouco.
Depois do jantar, enquanto limpavam os pratos, Penelope se virou para Shea. "Escute, querida, com tudo o que aconteceu hoje... você gostaria de ficar na casa principal esta noite? Só para garantir?"
Shea hesitou, considerando a oferta. Medo e incerteza lutavam com seu desejo de se provar. Ela respirou fundo, endireitando os ombros. "Agradeço a oferta, tia Penelope, mas acho que preciso enfrentar isso de frente. Vou ficar na cabana."
Orgulho brilhou nos olhos de Penelope. Ela assentiu, então pegou a espingarda de mais cedo. "Aqui," disse ela, pressionando a arma nas mãos de Shea. "Só por precaução."
Os dedos de Shea se fecharam ao redor da arma, tirando força de sua presença sólida. "Obrigada," disse suavemente.
Com uma última rodada de boas-noites, Shea voltou para a pequena cabana. Ela verificou as trancas duas vezes, colocou a espingarda ao alcance fácil e finalmente se deitou na cama.
À medida que o cansaço começava a dominá-la, os olhos de Shea ficaram pesados. Ela estava à beira do sono quando um ruído repentino a despertou. Um som de arranhão, inconfundível contra a porta de madeira da cabana.
O coração de Shea disparou enquanto ela se sentava ereta, seus olhos fixos na porta.
Algo estava lá fora, e queria entrar.