




O vestido de veludo azul
Jess viu Clara tirar uma caixa rosa debaixo da cama e sussurrou:
— Vamos ver o que tem aqui?
Clara desfez a fita e abriu a tampa da caixa. Jess ofegou quando Clara tirou um vestido de veludo azul.
— É lindo — exclamou Jess, olhando para o vestido com admiração.
Clara desdobrou o vestido e o colocou sobre a cama.
— Eu sei que você gosta de roupas e artes... mas onde você conseguiu esse vestido lindo? — perguntou Jess.
— Venha experimentá-lo — insistiu Clara.
Jess hesitou em experimentar o vestido ao ver o quão caro ele parecia. E se o vestido rasgasse ou estragasse? Como eu pagaria por isso? Ela pensou consigo mesma.
O dinheiro que ela ganhava no restaurante local mal dava para viver. Embora ajudasse a pagar algumas contas da casa, Jess sabia que seu salário de um ano não poderia comprar o vestido nas mãos de Clara.
Vendo sua hesitação, Clara disse:
— Minha prima que mora na capital me deu de presente de aniversário há uns dois anos. Infelizmente, não serviu em mim, e eu guardei nesta caixa rosa, esperando a pessoa certa com uma figura esbelta como a da minha prima para quem eu pudesse dar.
— Mas como ela conseguiu comprar um vestido tão caro? — questionou Jess, estreitando os olhos para Clara.
Clara não respondeu, sabendo que Jess poderia decifrar suas mentiras através de suas palavras. Ela virou o rosto para longe de Jess enquanto respirava fundo. Não era o momento certo para isso, pensou Clara.
Quando ela trouxe o vestido para mostrar a Jess, não lhe passou pela cabeça que Jess, uma pessoa curiosa, teria uma série de perguntas sobre como ela poderia pagar por um vestido tão caro.
Ela precisava inventar uma história para despistar Jess. Embora Jess parecesse ter acreditado na pequena história sobre o vestido ser um presente de uma prima que morava na capital, Clara ainda podia ver a roda da suspeita girando em sua cabeça.
— A mãe dela teve a sorte de se casar com um nobre rico — respondeu Clara.
Jess assentiu, mas sabia em seu coração que havia mais nessa história do que Clara estava disposta a compartilhar. Jess percebeu que sabia pouco sobre Clara ou de onde ela vinha.
Jess lembrou-se de ter conhecido Clara há cerca de dois anos, quando foi ao mercado vender algumas roupas que fez com as próprias mãos. A colheita daquele ano foi ruim.
O Sr. Edmud, chefe do conselho da vila, era conhecido por sua ganância e desrespeito pela lei que deveria defender. Os pobres aldeões eram apenas uma ferramenta em suas mãos para acumular riqueza, explorando sua ignorância para extorquir seu dinheiro suado.
Ele instituiu um sistema em que os aldeões tinham que pagar não apenas o imposto anual remetido aos cofres da família real, mas também um imposto adicional conhecido como imposto do conselho local, instituído pelo próprio Sr. Edmud.
Nenhum dos aldeões ousava buscar uma audiência com o rei para informar sobre as más ações do Sr. Edmud. Apesar da colheita ruim experimentada pelos aldeões, o Sr. Edmud ainda insistia no pagamento do imposto do conselho local, ou as pessoas perderiam suas terras agrícolas por dois anos.
A terra agrícola era a única fonte de renda da família Smith. Perder a terra por dois anos para as mãos cruéis do Sr. Edmud significava nada menos que fome. Michael Smith fez tudo o que pôde dentro de seus meios para solicitar fundos de amigos e parentes, mas todos os esforços foram em vão.
Vendo a situação e julgando pelos muitos anos que ele envelheceu em apenas alguns dias por causa do estresse, Jess optou por vender algumas de suas roupas feitas à mão no mercado da vila.
Ela enfrentou o sol naquela tarde quente e conseguiu encontrar um pequeno barraco para exibir suas mercadorias e se proteger dos raios do sol, mas o barraco fez pouco para poupá-la dos raios do sol escaldante. Apesar disso, Jess estava animada, esperando fazer algumas vendas, mas depois de quatro horas sem um único cliente em seu estande, ela ficou desanimada.
Jess olhou ao redor do mercado e viu as pessoas guardando suas mercadorias e indo para casa. Ela também começou a guardar suas roupas na pequena bolsa pendurada em seus ombros.
Ela abaixou a cabeça enquanto caminhava para casa, olhando para a areia fina e as pedras que decoravam o chão, quando sentiu alguém colidir com ela. Jess rapidamente se desculpou, mesmo não sendo sua culpa, mas porque era sua segunda natureza pedir desculpas, não importando de quem fosse a culpa.
Ela levantou a cabeça para olhar a mulher que havia esbarrado nela e seus olhos encontraram uma jovem de cabelos castanhos. Ela olhava ao redor freneticamente, como se alguém estivesse atrás dela.
Jess saiu do caminho e estava prestes a continuar sua jornada para casa quando sentiu alguém agarrar seus braços. Jess perdeu o equilíbrio e caiu para trás, mas uma mão segurou sua cintura a tempo de impedir sua queda.
— O que você está fazendo? — perguntou Jess à estranha, tentando acalmar seu coração.
— Shhh. Alguém está atrás de mim. Fique parada por um tempo e finja que sou sua irmã que você não vê há muito tempo — disse a mulher.
Jess congelou ao ouvir isso e ficou parada sem se mexer, enquanto escaneava o ambiente com os olhos para ver se havia uma possível ameaça por perto. Suas sobrancelhas se franziram em confusão quando notou que os aldeões estavam conduzindo seus negócios normalmente.
— Ufa. Ela quase me pegou! — disse a mulher.
— É melhor eu voltar agora antes que ela perceba minha ausência — comentou a mulher enquanto soltava suas mãos ao redor do pescoço de Jess.
— Obrigada por me ajudar. Meu nome é Clara — ela se apresentou, olhando intensamente para Jess, esperando ouvir seu nome.
— Qual é o seu nome? — perguntou Clara, enquanto Jess estava perplexa, sem entender o que havia acontecido, ainda processando o que Clara quis dizer quando disse que alguém estava atrás dela.
— Quem estava atrás de você? — questionou Jess.
— Ah! Era minha chefe. Ela pode ser um pé no saco às vezes. Eu tinha acabado de sair para dar uma pequena pausa quando a vi caminhando em minha direção. Tive que me esconder antes que ela me pegasse e me mandasse de volta para onde eu vim — explicou Clara.
— Ah! — foi tudo o que Jess conseguiu dizer.
— Desculpe pela falta de educação. Meu nome é Jess Smith — Jess se apresentou, coçando o lado da cabeça. Clara havia mencionado algo sobre trabalhar para uma mulher e estava se perguntando se havia alguma vaga para ela se candidatar.
— Prazer em conhecê-la. Eu te devo uma — disse Clara, virando-se para sair, mas foi puxada de volta por Jess. O puxão foi repentino. Clara quase tropeçou, mas Jess a estabilizou, assim como Clara havia feito com ela alguns minutos antes.
— Sim! Há algo que você gostaria de perguntar? — Clara perguntou, vendo a expressão curiosa no rosto de Jess.
— Você acha que eu poderia me candidatar a um emprego no lugar onde você trabalha? — Jess perguntou timidamente.
— Sim! Só se você conseguir lidar com isso — disse Clara.
— Por que você está sempre viajando na maionese? — Jess ouviu a voz de Clara enquanto piscava os olhos.
— Eu viajei de novo? — perguntou Jess, já sabendo a resposta.
Clara assentiu com a cabeça.
Jess tirou suas roupas íntimas enquanto Clara a ajudava a vestir o vestido. Ele se ajustou ao seu corpo como se a costureira o tivesse feito sob medida para ela. A cor azul de veludo do vestido acentuava sua beleza e a fazia se destacar.
— Estou feliz por ter guardado o vestido... ele fica ótimo em você — comentou Clara.
Clara ajudou Jess a tirar o vestido com cuidado e o colocou dentro de uma bolsa. Ela também incluiu uma caixa embrulhada com uma fita azul dentro da bolsa sem que Jess percebesse.
— Este vestido é bastante caro — afirmou Jess enquanto passava a mão pelo material.
— Esqueça o custo. Você não tem muito tempo antes do baile começar. Posso te ofender com esta palavra, mas você também precisa se limpar porque está horrível agora — disse Clara enquanto entregava a bolsa para Jess.
Jess queria fazer mais perguntas, mas Clara colocou as mãos ao redor dos braços dela e virou seu rosto em direção à porta enquanto a acompanhava para fora.
— Rápido agora, vá se preparar para o baile e não se esqueça de me contar todos os detalhes amanhã — disse ela.