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Capítulo 7

Rachel

Cheguei em casa depois daquele encontro surreal com Vincenzzo Moretti, ainda tentando processar tudo o que havia acontecido. Eu me sentia estranha, como se estivesse vivendo uma vida que não era minha. O dinheiro que ele me deu, dez mil dólares, estava na minha conta, e com isso, consegui resolver algumas pendências que vinham me atormentando.

Paguei as contas que estavam se acumulando: aluguel, luz, água e internet. Também consegui comprar os remédios que minha mãe precisava urgentemente. Isso trouxe um alívio temporário, uma sensação de que pelo menos parte do peso havia sido tirado dos meus ombros. No entanto, a realidade ainda era dura. Eu sabia que esse dinheiro não duraria para sempre e que logo teria que lidar novamente com as preocupações financeiras que pareciam me assombrar a cada passo.

Sentei-me à mesa da cozinha, onde meu velho laptop ainda funcionava com dificuldade. Eu precisava agir rápido, precisava de um emprego, uma solução que não envolvesse algo tão drástico quanto o que Vincenzzo havia sugerido. Abri várias abas em sites de emprego, vasculhando cada uma em busca de algo que me desse esperança. Enviei meu currículo para várias empresas, sem grandes expectativas, mas com a necessidade urgente de tentar algo.

À medida que as horas passavam, eu me sentia cada vez mais cansada. A ansiedade apertava meu peito, uma sensação sufocante de que o tempo estava se esgotando e que eu estava em uma corrida contra o relógio. Eu queria acreditar que as coisas melhorariam em breve, mas a cada currículo enviado, a cada clique, eu me sentia um pouco mais derrotada.

Depois de algumas horas tentando, o cansaço tomou conta. Fechei o laptop e descansei a cabeça na mesa, desejando que o mundo parasse por um momento para que eu pudesse respirar. Foi nesse momento de exaustão que meu telefone tocou, me despertando de um quase cochilo. O nome da minha mãe apareceu na tela, e um frio percorreu minha espinha.

"Oi, mãe," atendi, tentando esconder meu nervosismo.

"Rachel, querida, o médico quer te ver," ela disse, a voz carregada de preocupação. "Ele disse que é urgente."

Minha mente começou a girar. O que poderia ser tão urgente? O medo tomou conta de mim. Desliguei o telefone rapidamente, meu coração batendo descontroladamente no peito. Eu sabia que precisava ir ao hospital, mas o medo do que poderia encontrar me paralisava. Não havia mais tempo para hesitar; eu tinha que enfrentar o que quer que estivesse por vir.

Peguei minhas coisas e saí de casa, rezando para que o que me aguardava no hospital não fosse tão ruim quanto minha mente estava imaginando.

Cheguei ao hospital com o coração na garganta, tentando manter a calma enquanto minha mente corria a mil por hora. Tudo o que eu conseguia pensar era no tom sério da voz da minha mãe ao telefone e nas palavras "urgente" e "médico". Não era a primeira vez que eu recebia notícias assim, mas a ansiedade nunca diminuía quando se tratava da saúde dela.

Assim que entro na sala de espera, sou recebida pelo médico, Dr. Moreira, um homem de meia-idade com uma expressão séria. Ele me cumprimenta com um aceno de cabeça e me conduz a uma sala mais privada, longe de olhares curiosos. Cada passo que dou em direção àquela sala parece pesar uma tonelada.

"Rachel, vou ser muito direto com você, porque esta é uma situação urgente," ele começa, sem rodeios, assim que fechamos a porta atrás de nós. A gravidade em sua voz faz meu estômago revirar, e sinto um arrepio na espinha que parece me paralisar.

"O que aconteceu? Como ela está?" Minha voz sai mais fina e frágil do que eu gostaria, traindo o nervosismo que estou tentando suprimir.

Ele respira fundo, passando a mão pelo cabelo ralo. "Sua mãe não está mais respondendo ao tratamento convencional, Rachel. Tentamos de tudo, mas agora... a única opção viável é a cirurgia. Uma cirurgia muito arriscada, devo acrescentar."

Minha mente se recusa a processar o que ele está dizendo. Cirurgia? Arriscada? As palavras ecoam na minha cabeça, sem sentido, como se ele estivesse falando em outra língua. "E... e quando ela pode fazer essa cirurgia?" pergunto, tentando me agarrar a qualquer fio de esperança.

Dr. Moreira parece mais cansado do que nunca. "Esse é o problema. O plano de saúde dela não cobre essa cirurgia."

Minha visão começa a ficar turva nas bordas, e meu coração dá um salto. "Quanto... quanto vai custar?"

Ele hesita, como se não quisesse dizer, mas finalmente solta as palavras, "Com exames, pré e pós-operatório, anestesia e tudo mais, estamos falando de algo em torno de 150 mil dólares."

Sinto como se o chão tivesse sido arrancado debaixo de mim. Cento e cinquenta mil dólares. Minha mente automaticamente tenta encontrar uma solução, uma saída, mas tudo o que consigo pensar é que estou completamente ferrada. Acabei de ser demitida, a única renda que tive recentemente foi o dinheiro de Vincenzo, e mal é suficiente para me sustentar por mais alguns dias.

"Você não está falando sério..." Minha voz é um sussurro, quase inaudível.

"Eu gostaria de dizer o contrário, Rachel. Mas infelizmente, essa é a realidade," ele responde, me encarando com uma expressão de genuína tristeza.

Por alguns momentos, o silêncio reina na sala, espesso e sufocante. Estou à beira do desespero, mas sei que não posso desmoronar agora. "Quanto tempo ela tem? Para esperar pela cirurgia?" pergunto, tentando manter a voz firme.

Dr. Moreira respira fundo novamente, olhando diretamente nos meus olhos. "Para ser honesto, no máximo uma semana. Não podemos esperar mais do que isso."

Uma semana. Sete dias. Cento e cinquenta mil dólares.

O mundo parece desmoronar ao meu redor, mas tudo o que consigo pensar é que preciso fazer algo, qualquer coisa, para salvar minha mãe. Mesmo que isso signifique sacrificar tudo o que sou.

Saí do consultório com a cabeça a mil. Tudo parecia girar em um turbilhão, mas eu não tinha outra escolha. Virei-me para o médico, tentando manter a voz firme.

"Doutor, eu preciso de três dias. Vou conseguir o dinheiro. Agende a cirurgia," pedi, olhando-o nos olhos.

Ele me observou por um momento, como se tentasse entender o que eu tinha em mente, mas apenas assentiu.

"Três dias, Rachel. Vou fazer o meu melhor para segurar as coisas até lá," ele respondeu, com um leve tom de preocupação.

Agradeci e saí, pegando meu celular com as mãos trêmulas enquanto caminhava pelos corredores frios do hospital. As paredes pareciam se fechar ao meu redor, mas eu sabia que não podia ceder ao medo. Não agora.

Vincenzo. O número dele estava no histórico recente. Respirei fundo antes de apertar o botão de chamada. O som do toque parecia se arrastar por uma eternidade até que ele finalmente atendeu.

"Rachel?" sua voz soou do outro lado, calma e controlada, como sempre.

"Eu quero fazer um acordo!" declarei, firme, mesmo com meu coração batendo descontroladamente no peito.

Agora não havia mais volta.

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