




Rua Walker
Ao contrário das manhãs habituais e tranquilas, a lanchonete estava animada com homens e mulheres que haviam chegado em grande número para participar do baile anual organizado pelo palácio em homenagem ao aniversário do príncipe herdeiro.
O palácio organizava um baile anual para celebrar o aniversário do príncipe herdeiro. O príncipe estava no exército há dez anos. Homens e mulheres lotavam o evento, na esperança de esbarrar no príncipe e, possivelmente, se familiarizar com a família real.
Havia especulações de que o príncipe herdeiro compareceria ao baile deste ano. As garotas estavam vestidas com suas melhores roupas coloridas e bonitas, com maquiagem cobrindo suas peles secas, na esperança de ver o príncipe e a família real.
"Ouvi dizer que o príncipe é muito bonito, com um olhar penetrante pelo qual alguém poderia morrer", disse uma garota vestida com um vestido vermelho escandalosamente curto. Seu decote estava quase saltando para fora do vestido. Gotas de suor escorriam pelo seu rosto, provavelmente devido ao vestido apertado.
"Será que ela consegue respirar com isso?", pensou Jess enquanto anotava os pedidos.
"E como você sabe disso?", perguntou outra mulher sentada ao lado dela. Um olhar para a mulher foi suficiente para Jess perceber que eram irmãs.
"Você já viu o príncipe antes?", continuou a pergunta com uma sobrancelha levantada e um sorriso malicioso no rosto.
Ela sabia que sua irmã estava apenas blefando e queria expor suas mentiras. Todas as jovens que Jess havia encontrado naquela noite estavam competindo pela posição de princesa herdeira.
Jess não se importava com algum príncipe nascido em berço de ouro; ela tinha coisas muito mais importantes com que se preocupar. Ela conseguiu se desviar de alguns homens e belas jovens que riam entre si sem olhar para onde estavam indo.
Quando Jess chegou ao balcão, desabou atrás de sua colega, que estava ocupada passando maquiagem e se olhando no espelho. Ao contrário de Jess, essa bela mulher de trinta e poucos anos tinha um grande interesse por moda.
Como garçonetes, elas sempre tinham que estar de uniforme e não tinham tempo para se arrumar, pois estavam sobrecarregadas e com falta de pessoal.
Mas isso não impedia Clara de cobrir o rosto com maquiagem pesada, mesmo sendo a chef e tendo que estar sempre perto do calor escaldante que emanava da pequena cozinha com uma janela minúscula que mal deixava entrar ar fresco.
Jess se alongou um pouco para aliviar seus músculos cansados. Ela avistou a pequena cadeira atrás de Clara e decidiu descansar as pernas antes que o próximo lote de pedidos estivesse pronto. Seus tornozelos e pés doíam de tanto ficar em pé sem uma pausa.
Ela mal descansou por cinco minutos quando viu sua chefe, Ariana Deen. Ela odiava ver seus funcionários relaxando quando poderiam ganhar mais dinheiro para ela. Era uma mulher difícil de agradar, mesmo quando você trabalhava até os ossos.
Jess rapidamente se levantou, alisou o uniforme de saia com as mãos, pegou seu bloco de notas e começou a servir diligentemente os clientes sempre exigentes, alguns dos quais nem sabiam o que queriam pedir.
Alguns eram rudes e tinham pouca ou nenhuma educação ao falar com uma garçonete; achavam que as garçonetes estavam abaixo deles. Mas Jess precisava desse emprego mais do que qualquer coisa no mundo.
Ela estava servindo os últimos pedidos quando percebeu que as pessoas começaram a se dispersar para suas várias casas e pousadas, onde haviam reservado com antecedência para a noite em homenagem à ocasião.
Ela sentiu que estava sendo observada, o que a fez se virar para olhar, mas as pessoas saindo apressadas pela porta a fizeram tropeçar. Antes que pudesse recuperar o equilíbrio, todos os clientes restantes já haviam saído, exceto por uma mulher que parecia interessada nela.
Ela olhou para fora da porta e viu que a luz havia se esvaído, cedendo seu domínio sobre o terreno às sombras, enquanto a escuridão se aproximava lenta e constantemente. O céu laranja havia se transformado em uma cobertura preta como carvão, com milhões de pequenos pontos brilhantes que cintilavam como vagalumes.
Jess suspirou aliviada, pois isso significava que seu trabalho estava quase terminado e ela finalmente poderia ir para casa e desabar na cama. Ela foi até a mesa onde a mulher estava sentada para informá-la que a lanchonete logo fecharia suas portas para a noite.
Ao se aproximar, notou que a mulher parecia estar na casa dos quarenta e tinha uma expressão serena, ao contrário dela, que parecia estressada.
"Desculpe incomodá-la, senhora, mas estamos prestes a fechar a lanchonete, pois já está tarde," disse com um sorriso educado, não querendo que a mulher sentisse que estava sendo rude e grosseira.
A mulher levantou a cabeça para olhar a jovem que havia despertado o interesse do príncipe herdeiro sem nem perceber.
"Eu não posso falhar nesta missão, definitivamente não," pensou a mulher.
"Qual é o seu nome?" perguntou, notando como a jovem mexia nas mãos, mas ainda mantinha um sorriso gracioso. O cansaço no rosto da jovem era evidente. Ela sabia que tudo o que essa jovem queria era que ela pagasse a conta e fosse embora para que pudesse fechar a lanchonete.
E ela estava certa. Jess não estava com humor para conversas. Hoje tinha sido um dos dias mais movimentados desde que começou a trabalhar na lanchonete há dois anos, e ela imaginava que continuaria assim até o fim do baile.
Querendo acabar com a conversa o mais rápido possível, ela disse, "Meu nome é Jess Smith," esperando que a mulher não fosse além de querer saber seu nome.
Mas, para o desespero de Jess, a mulher disse:
"Por favor, gostaria de falar com você sobre algo." Jess estava prestes a recusar quando a mulher levantou a mão e disse, "não vai levar mais de cinco minutos, eu prometo," ajustando sua cadeira para dar espaço para Jess se sentar ao seu lado.
"O que essa mulher quer discutir comigo a essa hora? Será que esse dia pode piorar?" pensou Jess.
Jess foi se sentar na cadeira oposta à mesa, em vez de ao lado da mulher. Ela levantou o olhar e notou a mulher a encarando intensamente, mas não comentou sobre sua escolha de assento.
"Sou Walker Lane, chefe do hospital real em Old Caswell," ela se apresentou.
Quando Walker Lane mencionou o nome do hospital real, isso chamou a atenção de Jess, pois ela há muito tempo queria trabalhar lá como ajudante desde que era adolescente.