Capítulo Um
Conforme os anos passavam, Barbara e eu nos tornamos mais próximas do que irmãs. Tínhamos tudo planejado para até mesmo frequentar a faculdade juntas. O destino tem uma maneira de virar a vida de alguém de cabeça para baixo. Aos dezessete anos, comecei a perceber que algo diferente estava acontecendo comigo. Sentia como se houvesse uma presença espiritual que me visitava ou ficava comigo. Ouvia uma voz sussurrando no meu ouvido, como se meu subconsciente tivesse desenvolvido uma maneira de falar. Era curioso e assustador ao mesmo tempo. Demorei vários meses para me acostumar com a presença. Muitas vezes, tentava bloqueá-la, com medo de ser vista como alguém com uma condição psicótica, o que eu nunca tive. Nunca informei minha mãe ou meu padrasto; estava apavorada com o que eles poderiam pensar de mim.
Junto com esse novo senso de poder que estava evoluindo dentro de mim, também comecei a notar coisas diferentes que nunca havia percebido na infância. Minha mãe começou a agir de maneira diferente, havia dias em que eu questionava quem ela realmente era. A mãe carinhosa e dedicada que ela era quando eu estava debilitada começou a parecer uma fachada. Nos meus devaneios mais selvagens, temia que ela pudesse estar possuída. Ela mudava da mãe que eu conhecia para uma pessoa sombria e distorcida em questão de minutos. Ela era doce como mel, a menos que eu testasse seus limites, então uma megera furiosa aparecia como uma tempestade perigosa.
Às vezes, eu desmaiava e acordava com pouca memória do que havia acontecido. Hunter, eu podia perceber, era diferente dos outros homens. Era como se houvesse um segredo que nenhum dos dois me contava. Havia dias em que ele desaparecia, e minha mãe nunca insinuava para onde ele tinha ido. Ele sempre voltava, e isso me deixava feliz. Minha mãe parecia preocupada quando ele voltava, eu tentava perguntar a ela, mas ela dizia: "Você não entenderia, isso é assunto de adulto, está além da sua compreensão". Como se isso fosse conter minha curiosidade?! Ela deveria saber que eu sempre fui uma mente curiosa, por isso tinha grandes sonhos de frequentar a Universidade de Cambridge para me tornar jornalista. Eu gostava de uma emocionante busca por notícias.
Conforme os anos passavam, nunca vi minha mãe tão feliz quanto ela estava com Hunter Eldridge. Eu não estava completamente feliz; sentir que era diferente de todos que conhecia era inquietante e deprimente às vezes.
Eu tinha sonhos em que caminhava por uma floresta lado a lado com um lindo lobo. A floresta parecia estranhamente familiar, embora eu soubesse que nunca estive lá. Sentia-me conectada a essa floresta como se uma parte da minha alma estivesse ali. Eu caminhava por essa área sentindo uma paz na vida. Meus olhos brilhavam com um tom roxo enquanto eu olhava para o céu noturno. Os sonhos pareciam tão reais, mas eram tão estranhos, eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Parecia que algo escondido profundamente na minha alma estava rompendo suas amarras e vindo à tona. Isso me aterrorizava profundamente, o que era essa força oculta que estava se revelando? Por que eu estava começando a sentir como se tivesse outra presença vivendo comigo? O que era isso? Como perguntar à minha mãe ou ao meu padrasto?
Mantive esses pensamentos no fundo da minha mente, ouvi uma voz fraca na minha cabeça "Molly!" Eu ignorei a voz, mas era difícil ignorá-la quanto mais perto eu chegava do meu décimo oitavo aniversário, a voz continuava a crescer mais forte.
"Molly! Você pode me ouvir?"
"Não! Você é uma ilusão, vá embora" eu respondi bruscamente e tentei bloquear a voz.
Um dia, um incidente muito incomum aconteceu, me arrepiando até o âmago, enquanto eu fazia um tour pela faculdade com minha melhor amiga Barbara. Não entendo o que aconteceu, mas as barreiras finalmente se romperam, e eu não consegui mais manter a voz afastada.
Senti o cheiro mais intoxicante que me fez pular e dançar de alegria. Ela cantava de felicidade, enquanto um homem lindo passava por mim em um pub da faculdade. Nossos olhos se encontraram, eu não conseguia desviar o olhar de seus olhos cativantes. Pelo canto do olho, vi minha melhor amiga Barbara olhando para ele de olhos arregalados, em êxtase com o maior sorriso. Eu estava tão absorta com esse Adônis na minha frente que não prestei atenção nela. Ouvi ele sussurrar algo, com nossos olhares fixos, ele se aproximou de mim, pegou minha mão e me puxou para seu abraço. Sua cabeça foi para o meu pescoço, arrepios cobriram minha pele, e minhas pernas ficaram fracas quando senti ele respirar profundamente.
Ele levantou a cabeça para encontrar meu olhar. Seus olhos caíram sobre meus lábios entreabertos, e ele selou meus lábios com um beijo ardente. Naquele momento, soube que tinha encontrado meu príncipe encantado. Tudo parecia perfeito, no entanto, mal sabia eu o quanto minha vida iria mudar depois disso. Se alguém tivesse me dito naquele momento o caminho que minha vida iria tomar, eu teria rido.
Tantos segredos ocultos que eu viria a descobrir, e a dura realidade de que a vida nunca é o que parece. Olhando para trás, fico questionando tudo, todas as mentiras que estavam escondidas na minha frente. Agora, percebo que a pessoa com quem eu vivia era o maior monstro de todos!