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Quer saber por que estou irritada?
Estou irritada pelo fato de ter que sair do trabalho mais cedo sĂł para fazer compras.
Desde jovem, sempre tive pais superprotetores. Sim, eu amo minha mĂŁe e meu pai...
Sem eles, eu nĂŁo estaria onde estou hoje. Com um bom emprego e um marido rico...
Para qualquer um de fora, isso pareceria uma vida perfeita.
Mas sempre senti que estava perdendo algo. Meus pais foram muito rigorosos comigo enquanto eu crescia. Eles sempre esperavam que eu estudasse, nĂŁo saĂsse ou me divertisse... Apenas me absorvesse nos livros da escola 24 horas por dia, todos os dias.
Eu entendia de onde eles vinham. Meu pai trabalhava em uma fĂĄbrica, e minha mĂŁe era apenas dona de casa. Por isso, tĂnhamos dificuldades financeiras, e eu imaginava que era por isso que eles tinham expectativas tĂŁo altas de mim.
EntĂŁo, eu estudei muito. Estudei muito e tirei notas incrĂveis aos dezesseis anos.
Nas fĂŠrias de verĂŁo, todo mundo saĂa e se divertia, mas eu tinha que trabalhar em tempo integral para sustentar minha mĂŁe e meu pai, atĂŠ começar o ensino mĂŠdio.
Faculdade, dos dezesseis aos dezoito anos...
Eu estudei de novo.
Me afastei da vida social e me afastei de ter amigos. Porque eu queria focar.
Caramba, eu TINHA que focar.
E nas fĂŠrias de verĂŁo...
VocĂŞ adivinhou.
Eu trabalhei em tempo integral de novo.
E a mesma coisa aconteceu quando eu estava na universidade...
Tirei notas para entrar em uma universidade do Grupo Russell.
A melhor das melhores.
Achei que finalmente seria minha hora de me libertar, de me divertir...
Mas minha mĂŁe nĂŁo confiava em me deixar mudar de cidade. Ela achava que eu engravidaria de algum homem e voltaria com um filho de trĂŞs anos.
Meu pai a convenceu a me deixar mudar...
Mas durou apenas alguns meses, antes que meu pai começasse a ter dificuldades financeiras de novo, porque meu emprÊstimo estudantil não era suficiente para cobrir tanto o aluguel quanto as despesas de vida, morando no centro de Londres, a menos que eu quisesse comer feijão enlatado todas as noites.
EntĂŁo, eu tive que voltar...
Transferir para uma universidade mais prĂłxima da casa dos meus pais, para que eu pudesse facilmente ir de Ă´nibus ou trem.
Para os outros, isso pode nĂŁo parecer grande coisa...
Mas para mim, realmente me abalou emocionalmente.
Abalou minha saĂşde mental.
Todo mundo estava festejando e se divertindo.
Saindo para jantares.
Fazendo compras.
Comendo em restaurantes fofos todos os dias.
Mas para mim...
Todos os dias consistiam na mesma maldita rotina.
Acordar cedo...
Tomar cafĂŠ da manhĂŁ.
Ir para a universidade.
Assistir Ă s minhas aulas e seminĂĄrios...
NĂŁo me dar ao trabalho de falar com ninguĂŠm porque eu sabia que nĂŁo estava no estado mental certo para fazer amigos.
E depois ir para casa...
Estudar, cozinhar, limpar.
Poder usar o celular por algumas horas, no mĂĄximo.
Apenas rolando pelas redes sociais...
Rolando pelas notĂcias.
Pessoas da universidade tentavam se aproximar de mim, e me convidavam para sair e me divertir...
Mas minha resposta era sempre nĂŁo.
E todos os dias, esse ciclo se repetia.
AtÊ eu me formar com um Mestrado em Contabilidade e Finanças.
Me apaixonei por um homem na universidade...
Arturo Abruzzi.
Eu tentava encontrĂĄ-lo secretamente, durante os poucos perĂodos livres que eu tinha na universidade.
Mas eventualmente, meu pai descobriu.
Ele checou meu celular...
Proibiu-me de vĂŞ-lo.
E eu nunca mais ouvi falar dele.
Algumas pessoas podem dizer que seus pais nĂŁo podem ditar sua vida.
Que uma vez que vocĂŞ tem dezoito anos, vocĂŞ ĂŠ uma pessoa livre...
Mas eu nunca fui realmente livre.
Minha vida inteira girou em torno de agradar meus pais.
Atender Ă s expectativas deles...
Me fazendo infeliz no processo.
Eu nunca pude usar roupas sexy, sempre tive que me vestir modestamente, sempre tive um toque de recolher...
Mas apesar de tudo, fiquei feliz por poder ajudĂĄ-los.
Ter a estabilidade financeira para sustentĂĄ-los.
Pelo menos todos os meus anos de estudo valeram a pena...
Mas eu pensei que a sensação de solidão e vazio iria embora quando eu me casasse.
Que nada do passado importaria, desde que eu estivesse com um homem que eu amasse.