




Capítulo 4
O olhar de Shea se desviou para a bolsa de couro desgastada que estava na cama ao seu lado. "Espere, tia Penelope," ela disse, franzindo a testa. "Antes de começar, tem algo que preciso te mostrar."
Alcançando a bolsa, Shea retirou cuidadosamente um envelope dobrado com esmero. "Minha mãe me deu esta carta e disse para abri-la apenas na sua frente. Ela disse que você saberia o que significa."
Os olhos de Penelope se arregalaram levemente quando Shea lhe entregou a carta. "Entendo," murmurou ela, seus dedos traçando a caligrafia delicada no envelope. Respirando fundo, ela deslizou o dedo sob o selo e puxou o conteúdo com cuidado.
Shea observava ansiosamente enquanto o olhar de sua tia percorria as páginas, sua expressão ficando mais sombria a cada momento que passava. Finalmente, Penelope olhou para cima, seus olhos brilhando com uma mistura de tristeza e determinação.
"Sua mãe estava certa," ela disse suavemente. "Esta carta... muda tudo." Penelope fez uma pausa, apertando os papéis com mais força. "Shea, o que estou prestes a te contar pode ser difícil de ouvir, mas é vital que você entenda a verdade."
Shea sentiu seu coração pular uma batida, mil perguntas girando em sua mente. "A verdade?" ela repetiu, sua voz mal acima de um sussurro. "Sobre o que aconteceu com o papai?"
Penelope assentiu solenemente. "Sim, sobre aquela noite... e sobre as criaturas que perseguiram vocês todos aqueles anos atrás."
A testa de Shea se franziu, seu olhar buscando o rosto de sua tia. "O que você está dizendo, tia Penelope? O que realmente aconteceu naquela noite?"
Finalmente, Penelope olhou para cima, seu olhar encontrando o de Shea. "Shea, o que estou prestes a te contar... pode ser difícil de acreditar. Mas preciso que você ouça com a mente aberta, pois a verdade daquela noite está longe de ser comum."
Shea sentiu seu coração acelerar, mil perguntas girando em sua mente. "Tia Penelope, o que você está dizendo? O que realmente aconteceu com o papai?"
Penelope respirou fundo, tentando se acalmar. "Shea, as criaturas que perseguiram sua família naquela noite... não eram animais normais." Ela fez uma pausa, seus olhos buscando o rosto de Shea. "Eram... outra coisa. Algo não normal deste mundo."
Shea sentiu um calafrio percorrer sua espinha, sua mente girando com a implicação. "Não normal deste mundo?" ela repetiu, sua voz mal acima de um sussurro. "Você quer dizer... sobrenatural?"
Penelope assentiu solenemente. "Sim, Shea." Ela estendeu a mão e apertou a mão de Shea de forma reconfortante. "Seu pai, Vincent, ele... ele não foi apenas uma vítima daquelas criaturas. Ele estava protegendo você e sua mãe, sacrificando-se para garantir sua fuga."
"Shea, aquelas criaturas sobrenaturais eram... lobisomens."
Os olhos de Shea se arregalaram, sua mente lutando para processar a revelação surpreendente de Penelope. "Lobisomens?" ela sussurrou, a palavra soando estranha em sua língua. "Você quer dizer que aquelas criaturas eram... pessoas que podiam se transformar em animais?"
Penelope assentiu solenemente. "Sim, Shea. As pessoas de Lockewood guardam há muito tempo um segredo sombrio - que há aqueles entre nós que possuem a habilidade de se transformar em feras poderosas e selvagens durante a lua cheia, e há até alguns que podem se transformar a qualquer hora do dia." Sua testa se franziu com uma mistura de tristeza e preocupação. "E foram esses lobisomens que perseguiram sua família naquela noite, com a intenção de... de destruir vocês."
Shea sentiu seu coração bater forte no peito, um turbilhão de emoções girando dentro dela. Incredulidade, medo, raiva - como isso poderia ser possível? Lobisomens, coisas de mito e lenda, eram reais? E eles foram os responsáveis pela morte de seu pai?
"Mas por quê?" Shea perguntou, sua voz tremendo. "Por que eles nos atacariam? O que fizemos?"
A expressão de Penelope ficou grave. "Receio que as razões sejam mais profundas do que qualquer um de nós poderia imaginar, Shea. Veja, os lobisomens de Lockewood são um povo orgulhoso e territorial. Eles veem as florestas e terras ao redor da nossa cidade como seu domínio, e são ferozmente protetores disso."
Ela fez uma pausa, seu olhar voltado para baixo. "Seu pai, Vincent, ele era... bem, ele era mais do que apenas um veterinário para as pessoas desta cidade. Ele era um... um guardião, de certa forma, encarregado de manter o equilíbrio delicado entre nosso mundo e o deles."
Shea sentiu um nó se formar em sua garganta, a realização lentamente surgindo. "Então eles o mataram... porque ele estava nos protegendo?"
Penelope assentiu, seus olhos brilhando com lágrimas não derramadas. "Sim, Shea. Seu pai se sacrificou para salvar você e sua mãe da fúria dos lobisomens. Ele sabia que eles nunca parariam de caçar vocês, não enquanto vocês permanecessem em Lockewood."
As mãos de Shea tremiam enquanto ela processava essa informação devastadora. Lobisomens, a morte de seu pai, os segredos sombrios de Lockewood - era tudo demais para compreender. Ela se sentia sobrecarregada, seu mundo virado de cabeça para baixo em questão de minutos.
Shea sentou-se em silêncio atordoado, sua mente correndo enquanto as palavras de Penelope se fixavam. Lobisomens – a própria ideia parecia tão fantástica, tão impossível, e ainda assim, quanto mais ela pensava nisso, mais parecia explicar os eventos inexplicáveis daquela noite fatídica.
Ela se lembrava das silhuetas enormes e ameaçadoras que haviam perseguido sua van, seus movimentos anormalmente rápidos e ágeis. E o ato final e desesperado de seu pai – sacrificando-se para ganhar tempo para que elas escapassem. Tudo fazia um terrível e distorcido sentido agora.
As mãos de Shea se fecharam em punhos, suas unhas cravando nas palmas. "Então meu pai... ele estava tentando nos proteger desses lobisomens?" ela perguntou, sua voz mal acima de um sussurro.
Penelope assentiu solenemente. "Sim, Shea. Vincent sabia do perigo que você e sua mãe corriam, e ele fez o sacrifício final para garantir a segurança de vocês."
Um arrepio percorreu o corpo de Shea enquanto ela imaginava aquelas criaturas selvagens e desumanas despedaçando seu pai. Seus olhos ardiam com lágrimas não derramadas, mas ela se recusava a deixá-las cair. Ela precisava ser forte, entender, encontrar uma maneira de fazer sentido desse pesadelo.
"E você está me dizendo que esses lobisomens são reais?" ela perguntou, seu olhar buscando no rosto de Penelope qualquer indício de engano. "Eles realmente existem, aqui em Lockewood?"
"Receio que sim, minha querida," respondeu Penelope, sua própria expressão grave. "As pessoas desta cidade guardam esse segredo há gerações, vivendo em uma coexistência tensa com os lobisomens que vagam pelas florestas. Seu pai era um dos poucos confiados com a verdade, encarregado de manter o equilíbrio delicado entre nossos mundos."
A mente de Shea girava, tentando conciliar esse novo conhecimento com a vida que ela conhecia. Lobisomens, metamorfos, uma sociedade secreta – era tudo tão fantástico, tão inacreditável. E ainda assim, no fundo, ela não podia negar a sensação de reconhecimento, a sensação de que tudo se encaixava de uma maneira que ela não conseguia explicar completamente.
"Não é de se admirar," Shea falou. "Por que tais criaturas nos atacariam sem motivo, e faz sentido por que mamãe quer vingança, é porque ela sabia, ela sabia sobre os lobisomens."
A expressão de Penelope ficou sombria enquanto ela desdobrava a carta de Emilia novamente. "Há mais, Shea. Algo que sua mãe sentiu que você precisava saber, mas apenas quando estivesse pronta."
Shea se inclinou para frente, seu coração batendo forte em antecipação. "O que é, tia Penelope?"
Limpando a garganta, Penelope começou a ler em voz alta. "Minha querida Shea, se você está lendo isso, então chegou a hora de você aprender a verdade sobre seu pai, Vincent."
A respiração de Shea ficou presa na garganta, e ela ouviu atentamente enquanto Penelope continuava.
"Seu pai não era um homem comum. Ele era um lobisomem, nascido com a habilidade de se transformar entre a forma humana e a de lobo. Este era um segredo que ele mantinha escondido, não apenas para se proteger, mas para nos proteger dos perigos que espreitam nas sombras de Lockewood."
Os olhos de Shea se arregalaram de choque, sua mente girando com essa nova revelação. Seu pai, um lobisomem? Parecia impossível, e ainda assim, enquanto Penelope lia, as peças começaram a se encaixar.
"Vincent dedicou sua vida a manter o equilíbrio delicado entre nosso mundo e o mundo dos lobisomens. Ele usava suas habilidades únicas para manter os membros mais... selvagens da matilha sob controle, impedindo-os de ferir as pessoas inocentes de Lockewood."
Penelope fez uma pausa, seus olhos brilhando com lágrimas não derramadas. "E naquela noite fatídica, quando vocês estavam fugindo por suas vidas, seu pai fez o sacrifício final. Ele ficou para trás para conter os lobisomens, ganhando tempo para que você e sua mãe escapassem."
Shea sentiu um nó se formar em sua garganta, seu coração doendo com a realização da verdadeira natureza de seu pai e o preço que ele pagou para protegê-las. "Então, ele era um deles?" ela sussurrou, sua voz trêmula.
Penelope assentiu solenemente. "Sim, minha querida. Seu pai era um lobisomem, mas ele também era um protetor..."
"O guardião da nossa cidade."