




Capítulo 5
"Sério, Xi! Eu não quero chamar isso de estupidez. Mas você realmente precisa me ouvir," Kyya reclamava ao telefone, falando com Ximena, que obviamente a ignorava enquanto andava pelo quarto - arrumando suas coisas.
"Você não pode estar falando sério sobre ir para Obeddon. Você está falando sério?"
"E me dê um bom motivo para não ir, Kyya?" Ximena finalmente disse algo, revirando os olhos.
"Você me disse que ele é real, certo? E também me disse que há toda possibilidade de que ele esteja por trás da morte dos meus pais. Então, me diga por que eu não deveria ir até ele, já que o Corpo está fazendo vista grossa??? Eu preciso de uma explicação dele, e também matá-lo se eu tiver a chance."
"Você está ouvindo a si mesma?" Kyya estremeceu.
"Obeddon não é apenas um lugar qualquer que você pode ir, Ximena. Esse cara é mais como o deus dessa comunidade. Você realmente acha que pode simplesmente entrar, exigir respostas dele e matá-lo quando terminar? Primeiro, isso não soa estúpido para você?"
"Bem, eu não me importo com como isso soa, Kyya. Tudo o que eu preciso são respostas e vingança, e eu definitivamente vou conseguir isso com ou sem a sua ajuda." Ela bufou e fechou o zíper da mala.
"Ximena, por favor, você precisa me ouvir," Kyya implorou.
"Eu sei que você está com raiva; eu sei que você está destruída. Mas você precisa se acalmar e pensar sobre isso. Não há como você se aproximar desse cara sem ser interrogada pelos seguranças dele. Ok, vamos supor que você o mate. O que acontece depois? Você acha que eles vão simplesmente aplaudir você e assistir você ir embora? Isso seria a coisa mais estúpida de todas."
"Eu não me importo," Ximena murmurou.
"Bem, você tem que se importar! Ir para aquele lugar é uma missão suicida, Xi. Como você vai sobreviver?? Você nem conhece ninguém! Você não sabe sobre as regras deles, e confie em mim! Não há como você matar esse cara! Ele é imortal!" A voz de Kyya ressoou com uma raiva urgente, e Ximena parou de andar, mas não disse uma palavra.
"Você simplesmente não pode matá-lo, Xi," ela continuou, desta vez em um tom mais calmo.
"A carne dele já recebeu um milhão de facadas; ele foi envenenado incontáveis vezes - ele pode sentir o cheiro de veneno de longe. Ele é imortal, Xi. Eu não estava brincando quando disse isso."
Ximena - de costas para ela - fungou e limpou a lágrima que descia pela bochecha.
Kyya não precisava de ninguém para lhe dizer o quanto de dor ela estava passando.
"Nada pode me parar, Kyya," sua voz vacilou.
"Eu já te disse."
"Oh! Vamos, Xi! Você precisa se acalmar..."
"Pare de me dizer para me acalmar quando você está aí com sua própria família!" Ela se virou bruscamente para a câmera e gritou.
A explosão inesperada de raiva assustou Kyya.
"Não fique aí sentada, Kyya, no conforto da sua casa, me dizendo o que fazer e o que não fazer. Tenho certeza de que você voltou para casa para seus pais saudáveis. Seus sonhos ainda estão intactos; tudo o que você desejou ainda está indo conforme o planejado."
"Mas eu, eu voltei para uma casa vazia; para uma casa cheia de nada além de morte - uma casa que me recebeu com a morte dos meus pais!! Estou perdendo a cabeça, Kyya! Eu preciso ver esse cara cair de joelhos. Então, não pense que você pode simplesmente ficar aí sentada e me assistir! Você entende??"
Kyya ficou sem palavras; tudo o que ela podia fazer era olhar.
Pela primeira vez, ela estava vendo uma pessoa diferente em sua amiga. Ela estava vendo uma mulher quebrada que nunca iria desistir. E ela estava vendo uma mulher que definitivamente iria mudar.
Ximena também a olhou - provavelmente sabendo que tinha exagerado, mas não estava pronta para se desculpar por isso. Ela a olhou, como se esperasse que ela dissesse algo. Mas Kyya estava muito confusa para isso.
Com lágrimas prestes a cair dos olhos, ela fungou e encerrou a chamada.
Saindo do quarto de Nir, Daphne, com sua silhueta de ampulheta, não conseguia conter tanta raiva.
Ela tinha ido ao quarto de Nir com tantas expectativas, sem saber que algumas pirralhas já estavam arruinando seus planos. Ela sentia tanta falta dele e tinha planejado reacender a chama entre eles através do suposto encontro íntimo. Por que estava tão difícil chegar até ele ultimamente?
Ela caminhava pelo corredor com aquele rosto entristecido, a ponta de seu vestido brilhante varrendo o chão atrás dela.
Ela parou quando avistou alguém encostado na beirada da parede - no final do corredor. Não era...
Seus olhos se estreitaram ao confirmar quem era. Era Iris. O que ela estava fazendo ali no final do corredor? Estava esperando uma resposta ou algo assim??
Ela aumentou o passo e foi em direção a ela. E lá estava ela - com o mesmo vestido que usava antes de sair do quarto de Nir. Ela parecia eufórica e mascava um chiclete ruidosamente.
"Sua pirralha!" Daphne torceu a mão e rangeu os dentes; seus olhos brilhando mesmo naquela raiva.
"Eu pensei que tinha te dito para ficar longe dele?"
"Ai! Vai me soltar, Daphne?" Iris gemeu e se contorceu para soltar a mão do aperto dela.
Ela não tinha a beleza comparada a Daphne - exceto pelo belo par de olhos que tinha.
Vestida como uma serva em seu vestido cinza - que era apenas longo o suficiente para parar nos joelhos - ela riu e se encostou ainda mais na parede.
"Por que você está brava, afinal?" Ela revirou os olhos.
"O Alpha pediu para ver um sexo ao vivo. Ele me disse para escolher uma mulher e fazer na frente dele. Você esperava que eu dissesse não para ele e tivesse minha cabeça decapitada? Ou você está brava só porque não foi você que eu escolhi?"
"Você deve estar louca," Daphne bufou e Iris riu na frente dela.
Ela riu de forma tão ridícula que só deixou Daphne ainda mais irritada.
"Querida Daphne," ela suspirou.
"Eu sei que você é bonita; e sei que você costumava ser o brinquedo favorito do Alpha. Mas, quanto tempo vai levar para você perceber que o Alpha já está entediado de você na cama? Quero dizer, ele já explorou cada parte de você e obviamente está cansado da mesma rotina. Eu nem sei por que você se autodenomina amante dele. Pelo que eu sei, você é apenas uma mulher qualquer com quem ele teve mais sexo. Ele nunca te proclamou como amante.
"De qualquer forma, quanto mais cedo você perceber que está perdendo seu valor diante dele, melhor será para você. Cuide-se." Ela soprou um beijo invisível e tentou sair, mas Daphne a puxou de volta.
A dor era evidente em seus olhos.
"Parece que você esqueceu que fui eu quem te treinou, Iris," ela sussurrou.
"Eu sou a razão pela qual você trabalha aqui, e confie em mim, eu sei exatamente como te destruir."
"Oh! Por favor, Daph..."
"Você nem precisa me provocar," Daphne a interrompeu.
"Porque eu já fui empurrada até o limite."
E com isso dito, ela soltou o braço de Iris e se afastou.
A COMUNIDADE DOS FEITICEIROS
Depois de Obeddon, a comunidade dos Feiticeiros era conhecida como a mais populosa e forte. Governada pelo intrépido homem chamado Salem, era anteriormente a maior comunidade, mas passou a ser a segunda quando Nir formou a Comunidade de Obeddon. Ele perdeu muitos de seus servos, guerreiros de confiança e membros trabalhadores. Os tolos o deixaram para se juntar a Obeddon. E por isso, ele nunca iria perdoar Nir.
Se ele tivesse a opção de escolher entre matar Nir e se tornar o governante mais rico, ele definitivamente escolheria a primeira. Só o Criador sabe quantas tentativas ele fez contra a vida de Nir, mas o desgraçado não morria. Pensar que ele simplesmente apareceu do nada e tomou conta de tudo era a coisa mais desanimadora. E pensar que ele tinha que andar com uma tipoia em seu braço quebrado por causa de Nir... Isso o irritava ainda mais.
Ele entrou na sala e encontrou o homem mais velho, sentado confortavelmente com um livro à sua frente.
Com seu chapéu favorito sobre a cabeça, ele estava sentado com as pernas cruzadas e um cigarro preso entre os lábios. E ao notar a presença de Salem, ele o olhou por cima do livro.
"Não acredito que você ainda anda por aí com um livro, Gedoni," Salem zombou enquanto se sentava na cadeira adjacente a ele.
"Bem, bem, Salem; a sabedoria está sempre escondida nos livros," respondeu o homem de sessenta e cinco anos.
Gedoni tinha sessenta e cinco anos, mas parecia muito mais jovem do que sua idade. Rumores diziam que ele estava tomando alguns suplementos para parecer assim.
Claro! Quem não conheceria Gedoni? O homem com quem Nir lutou para resgatar o povo de Obeddon da cativeiro. Você poderia chamá-lo de O Maior Inimigo.
Ele descruzou as pernas e deu uma longa tragada no cigarro.
"Como está seu braço?" Ele perguntou, lançando um olhar de lado para a tipoia.
"Está bem, eu acho. Tudo graças ao Nir," respondeu Salem, com a raiva ecoando em sua voz.
"Eu te disse para não ir a essa reunião, Salem. Mas garotos jovens como você não escutam," Gedoni falou com o cigarro entre os lábios, fazendo-o mastigar um pouco.
"Eu sei, Gedoni," Salem balançou a cabeça.
"Eu sabia que Nir nunca iria aceitar aquela oferta. Eu só fui lá porque queria vê-lo morrer. Pensei que a água envenenada o mataria. Não acredito que ele sobreviveu a isso também."
Em seguida, Gedoni riu e fechou o livro com o dedo indicador preso entre as páginas.
"Como você pode matar um Imortal com meios mortais, Salem?" Ele se inclinou para frente e perguntou.
"Todos sabemos que Nir é imortal. O que te faz pensar que ele pode ser morto tão facilmente?"
"Então, o que fazemos, Gedoni? Apenas sentamos e assistimos ele tomar o controle??" Salem gritou; mas com um sorriso, Gedoni se recostou na cadeira e continuou lendo seu livro.
"O que precisamos fazer, Salem, é ler e encontrar o filho de Jareth. Ele é a única esperança que temos por agora." Ele disse, e as sobrancelhas de Salem se arquearam.
"O filho de Jareth?" Ele repetiu.
"Quem diabos é esse?"
Mas Gedoni deu uma risada zombeteira - uma que proclamava vitória.
"Viu por que eu te disse para sempre ler livros, Salem?" Ele abaixou o livro do rosto.
"A sabedoria oculta está nas páginas de um livro," ele disse enquanto batia no lado da testa.
Ele soltou um sorriso sarcástico depois e retomou a leitura.
"Jareth é um poderoso semideus - cruel e implacável.
"Seus poderes não podem ser comparados aos de Nir, pois isso seria um insulto ao seu nome. Ele era o ser mais poderoso vivo, e também um Imortal.
"Seu paradeiro é atualmente desconhecido e algumas pessoas acreditam que ele está morto. Mas, a boa notícia é - Jareth tem um filho."
Ele fez uma pausa e soltou a fumaça do cigarro.
"O filho de Jareth está definitivamente vivo, e é conhecido por ser tão poderoso quanto seu pai. Mas seu paradeiro é atualmente desconhecido, pois muitos acreditam que ele adorava aventuras. Eu tenho procurado por ele há muito tempo, Salem. E em breve, eu sei que vou encontrá-lo. E quando eu encontrar," ele pausou novamente e sorriu.
"Vou trazê-lo para o meu lado e torná-lo meu melhor aliado."
Ele riu e continuou lendo.
Salem teve que ficar em silêncio por um tempo enquanto tentava digerir toda a história. Então, havia alguém como Nir vivo? Alguém que poderia derrotar Nir por eles?
Toda esperança não estava perdida, afinal!
"Como encontramos esse homem, Gedoni?" Ele perguntou ansiosamente.
"Como encontramos o filho de Jareth?"
E com aquele sorriso irônico, Gedoni respondeu:
"Lemos."