




Capítulo: 1
A lua crescente pairava baixa no céu escuro, lançando um brilho etéreo através dos vitrais da biblioteca isolada. Os dedos esguios de Lyra dançavam sobre lombadas de couro antigas, seus olhos esmeralda escaneando títulos desbotados em línguas há muito esquecidas pelo mundo mortal. O ar estava denso com o cheiro de pergaminho velho e o aroma persistente de sálvia de seu ritual de proteção anterior.
"Tem que estar aqui em algum lugar," murmurou, afastando uma mecha rebelde de cabelo negro do rosto. Lyra havia passado inúmeras noites nesse santuário escondido, estudando tomos de conhecimento arcano transmitidos por gerações de seu coven. Mas esta noite parecia diferente. Havia uma carga elétrica no ar, um sussurro de destino que fazia os pelos da nuca se arrepiarem.
Sua mão parou sobre um volume particularmente gasto, sua capa tão desbotada que o título era quase ilegível. Quando seus dedos tocaram o couro antigo, uma onda de energia percorreu seu corpo. Lyra arfou, quase deixando cair o pesado tomo enquanto o puxava da prateleira.
"É isso," ela sussurrou, segurando o livro nos braços enquanto se dirigia à mesa de leitura ornamentada no centro da sala. A madeira rangeu sob seu peso enquanto ela se acomodava na cadeira, colocando cuidadosamente o grimório na superfície polida à sua frente.
Com mãos trêmulas, Lyra abriu a capa. O pergaminho dentro estava frágil, ameaçando se desintegrar ao menor toque. Ela sussurrou um feitiço de preservação, seus lábios formando as palavras antigas com facilidade prática. Um suave brilho azul emanou de suas palmas, envolvendo as páginas frágeis em uma aura protetora.
Enquanto começava a decifrar o texto críptico, as velas ao seu redor pareciam diminuir. Sombras dançavam nas bordas de sua visão, como se a própria escuridão fosse atraída pelo poder contido no grimório. Lyra se inclinou mais perto, sua testa franzida em concentração enquanto traduzia o script arcaico.
"O véu entre os mundos se torna fino," leu em voz alta, sua voz mal acima de um sussurro. "Quando a lua de sangue se erguer três vezes, e o uivo do lobo solitário ecoar pela terra, os portões se abrirão, e o caos reinará."
Um calafrio percorreu a espinha de Lyra enquanto o peso das palavras se assentava sobre ela. Esta não era uma profecia comum; era um aviso de destruição iminente. Seus olhos correram pela página, absorvendo cada detalhe enquanto a gravidade da situação se tornava clara.
"Lyra?" uma voz chamou da entrada da biblioteca, assustando-a de sua intensa concentração. "Você ainda está aí?"
Ela olhou para cima e viu Mara, sua amiga mais próxima e colega bruxa, parada na porta. O rosto sardento da ruiva estava marcado pela preocupação enquanto ela observava a aparência desleixada de Lyra e o estranho livro à sua frente.
"Mara, você precisa ver isso," disse Lyra, gesticulando para que sua amiga se aproximasse. "Acho que encontrei algo... algo grande."
Mara atravessou a sala, suas vestes verdes sussurrando suavemente contra o chão de pedra. Ela espiou por cima do ombro de Lyra, seus olhos cor de avelã se arregalando enquanto escaneava as páginas abertas. "Pela deusa," ela sussurrou. "É o que eu estou pensando?"
Lyra assentiu gravemente. "Uma profecia apocalíptica. E se eu estiver interpretando corretamente, não temos muito tempo."
"Mas como?" Mara perguntou, balançando a cabeça em descrença. "Nosso coven protege esses livros há séculos. Com certeza alguém teria notado algo tão importante antes."
"Não acho que alguém poderia ter lido isso antes de hoje à noite," Lyra explicou, apontando para uma série de símbolos intrincados que bordavam o texto. "Vê essas runas? Elas formam um feitiço de bloqueio temporal. A profecia estava escondida até o momento certo para ser revelada."
O rosto de Mara empalideceu. "E esse momento é agora? Lyra, o que exatamente diz?"
Respirando fundo, Lyra começou a traduzir o texto antigo para sua amiga. Enquanto falava, as velas na sala tremeluziram mais intensamente, lançando longas sombras nas paredes. O ar ficou pesado, como se os próprios elementos respondessem ao poder das palavras.
"Três sinais anunciarão a vinda da escuridão," Lyra leu, sua voz ficando mais forte a cada linha. "A lua sangrará três vezes, pintando o céu de carmesim. O exilado uivará, sua voz um presságio de mudança. Os antigos despertarão, acordando de seu sono milenar."
Mara agarrou a borda da mesa, seus nós dos dedos ficando brancos. "E então o que acontece?"
Os olhos verdes de Lyra encontraram os olhos cor de avelã de Mara, medo e determinação se misturando em seu olhar. "Se esses sinais se concretizarem, as barreiras entre os reinos se romperão. Criaturas de pesadelo invadirão nosso mundo, e a realidade como a conhecemos se desintegrará."
"Deusa nos proteja," Mara sussurrou. "Como podemos impedir isso?"
Lyra virou a página, revelando uma série de diagramas complexos e mais texto. "A profecia fala de um ritual, uma maneira de reforçar as barreiras e prevenir a catástrofe. Mas requer itens de grande poder, espalhados por toda a terra."
Enquanto Lyra continuava a estudar o grimório, Mara começou a andar de um lado para o outro, sua mente a mil. "Precisamos contar à Alta Sacerdotisa. Todo o coven deve ser informado."
Lyra hesitou, uma sombra de dúvida cruzando seu rosto. "Não tenho certeza se isso é sábio, pelo menos não ainda. Você sabe como os anciãos podem ser. Eles podem descartar isso como nada mais do que uma velha lenda, ou pior, tentar manter isso escondido para evitar causar pânico."
"Mas Lyra, isso é maior do que nós. Não podemos esperar impedir isso sozinhas," Mara argumentou, gesticulando para o texto ominoso.
Lyra se levantou, sua cadeira raspando contra o chão de pedra. "Talvez não tenhamos escolha. Olhe para esta passagem aqui." Ela apontou para uma seção perto do final da página. "Fala de uma escolhida, uma bruxa com o poder de fazer a ponte entre os mundos. Acho... acho que pode estar se referindo a mim."