




Capítulo 1
(Renata Pellegrini - Estados Unidos)
As cores azuis dominavam tudo, mal dava para ver as partes de metal, o vidro espelhado cobria tudo como uma folha, com certeza tem mais de quinze andares aqui.
Respiro fundo, não faz nem duas horas que pisei em terra firme e já sinto como se estivesse me afogando.
Queria que meus pais estivessem vivos, queria muito poder trazê-los comigo, dar uma vida melhor para eles. Queria muito vê-los sorrindo, mesmo que fosse só mais uma vez...
Não é hora de ter pensamentos tristes! Dou um tapa nas bochechas e estufo o peito, agora é hora de ter coragem.
Abro as portas e seguro firme as alças da minha bolsa, preciso encontrar o gerente e entregar a carta de recomendação, minha professora me disse que assim que eu entregasse, estaria praticamente contratada, tudo o que eu precisava fazer era dizer o nome do amigo dela: Matteo Valentini.
Será que esse homem é parente do Filippo? Eles têm o mesmo sobrenome, mas nunca encontrei nada sobre esse Matteo. Não importa, só quero ser contratada, e se esse nome vai garantir isso, que assim seja.
Quando entro no prédio, o interior é muito mais luxuoso do que o exterior. Preciso me controlar. Este ambiente agora será meu local de trabalho. Tenho que tratá-lo como qualquer outro lugar.
Caminho até o balcão, minhas pernas estão instáveis, mas à medida que me aproximo, meu maxilar fica mais rígido.
"Como você pode ser tão incompetente, seu imbecil..."
"Bom dia!" interrompo a garota loira que está me olhando de cima a baixo.
"Quem é você?" ela pergunta, e posso ler nos olhos dela que ela acha que alguém como eu nem deveria pensar em pisar ali. "Você sabe que aqui é a Computing Diamond?"
Me seguro para não revirar os olhos, me dá tanta raiva ser tratada assim, por que pensei que este lugar seria diferente?
"Sou Renata Pellegrini, vim aqui para..."
"Ah, sim, Carol me disse que você viria."
Então ela deve ser a gerente deste lugar, não gostei dela, mas o que posso fazer? Aceitar e torcer para ser contratada, não tenho nem cinco centavos no bolso, imagine alguns dólares.
"Que bom que você já estava ciente da minha chegada..."
"Não só a sua, outras pessoas também foram informadas de que estariam aqui hoje."
Que mulher rude! Respira, Rê, você precisa desse emprego, e já deveria estar acostumada a lidar com pessoas assim.
"Entendo, então imagino que você saiba que vim para a entrevista para a vaga de..."
"Vá embora."
"O quê?" Pisquei os olhos em confusão.
"Você por acaso é surda? Você não está apta para trabalhar aqui, olhe para suas roupas, você nem sequer passou maquiagem. Volte para o lugarzinho de onde você veio."
"Por favor, não faça isso, eu vim de longe, me disseram que eu já estava praticamente contratada, que a entrevista seria apenas uma formalidade, larguei tudo o que tinha para vir aqui, por favor, me dê uma chance, prometo que você não vai se arrepender!" Digo tudo de uma vez, meu coração batendo forte no peito. Pressiono a língua no céu da boca, não posso chorar aqui, não na frente de todas essas pessoas.
Ela me olha com um sorriso maldoso no rosto, sob seu olhar me sinto inferior, como alguém pode ser tão arrogante?
"Então você está disposta a aceitar qualquer serviço?"
Estou? Vim aqui para ser assistente pessoal do Filippo, mas parece que nem vou pisar aqui amanhã, não quero passar fome.
"Sim," não consigo esconder a decepção na minha voz.
"Ok, há uma vaga de limpeza aberta, se você quiser, é sua."
Que droga! Não quero desmerecer quem trabalha como faxineiro, porque de certa forma a empresa só funciona porque eles limpam o ambiente, mas é que estudei tanto para conseguir um bom emprego, e no final vou acabar como faxineira.
Não importa o que me digam, isso é frustrante, queria trabalhar na frente de um computador, não limpando banheiros.
"Sim, eu quero," respondo. "Quando começo?"
"Agora mesmo, venha comigo."
Caminhamos até o final de um corredor, parando em frente a uma porta de alumínio. Bem, parece que nem tudo é tão luxuoso.
"Aqui é o vestiário dos funcionários."
Ela entra e eu a sigo, ela abre a porta vinte e três e me entrega a chave do armário.
"O uniforme que você vê aqui é tamanho P, deve servir em você, vamos te vestir logo."
Vou até o armário e pego as roupas: um jaleco verde, um avental branco com dois bolsos frontais e calças do mesmo tecido do jaleco. Não consigo identificar o tecido, mas não é um tecido grosso.
"Ah, não disse meu nome, sou Veronica."
"Prazer em conhecê-la," estendo a mão por educação, mas ela revira os olhos.
"Vamos direto ao ponto, ontem à noite, o Sr. Valentini me pediu para limpar o escritório dele, como você pode ver, estávamos com falta de faxineiros. Ele ainda não chegou, quero que você limpe a sala dele adequadamente antes que ele chegue, não toque em nada e saia dessa sala em trinta minutos, estou clara?"
"Sim, senhora."
"Ótimo, ali está o material que você vai usar," ela aponta para outra porta de alumínio. "Use o elevador dos faxineiros e vá rápido."
Ela me deixa sozinha no vestiário, esperando que o destino não tenha mais surpresas negativas reservadas para mim.
Pego os materiais e vou para o elevador, esqueci de perguntar em qual andar fica o escritório do Sr. Valentini, vou apertar o último botão, seja qual for.