




Capítulo dois
Kelly Darcy, filha única de Raymond Darcy, passou a vida inteira fugindo da única coisa que sabia que não poderia escapar... Assumir a empresa de seu pai, a Darcy Enterprises.
Como filha única e com a mãe falecida desde que era bebê, Kelly sempre soube que um dia a empresa seria dela.
"Esse dia ainda não chegou", "A hora ainda não chegou", Kelly repetia para si mesma tantas vezes, mas agora a hora havia chegado, e ela não estava nem perto de estar pronta para uma responsabilidade tão grande. Alguns meses atrás, seu pai a forçou a voltar para São Francisco, insistindo que era hora de ela voltar para casa para se familiarizar com a empresa antes que ele se aposentasse.
E assim ela veio. Deixou sua vida... Não que tivesse muita vida lá. Era basicamente só trabalho. Ela não tinha namorado nem melhor amiga. Apenas algumas pessoas com quem saía de vez em quando, então não foi tão difícil partir.
Kelly já estava em São Francisco há um tempo. Insistindo que não queria voltar a morar com seu pai, ela conseguiu uma casa e já estava se estabelecendo. Fazendo alguns amigos e tal. E agora, quatro meses após seu retorno, tudo estava pronto, seu pai a apresentaria aos funcionários da empresa na semana seguinte. Ela finalmente aprenderia os truques do ofício. Preparando-se para suceder seu pai.
Era uma responsabilidade enorme, e Kelly estava muito ansiosa e nervosa. Os sapatos de seu pai seriam grandes para preencher e ela não fazia ideia de por onde começar. Ela não contou isso a ele, por medo de que ele ficasse desapontado com ela, e ela não queria correr esse risco. Ela já sabia que não tinha feito muito para impressioná-lo.
Kelly calçou suas botas até o joelho, tentando bloquear o pensamento sobre a empresa de seu pai e as responsabilidades que vinham com isso. Ela não deveria se preocupar esta noite, lembrou a si mesma. Esse era o motivo pelo qual estava aqui esta noite... Para fazer algo que pudesse ajudá-la a relaxar um pouco. Algo que ela amava fazer... Talvez pela última vez.
Dançar.
Kelly Darcy adorava dançar. Na verdade, ela adorava se apresentar... Incluindo pole dance. Era uma das coisas que nunca mencionou ao pai porque sabia que não era algo esperado dela como filha de Raymond Darcy... Ou talvez porque uma parte dela sabia que seu pai desaprovaria.
A questão é que era algo que ela fazia por diversão. Algo que a fazia feliz. E quando sua amiga Elizabeth, a quem chamava de Lizzie, disse que a dançarina principal do seu desfile de moda havia adoecido de repente e que precisava de uma substituta urgentemente, Kelly se ofereceu para substituir a dançarina.
Ela havia dançado e se apresentado muito na faculdade, sem o conhecimento de seu pai, é claro, então sabia que conseguiria lidar com isso com facilidade.
Para Kelly, a sensação de estar no palco era como uma espécie de adrenalina, uma euforia, se preferir... cheia de endorfinas. Sentia-se em casa, sentia-se segura, sentia que era um espaço para ser quem realmente era. Quando se apresentava no palco, experimentava um fluxo. Perdia-se em si mesma. Deixava o fluxo tomar conta de seu corpo e mente. Perdia-se, tanto física quanto mentalmente, no palco, na música, no show e com o público. Sentia que desenvolvia uma "conexão espiritual com o público" e, quando se apresentava, não precisava pensar em suas preocupações. Não precisava pensar em nada.
Ela também adorava a provocação. Quando dançava, sentia-se sexy e poderosa, como se estivesse no controle. Como se pudesse fazer o público fazer o que quisesse.
Talvez isso fosse uma maneira de escapar da realidade, mesmo que por um curto período. Fazer algo que gostava mais uma vez. Esta noite seria para se divertir um pouco, pensou enquanto se sentava para retocar a maquiagem. Ela iria lá e daria o seu melhor.
Dimitri Collins estava sentado no teatro, com a palma da mão esquerda apoiando a cabeça, uma expressão entediada no rosto. Ele olhou para seus amigos. Eles pareciam estar se divertindo muito, e deveriam estar, porque as apresentações até agora foram todas boas. O problema era com ele, por algum motivo ele simplesmente não estava sentindo. Estava pensando em dizer a David e Spencer que iria embora em breve, quando de repente as luzes do palco se apagaram.
"Uau, que entrada dramática. Me pergunto o que vai acontecer agora", disse sarcasticamente na escuridão e então sentiu David cutucá-lo no braço com o cotovelo.
"Caramba. Que diabos, cara", resmungou, esfregando o local onde David o atingiu.
"Cala a boca", respondeu David simplesmente.
Dimitri estava prestes a responder com um comentário sarcástico, mas o holofote no palco voltou a acender, revelando uma porta preta. A porta se abriu assim que a música começou e uma mulher saiu, seguida por um grupo de dançarinos, tanto homens quanto mulheres.
Os outros coreógrafos no palco não importavam, não para Dimitri, porque essa mulher, quem quer que fosse, se destacava. Como uma rosa vermelha no meio de cem rosas negras.
Dimitri, é claro, esperava ver modelos, já que era um desfile de moda, mas, mesmo assim, a entrada dela, tornada ainda mais dramática pelo uso dos holofotes e da música pulsante, o pegou de surpresa.
Os outros usavam preto. Ela usava um maiô vermelho e botas pretas, sexy, até o joelho. O maiô era aberto nas costas, projetado para seduzir e provocar, e funcionava, a julgar pelos aplausos e murmúrios de apreciação vindos da plateia.
Seus cabelos ruivos caíam longos e soltos sobre os ombros e eram a única coisa que mantinha o maiô dramático vagamente decente. O maiô era habilmente cortado para expor suas pernas longas, sua cintura estreita e o tentador contorno de seus seios. Um manto diáfano flutuava ao redor de seu corpo, dando a ilusão de que ela estava caminhando através da névoa.