




Capítulo 2
Rachel
“Eu nunca fiz nada disso! Quem está dizendo isso está mentindo. Isso não é verdade!”
A gerente de RH parecia simpática, mas sua expressão não mudou. O advogado ao lado dela permaneceu em silêncio, observando a situação como se fosse apenas mais um dia comum para ele. Meu chefe, sentado silenciosamente no canto, mal olhou para mim. Era como se ele já tivesse me julgado e condenado.
“Eu entendo que isso é um choque, Rachel,” a gerente continuou, tentando manter o tom calmo. “Mas precisamos investigar essas alegações seriamente. Até que tudo seja esclarecido, você será colocada em licença remunerada, a partir de hoje.”
Meu mundo parecia desmoronar. Eu estava sendo acusada de algo horrível, algo que nunca fiz, e agora, além de tudo, eu seria afastada do meu trabalho, sem saber se algum dia poderia voltar. O que estava acontecendo? Como minha vida chegou a esse ponto?
Senti a raiva fervendo dentro de mim, como se um vulcão prestes a entrar em erupção estivesse prestes a explodir. A notícia da acusação era inacreditável, mas o que mais me chocava era o fato de estar sendo acusada de algo tão horrível enquanto eu mesma tinha sido vítima de assédio, e ninguém parecia se importar.
“Eu preciso saber quem está por trás dessa denúncia!” exclamei, minha voz tremendo com a mistura de raiva e desespero. “Quem teve a coragem de me acusar de algo assim? Eu preciso saber!”
A gerente de RH olhou para mim com uma expressão preocupada, mas sua postura não mudou. Ela parecia estar se preparando para responder a uma pergunta difícil. O advogado ao lado dela ainda mantinha seu silêncio formal, como se estivesse se preparando para lidar com uma situação claramente fora de seu controle.
“Rachel,” a gerente começou, tentando permanecer calma, “não podemos revelar a identidade da pessoa que fez a denúncia. A confidencialidade é uma parte importante do processo de investigação. No entanto, por favor, entenda que a denúncia precisa ser levada a sério.”
Eu estava prestes a explodir. Era um golpe cruel e injusto. “Confidencialidade?” gritei, levantando-me da cadeira, incapaz de controlar minha frustração. “Você está me dizendo que alguém me acusou de assédio, e eu nem tenho o direito de saber quem foi? Isso é um absurdo!”
“Rachel, por favor, tente se acalmar,” disse a gerente de RH, com um tom que tentava ser reconfortante, mas só fazia minha raiva crescer. “Estamos apenas seguindo os procedimentos padrão. A investigação será conduzida de forma justa.”
Justa? Como poderia ser justa se eu era a verdadeira vítima aqui? O que eles não pareciam entender era que, desde que comecei a trabalhar aqui há três anos, eu tinha sofrido assédio contínuo do meu chefe. Ele me fazia sentir como se eu estivesse sempre à mercê de seus desejos, e eu me sentia impotente, sem saber a quem recorrer. O mesmo chefe que agora estava ali, silenciosamente, observando todo o cenário, sem uma palavra para me defender.
“Quer saber o que é assédio?” desafiei, minha voz carregada de indignação. “Eu sou a vítima aqui! Desde que entrei neste escritório, esse velho gordo tem feito avanços indesejados, olhares invasivos e comentários inadequados. Ele me apalpou. Ninguém fez nada para me proteger ou parar isso!”
“Sabe, Richard,” comecei, minha voz afiada, “eu poderia listar todas as vezes que você passou dos limites. Como aquelas tardes em que você me pedia para ficar no seu escritório para 'trabalhar mais um pouco', e eu sabia que era apenas uma desculpa para me tocar de forma inadequada.”
Ele parecia calmo, mas havia um brilho de arrogância em seus olhos. “Rachel, isso é uma completa invenção. Nunca houve nada disso. Você está tentando desviar a atenção do fato de que é você quem está cometendo uma infração.”
Minha raiva borbulhou ainda mais. "Invenção? E quanto às vezes que você tentou me beijar, dizendo que fazia parte do 'trabalho em equipe'?”
Richard levantou uma sobrancelha, como se a situação fosse uma piada para ele. “Rachel, você está exagerando. Esses são apenas mal-entendidos, e eu nunca teria feito nada para te prejudicar.”
Eu ri, uma risada seca e amarga. “Mal-entendidos? Vamos ser honestos. Você sabe que a única coisa que você estava entendendo errado era o seu comportamento inadequado. Você me assediou de tantas maneiras, e eu estava tão desesperada para manter meu emprego que tentei ignorar, mas agora, veja o que você fez!”
A gerente de RH tentou intervir, mas eu não estava disposta a parar. “Você não pode negar o que fez, Richard! Eu tenho testemunhas, evidências. Eu não sou a única que notou a maneira como você age. Você acha que pode continuar com esse jogo de poder, e ninguém vai se levantar contra você?”
Richard fez uma cara de desdém. “Não sei com quem você está falando, mas essas alegações são absurdas. Sempre me comportei de maneira profissional com todos os meus funcionários.”
"Profissional?" desafiei, com a voz tremendo com a intensidade das minhas emoções. “Você acha que vou ficar aqui e deixar você escapar impune? Se você não pode admitir o que fez, então eu não vou ficar aqui nem mais um minuto. Vou buscar justiça, mesmo que isso signifique expor tudo o que aconteceu!”
A gerente de RH olhou para Richard com uma expressão indecisa, enquanto o advogado parecia estar avaliando a situação com um olhar neutro. Richard finalmente se dirigiu a mim, seu tom frio e implacável. “Rachel, entendo que você está com raiva e frustrada, mas você está demitida. Isso não é um debate. Sua conduta aqui foi inaceitável e, considerando as circunstâncias, não vejo outra saída.”
Saí da sala com um turbilhão de emoções, minhas mãos tremendo enquanto pegava minhas coisas no escritório. A sensação de traição e injustiça ainda queimava no meu peito. Eu não me importava mais com a decoração do escritório, o tom das paredes ou os olhares curiosos dos meus colegas. Tudo o que eu queria era sair dali o mais rápido possível.
Minhas coisas estavam espalhadas em um canto aleatório da sala, e eu joguei tudo de qualquer jeito na minha bolsa. Cada item parecia carregar o peso da minha indignação e desespero. As fotos dos meus amigos, meus documentos pessoais, tudo estava misturado em uma confusão desorganizada. Eu não tinha tempo para organizar nada; só precisava de uma saída.
A sensação de que minha vida estava desmoronando ao meu redor me acompanhava a cada passo que eu dava em direção à saída. O corredor parecia tão longo quanto o caminho para o fim do mundo, e cada passo parecia mais pesado que o anterior. Eu mal conseguia ver para onde estava indo, minha visão embaçada pelas lágrimas que ameaçavam escapar a qualquer momento.
Finalmente, cheguei à porta de saída e a abri com um último surto de raiva. A luz do sol lá fora parecia cruelmente indiferente ao meu humor, e o contraste entre o brilho do dia e a escuridão que eu sentia no coração era quase insuportável.