




Capítulo: 4
Ele se lançou entre dois membros da matilha, que ficaram surpresos, ignorando a dor ardente de seus ferimentos enquanto forçava seu corpo ao limite. Atrás dele, podia ouvir os sons da perseguição—patas batendo no chão, rosnados de frustração enquanto seus antigos companheiros de matilha o perseguiam.
Fenris corria como nunca antes, suas pernas poderosas devorando o chão. Ele se desviava entre as árvores, saltava sobre troncos caídos e atravessava riachos gelados na tentativa de despistar seus perseguidores. Seus pulmões ardiam, e cada músculo clamava por alívio, mas ele continuava.
Enquanto corria, a mente de Fenris girava com as implicações do que havia descoberto. As ambições de Ragnar haviam se tornado ainda mais perigosas em sua ausência. Se o alfa continuasse nesse caminho, isso significaria guerra—não apenas com os humanos, mas também com outras matilhas de lobisomens. O pensamento gelou Fenris até os ossos.
Depois do que pareceram horas, os sons da perseguição começaram a diminuir. Fenris não diminuiu o ritmo, determinado a colocar o máximo de distância possível entre ele e a matilha. Só quando a primeira luz do amanhecer começou a pintar o céu, ele finalmente se permitiu parar.
Desabando sob as raízes retorcidas de um carvalho antigo, Fenris voltou à sua forma humana. A transformação enviou novas ondas de dor através de seu corpo machucado, e ele reprimiu um gemido. Na luz cinzenta do início da manhã, ele pôde ver a extensão de seus ferimentos—cortes profundos e marcas de mordida cobriam seus braços e torso, e sua perna esquerda estava um caos de carne rasgada.
"Maldito seja, Ragnar," murmurou Fenris, encostando a cabeça no tronco da árvore. Ele fechou os olhos, concentrando-se na respiração enquanto tentava se recompor.
O som de passos se aproximando fez os olhos de Fenris se abrirem de repente. Ele se tensionou, pronto para se transformar novamente apesar do cansaço, mas relaxou um pouco ao reconhecer a figura emergindo das árvores.
"Freya," ele suspirou, uma mistura de alívio e cautela na voz.
A mulher à sua frente era alta e esguia, com longos cabelos loiros e olhos azuis penetrantes. Como Fenris, ela carregava as marcas da batalha recente, embora seus ferimentos parecessem menos graves.
"Você está vivo," disse Freya, com um tom neutro. "Eu não tinha certeza se você conseguiria."
Fenris conseguiu esboçar um sorriso irônico. "Decepcionada?"
A expressão de Freya suavizou um pouco. "Não. Na verdade, aliviada." Ela se ajoelhou ao lado dele, seus olhos percorrendo os ferimentos. "Você está péssimo."
"Me sinto péssimo também," admitiu Fenris. "O que você está fazendo aqui, Freya? Se Ragnar descobrir que você me seguiu..."
"Ragnar não sabe," ela interrompeu. "Eu escapei quando os outros desistiram da perseguição. Eu precisava falar com você."
Fenris estudou o rosto dela, notando o conflito em seus olhos. "Sobre o quê?"
Freya hesitou, olhando por cima do ombro como se tivesse medo de ser ouvida. Quando falou, sua voz era quase um sussurro. "Você estava certo, Fenris. Sobre Ragnar, sobre o que ele está fazendo com a matilha. As coisas pioraram desde que você foi embora."
Uma mistura de vindicação e tristeza tomou conta de Fenris. "Conte-me," disse ele, suavemente.
Durante a próxima hora, Freya pintou um quadro sombrio da vida na matilha sob o governo cada vez mais tirânico de Ragnar. A sede de poder do alfa havia se tornado insaciável. Ele liderou ataques a duas matilhas vizinhas, absorvendo seus territórios e forçando seus membros a se submeterem ou morrerem. Aqueles que mostravam qualquer sinal de dissidência eram brutalmente punidos, muitas vezes publicamente, para servir de exemplo aos outros.
"Ele está obcecado com alguma profecia antiga," explicou Freya. "Algo sobre um tempo de grande mudança, quando as barreiras entre os mundos enfraquecerão. Ele acredita que, ao expandir nosso território e aumentar nossos números, estaremos prontos para tomar o controle quando o caos surgir."
Fenris franziu a testa, um sentimento incômodo crescendo em seu estômago. "Que tipo de caos?"
Freya balançou a cabeça. "Não sei os detalhes. Ragnar mantém a profecia completa para si mesmo. Mas seja o que for, ele está convencido de que isso lhe dará a oportunidade de estabelecer a dominação dos lobisomens sobre os humanos e outros seres sobrenaturais."
"Ele é delirante," rosnou Fenris. "Mesmo que tal profecia exista, tentar controlar esse tipo de caos é como tentar domar um incêndio florestal. Isso destruirá tudo em seu caminho, incluindo Ragnar e a matilha."
"Eu sei," disse Freya suavemente. "É por isso que vim te encontrar. Precisamos da sua ajuda, Fenris. Há outros na matilha que veem a loucura nas ações de Ragnar, mas estamos com muito medo de enfrentá-lo abertamente. Se você voltasse, reunisse apoio..."
Fenris balançou a cabeça, interrompendo-a. "Eu não posso voltar, Freya. Mesmo que eu quisesse, Ragnar me mataria na hora. E não tenho certeza se os outros me seguiriam tão rapidamente depois que eu os abandonei."
"Você não nos abandonou," argumentou Freya. "Você defendeu o que era certo. Alguns de nós lembram disso, mesmo que tenhamos sido covardes demais para ficar ao seu lado naquela época."
As palavras dela despertaram algo em Fenris—um senso de responsabilidade que ele tentou enterrar desde seu exílio. Ele disse a si mesmo que partir era a única maneira, que ele não poderia mudar a mente de Ragnar ou salvar a matilha de sua influência. Mas será que ele desistiu muito facilmente?
"Eu não sei, Freya," disse ele finalmente. "Mesmo que eu quisesse ajudar, não estou em condições de desafiar Ragnar. E tem outra coisa..." Ele parou, incerto de como explicar a estranha sensação de urgência que vinha crescendo dentro dele há semanas.
Freya inclinou a cabeça, a curiosidade evidente em sua expressão. "O que é?"
Fenris suspirou, passando a mão pelo cabelo emaranhado. "Vai parecer loucura, mas... sinto que estou sendo puxado para algo. Um propósito maior. Tenho tido esses sonhos—quase visões—de um futuro sombrio e uma mulher com olhos como esmeraldas. Acho... acho que estou destinado a encontrá-la."
Ele esperava que Freya risse ou descartasse suas palavras como delírios de um lobo exausto e ferido. Em vez disso, os olhos dela se arregalaram em reconhecimento.
"A profecia," ela sussurrou. "Ragnar mencionou algo sobre um escolhido—uma bruxa com o poder de prevenir ou causar o caos iminente. Ele tem procurado por ela, convencido de que controlá-la é a chave para seus planos."
Fenris sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Poderia a mulher de seus sonhos ser essa bruxa? E, se fosse, o que significava ele se sentir atraído por ela?
"Preciso encontrá-la antes de Ragnar," disse ele, sua voz cheia de uma nova determinação. "Se ela for real, e se tiver o poder que Ragnar acredita que ela tem, ela pode estar em grande perigo."
Freya assentiu, sua expressão grave. "Então vá. Encontre essa bruxa e descubra a verdade sobre a profecia. Talvez, ao fazer isso, você encontre uma maneira de salvar nossa matilha também."
Ela alcançou uma bolsa em sua cintura, tirando um pequeno frasco cheio de um líquido esverdeado. "Aqui, pegue isto. É uma poção de cura—não é suficiente para curar completamente seus ferimentos, mas deve ajudar você a se recuperar mais rápido."
Fenris aceitou o frasco com gratidão. "Obrigado, Freya. Por tudo. Tenha cuidado ao voltar para a matilha. Não dê a Ragnar nenhum motivo para suspeitar de sua lealdade."
Freya conseguiu esboçar um pequeno sorriso. "Me tornei bastante habilidosa em fingir ser uma membro obediente da matilha. Apenas me prometa que você também terá cuidado. E Fenris?" Sua expressão ficou séria. "Se você encontrar essa bruxa, proteja-a. Algo me diz que ela pode ser nossa única esperança."
Com essas palavras de despedida, Freya voltou à sua forma de lobo e desapareceu na floresta, deixando Fenris sozinho com seus pensamentos e o peso de sua nova missão.
À medida que o sol subia no céu, Fenris se forçou a ficar de pé, estremecendo com a dor que percorreu seu corpo. Ele destampou o frasco que Freya lhe deu e bebeu seu conteúdo de um só gole, fazendo uma careta com o gosto amargo.
Quase imediatamente, ele sentiu um calor se espalhando por seus membros. A dor em seus ferimentos começou a diminuir, e ele podia sentir sua força retornando lentamente. Não era uma cura milagrosa, mas seria o suficiente para colocá-lo em movimento novamente.
Fenris respirou fundo, centrando-se. Ele não sabia aonde essa jornada o levaria ou quais perigos o aguardavam. Mas ele sabia, com uma certeza que corria até os ossos, que encontrar a bruxa de seus sonhos era a chave para tudo—para salvar a matilha, para parar Ragnar, e talvez para prevenir o próprio caos que ameaçava engolir o mundo.
Com um último olhar na direção em que Freya havia ido, Fenris voltou à sua forma de lobo e partiu para o desconhecido, guiado apenas pelo puxão em seu coração e pela memória dos olhos de esmeralda.