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1. Hora de viajar

A lua começou seu curso noturno pelo céu. O corpo celeste branco como algodão piscava sua suave luz azul no rosto de Emmalyn enquanto ela se sentava sob a bela árvore, "a Deusa Verde". Suas costas descansavam contra a casca áspera que envolvia o tronco imponente. Com os olhos voltados para cima, ela deixou sua mente vagar.

Já fazia alguns anos desde que sua mãe faleceu, enterrada perto de onde ela agora se sentava. Em vez de olhar para a lápide desgastada e desbotada, Emmalyn continuou a observar as sombras dançantes nas folhas acima dela enquanto balançavam na brisa suave. Logo, ela precisaria partir novamente e caminhar até a vila para buscar suprimentos.

A jornada em si não era difícil. Seria muito mais curta se ela não voltasse tantas vezes ou tentasse despistar qualquer um que pudesse segui-la. Para ela, a necessidade de segredo era primordial. Sua mãe havia lhe ensinado desde jovem que elas viviam em um lugar perigoso. Eles a caçariam se soubessem quem ela era e o que podia fazer. Sua sobrevivência era fundamental.

Eles postavam guardas na entrada do vale. A milícia via os habitantes do vale como monstros. Era isso que a maioria deles era. Em gerações passadas, baniram os monstros que atormentavam o mundo exterior para este lugar esquecido, este vale entre montanhas intermináveis. Humanos eram os únicos que chegavam. Eles nunca deixavam o vale depois de entrar.

Ela respirou fundo e segurou o ar por um momento. O cheiro da flor favorita de sua mãe encheu suas narinas. Lembrou-se do tempo em que trouxe aquelas flores para ela, quando sua mãe estava morrendo. O aroma floral a fez lembrar daquele dia. Em vez de se sentir triste, um sorriso tocou seus lábios. Emmalyn estava feliz que sua mãe estava livre da dor.

Emmalyn suspirou antes de se levantar do chão. O inverno estava chegando, ela podia sentir ao seu redor. As pequenas parcelas que ela cultivava não sobreviveriam ao inverno. As coisas renasciam na próxima estação. Ela plantaria as colheitas, cultivaria as mudas, colheria os frutos e limparia a terra uma vez que as plantas morressem. Era o ciclo interminável da vida.

Não havia ninguém além dela por milhas. As árvores cresciam juntas, criando a sensação de segurança que ela precisava. Ela sempre agradecia à Deusa Verde por mantê-las fora da vista comum.

Emmalyn caminhou de volta para a pequena casa onde vivia. Ela se misturava com a floresta ao redor. Outra maneira de se manter escondida. Um pequeno fogo aquecia sua pequena morada, emitindo luz das chamas tremeluzentes. Ela se sentou em sua cama na casa de um cômodo enquanto o calor do fogo preenchia o ambiente.

O novo dia deu as boas-vindas a Emmalyn. Imediatamente, ela sentiu um senso de temor. Ela sabia o que o dia traria. Seus pensamentos se voltaram para a jornada até a vila. Era algo que ela desprezava, deixar a segurança e o conforto de sua casa. A caminhada era apenas uma curta distância.

Uma leve rajada de vento soprou pelo vale, passando suavemente pelos ramos das ervas que cresciam no parapeito da janela. Ela colheu algumas para a jornada. Com pouco tempo a perder, Emmalyn precisava partir antes que o sol estivesse muito alto.

O sol ainda estava subindo no céu quando ela deixou seu pequeno abrigo; seus suprimentos estavam prontos. Um sorriso surgiu em seus lábios. Ela tocou a casca áspera da Deusa Verde.

"Voltarei em breve," ela sussurrou. Era uma promessa que sempre fazia.

O sol já havia se erguido completamente, lançando raios ofuscantes no ar. Uma brisa fresca acariciava as árvores e os jardins de ervas. Emmalyn estava feliz por estar usando seu casaco pesado. A neve já cobria a paisagem ao redor.

Enquanto caminhava pela trilha de terra, ela contemplava o que precisava na vila. Começou a olhar na floresta em busca de sinais de que estava sendo seguida. Emmalyn tinha o hábito de desaparecer na floresta quando sentia vontade. Não era para caçar outras fontes de alimento na floresta. Ela buscava a calma das árvores ao seu redor.

Com pouco tempo a perder, Emmalyn aventurou-se na floresta. Procurou por muito tempo, não deixando nada para trás. Não havia sinais de outros seres, nada além dos cheiros de cogumelos e frutas silvestres. Ela parou no meio da floresta. Com os olhos atentos, virou a cabeça para o lado. Nada. Silêncio.

A mulher de cabelos escuros afastou-se para o lado, evitando a trilha que usava há anos. Caminhava com facilidade e graça, quase deslizando sob a grama macia que cobria o chão da floresta. Os cheiros de pinho invadiram Emmalyn enquanto ela passava por algumas grandes árvores cobertas de agulhas, pinhas e neve.

Escondida nas sombras, Emmalyn observava um pequeno esquilo correndo ao redor, encontrando as fendas e rachaduras no enorme tronco da árvore. A pequena criatura se movia rapidamente, entrando e saindo das pequenas aberturas no tronco. Emmalyn se maravilhava com a agilidade que ele possuía. Seus olhos vasculhavam o chão em busca de sinais de outros. Ela focava seus ouvidos nos sons da floresta ao redor. Nada. Ainda assim, uma sensação de inquietação rastejava sobre sua pele. Silêncio contínuo.

Ela se virou e voltou para o caminho em que estava quando perdeu a noção do tempo. Lutando com seus pensamentos, Emmalyn não tinha certeza de para onde ir. A sensação de inquietação daquela manhã ainda a incomodava. Por um tempo, ela continuou, ainda procurando.

Emmalyn balançou a cabeça como se precisasse afastar a preocupação. Era uma distração, algo que consumia sua energia quando deveria se concentrar em chegar à vila.

Com determinação renovada, Emmalyn voltou ao caminho e continuou. Abenwae estava a apenas algumas horas de distância. Se quisesse chegar antes do anoitecer, precisaria parar de deixar seus pensamentos ditarem seu ritmo. Com os olhos voltados para baixo, ela observou seus pés pelas próximas horas até que a muralha externa da vila apareceu à vista.

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