




Ostra
Quando Simon Salvatore cruzou a porta dos fundos da mansão, lançou um olhar furtivo para Paulina Perez, que conversava com o jardineiro. Sua presença era um ímã para sua curiosidade. Ele a tinha visto apenas algumas vezes nos últimos dois anos, sempre de passagem. Agora ela estava de volta para ficar, segundo a governanta da mansão.
Ele se encostou em uma viga na varanda e a observou, aproveitando que ela não notava sua presença. Ela tinha cerca de um metro e meio de altura e conseguia parecer ainda menor nas roupas que usava, uma saia longa e uma blusa de mangas compridas. Simon nunca entendeu por que ela se vestia assim, mesmo em dias extremamente quentes como aquela tarde. Seu longo cabelo preto estava preso na nuca, sua franja espessa escondendo os olhos que lembravam a Simon mel derretido. Mesmo à distância, Simon sabia que sua pele clara estava corada pelo calor.
Ele sorriu e caminhou lentamente em sua direção, presumindo que ela coraria ainda mais quando o visse.
Sentindo-se observada, ela parou de falar e, protegendo os olhos do sol forte com a mão, avaliou momentaneamente o homem que se aproximava dela e de Pedro, seu tio. Assim que reconheceu Simon, sentindo as mãos suarem e o coração bater forte nos ouvidos, voltou sua atenção para o tio, que podava arbustos.
Ela apertou uma mão na outra, mordendo o lábio inconscientemente, a tensão tomando conta de seu corpo enquanto antecipava o que aconteceria quando o mais jovem dos Salvatore estivesse perto.
Em geral, Simon era arrogante, vaidoso e o pior tipo de egoísta, passando pelas mulheres com uma indiferença devastadora.
Sua mãe, Soraia Perez, sempre a alertava sobre homens como Salvatore, exigindo que ela mantivesse uma distância respeitosa do filho do patrão. Paulina cresceu fazendo isso, o que não era difícil porque Simon tinha um prazer perturbador em provocá-la.
Simon cumprimentou ambos antes de se concentrar em Pedro, perguntando educadamente sobre o trabalho do jardineiro e elogiando-o pelo cuidado com os jardins. Mesmo tentando ficar fora da conversa, pelo canto do olho, Paulina analisava Salvatore, percebendo, não pela primeira vez, que quando ele queria, podia ser agradável. Eram momentos como aquele, quando Simon se comportava gentilmente e sorria, que Paulina entendia por que as mulheres eram irremediavelmente atraídas por ele.
Sem dúvida, Simon era um homem bonito, com cabelos negros e espessos, olhos escuros sugestivos e uma estatura imponente. Mesmo Paulina, que sabia o quanto sua aparência escondia uma personalidade terrível, tinha nutrido uma paixão por ele na adolescência. Um sentimento que ela suprimiu tanto por causa de sua insistência em envergonhá-la quanto pelos avisos de seus falecidos pais para sempre lembrar que ela era apenas uma empregada na mansão, mesmo sendo filha dos funcionários da mansão.
"Conversamos depois, Tio. Até logo, Sr. Simon!" Ela se despediu, desconfortável por ter sido quase esquecida pelos dois homens.
Ela apressou-se em direção ao lado da residência onde sua família vivia há três gerações, planejando separar suas roupas para a entrevista de emprego que teria na manhã seguinte.
Embora gostasse de compartilhar o mesmo teto com sua irmã mais nova novamente, viver com seu pai não era fácil. Desde que perdeu o emprego anterior, Paulo Perez insistia que ela trabalhasse como empregada doméstica ou em alguma outra posição inferior. Durante anos, ela cumpriu todos os caprichos do pai, até os cursos que fez foram seguindo suas exigências, mas como formada em gestão hoteleira, a menos que estivesse sem um tostão, não aceitaria nada menos que uma posição de governanta.
"Você voltou para a mansão indefinidamente?" A voz profunda de Simon atrás dela a trouxe de volta à realidade.
Incomodada por ele estar a seguindo, Paulina se perguntava por que Simon estava tão fixado nela. Ela poderia continuar seu caminho e ignorá-lo, mas se seu pai descobrisse que ela maltratou o filho dos patrões, ele a repreenderia.
"Apenas até encontrar um novo emprego," murmurou, de cabeça baixa e evitando seu olhar.
Ele parou na frente dela, mãos nos bolsos, e pela curvatura da sombra no chão, percebeu que ele estava inclinado em sua direção.
"Você vai fritar nessa sauna que chama de roupa," ele zombou. "Vestida assim, suponho que esteja se candidatando à posição de freira. É esse o emprego que está procurando?"
Paulina puxou as mangas da blusa, apertando os dedos nas bordas, escondendo os poucos centímetros de pele exposta. Ela odiava quando Simon zombava de suas roupas.
Ela apertou os lábios, segurando a vontade de retrucar, de dizer que, ao contrário das mulheres com quem ele saía, ela foi criada para valorizar a decência e a discrição.
"Perdeu a língua, Perez?"
Ela respirou fundo, tremendo com o desejo de abandonar todas as regras de bom comportamento implantadas em sua mente por seus pais, e mandar Simon ir se danar.
"Vou trabalhar como governanta em um hotel," respondeu finalmente.
A maneira como ela falou faria qualquer um acreditar que o emprego era certo, quando ainda dependia de uma última entrevista. Paulina preferiria nadar com jacarés a dar mais munição para Salvatore criticá-la.
Simon se endireitou, analisando-a friamente, seus olhos escuros parando em suas mãos que estavam apertadas, notando as dobras esbranquiçadas de seus dedos, quase como se não houvesse sangue circulando neles. Seu rosto também estava pálido, e seus lábios tremiam e estavam apertados, um claro sinal de que Paulina estava à beira de desmoronar de nervosismo.
"Não sei para quem devo desejar boa sorte, para você ou para quem teve o azar de te contratar," disse Simon, dando um passo para trás. "Tente agir menos como uma ostra."
Com esse conselho sem sentido aos ouvidos de Paulina, Simon se moveu para o lado, saindo de seu caminho. Aproveitando a oportunidade, Paulina caminhou rapidamente em direção à casa que compartilhava com seu pai e sua irmã.
Se ela olhasse para trás, surpreenderia Simon com um sorriso brincalhão nos lábios.