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Jess Smith

Após uma série de guerras que levaram à morte de tantos soldados e entes queridos e após lutar contra a ganância e a corrupção de membros de alto escalão do conselho que causaram dificuldades indesejadas que duraram décadas, Zaza estava a caminho de se recuperar, pois o reino havia experimentado paz e tranquilidade por mais de uma década.

Quando a guerra estourou, Jess era apenas uma adolescente. Ela se lembrava de como toda a cidade estava em alvoroço, e o medo era evidente na expressão dos moradores da vila.

Ninguém sabia como impedir que a guerra chegasse às suas portas. Rumores sobre a velocidade de avanço dos invasores causavam calafrios na espinha daqueles que os ouviam.

Aqueles que podiam se dar ao luxo de fugir e tinham famílias no Extremo Oriente do país, descendo o Vale da Colina, fugiam no meio da noite, não se importando com o risco de encontrar os invasores. Muitas pessoas morreram após a seca que assolou a terra.

Como é comum em reinos que experimentam guerra, a economia estava em declínio, pois as pessoas não podiam cultivar ou comercializar com reinos vizinhos. Eles estavam sitiados por todos os lados, enquanto os pais viam seus filhos morrerem diante de seus olhos devido à fome e à desnutrição.

Jess estava atravessando o corredor uma tarde quando ouviu sua mãe dizendo ao seu pai que seu vizinho, Henry, e sua família haviam fugido para o Vale da Colina, onde ele tinha primos que os abrigariam.

— Querido, o que vamos fazer? — Jess ouviu sua mãe perguntar, com a preocupação evidente na voz.

Incapaz de resistir, Jess optou por escutar a conversa deles, então ela se aproximou da porta na ponta dos pés e espiou pelo buraco da fechadura.

Michael Smith estava de frente para a janela em seu quarto, com as mãos entrelaçadas nas costas, enquanto sua mãe estava sentada na cama com os braços cruzados.

Será que isso significava que eles iam morrer? Henry era conhecido por ser um lutador porque nada nunca o abalava. Foi surpreendente saber que ele fugiu no meio da noite depois de se gabar de que ficaria para lutar contra os invasores.

Até o rei e sua família fugiram? Jess pensou.

Mas para onde eles iriam? Eles não tinham parentes no Vale da Colina nem dinheiro para arriscar a jornada de atravessar a fronteira à noite para escapar para um país que não conheciam. Provavelmente morreriam no caminho, pensou Jess.

Jess queria ouvir a resposta à pergunta porque sua mente estava a mil. Ela sentia seu coração batendo tão forte que parecia que ele ia saltar do peito.

Michael Smith estava em silêncio, e a espera deixava Jess inquieta. Ela só queria alguma garantia de que tudo ficaria bem e que estariam seguros em Zaza.

Mas a resposta não veio, pois Michael Smith permaneceu em silêncio. Ele provavelmente estava pensando no que faria para garantir a segurança de sua família, mas mesmo em seu silêncio, Jess sabia em seu coração que ele estava tão confuso quanto todos os outros.

Oh Deus, espero que o rei pelo menos tenha feito arranjos para a segurança do povo antes de fugir da cidade. Como um rei que deveria proteger seus súditos pode abandonar as pessoas que jurou proteger? Jess se perguntou.

— O rei enviou uma carta ao chefe e instruiu que todas as mulheres e crianças fossem levadas para o castelo subterrâneo pelo Batalhão Real, onde estariam seguras dos invasores — afirmou Michael Smith.

— E os homens? — ela ouviu sua mãe perguntar.

— E quanto a eles? — veio a rápida resposta de seu pai, que Jess viu ter se virado para encarar sua mãe, que estava com as mãos na cintura enquanto batia o pé no chão.

Jess conhecia bem essa postura de sua mãe para saber que ela não estava nada satisfeita com a resposta que recebeu.

— E a segurança deles? — perguntou irritada.

— O rei quer que os homens lutem nesta guerra? Eles não são soldados treinados e não deveriam arriscar suas vidas enquanto a família real fica de braços cruzados em seu refúgio, assistindo nossos homens serem aniquilados pelos invasores e nossas mulheres e crianças ficarem desamparadas — disse Vera Smith.

— Vera — Michael Smith sussurrou o nome dela, talvez tentando acalmá-la.

Jess sabia que seu pai sempre chamava sua mãe por apelidos carinhosos. Mas sempre que sua mãe estava com raiva ou de mau humor, seu pai a chamava pelo nome verdadeiro, o que deixava sua mãe toda derretida.

— Não, pare de defendê-los.

— Por que homens sem experiência em combate militar devem ficar e lutar em uma guerra destinada a soldados? — protestou sua mãe.

— Onde está o rei que deveria nos proteger? Ele fugiu como o verdadeiro covarde que é e ainda espera que os homens de Zaza vão morrer! — disse sua mãe, com veneno nas palavras.

— Eu sei que você está com raiva, mas isso não é motivo suficiente para falar mal do rei. A segurança dele é de extrema importância por causa do símbolo que ele representa para o nosso povo. Enquanto ele estiver vivo, o povo de Zaza pode ter esperança de continuar lutando contra os invasores.

— Mesmo que os guardas reais tenham escoltado a família real para um esconderijo secreto para sua segurança, o batalhão real ficou para proteger o povo — afirmou Michael Smith. — Eu ouvi alguns soldados sussurrando no mercado ontem, dizendo que o príncipe herdeiro estava liderando o exército e estaria aqui em menos de uma semana.

— Temos que aguentar e rezar pela vitória de nossos soldados e da família real — Jess ouviu seu pai dizer, defendendo orgulhosamente a família real. Ele parecia até orgulhoso do príncipe herdeiro, cuja identidade era envolta em segredo.

Toda a vila realizava uma vigília de oração todas as noites para pedir vitória sobre seus inimigos que queriam aniquilá-los por causa de suas terras e tesouros.

Os invasores só conheciam o sangue. Eles não se importavam com quem pisoteavam com seus cavalos nem com os inúmeros inocentes que eram mortos em sua busca por poder e riqueza.

Jess se lembrava de chorar muito ao pensar que algo poderia acontecer com seu pai, já que os homens ficariam para lutar ao lado dos soldados.

O som da voz de sua irmã a trouxe de volta à realidade. Ela levou um momento para observar a jovem que estava diante dela, com as mãos nos quadris e os lábios franzidos.

— Estou chamando seu nome, mas parece que sua mente está em outro lugar. Você está com problemas? Espera, não me diga que foi demitida do seu trabalho? — perguntou com uma sobrancelha levantada enquanto batia o pé no chão, um traço que herdou de sua mãe.

— Bom dia, Mia. Espero que tenha dormido bem — Jess perguntou, ignorando a pergunta de Mia enquanto caminhava em direção à porta da cozinha nos fundos da casa.

Ela não tinha tempo para o drama de Mia naquela manhã, pois precisava se preparar para o trabalho. Contas precisavam ser pagas e a comida precisava ser reabastecida. Seu pai estava fazendo o melhor que podia, mas considerando sua idade avançada, ela não podia deixá-lo carregar todo o fardo sozinho.

Sua irmã Mia estava apenas preocupada com o baile anual que seria realizado na vila. Jess se perguntava por que decidiram realizá-lo em Black Wood Pine este ano. O baile normalmente era realizado nos terrenos do castelo por causa do calibre de pessoas que seriam convidadas.

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