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Capítulo 2

Mila sibilou através das presas serrilhadas, mas deve ter soado para o estranho como uma risada, porque o canto da boca dele se levantou. "Assim?"

Não era uma piada engraçada. O estranho estava encostado casualmente no batente da porta. Não tinha rangido para ele quando a reabriu. Entre seus dedos pálidos como ossos, ele passava uma pena preta distraidamente. Os pássaros ou não tinham avisado sobre sua aproximação porque foi rápida demais para eles, ou já estavam em bons termos.

De fato, esse estranho provavelmente tinha uma relação ainda melhor com os pássaros do que ela, que remontava a gerações. Sob sua cabeleira loira suja, olhos vermelhos como sangue a observavam com interesse.

Sem fazer nenhum esforço para esconder sua irritação, Mila embainhou sua espada e retraiu os dentes. Ela não saiu completamente de sua postura de alerta, mas se ele fosse tentar algo, seria muito mais rápido do que ela.

Ele soltou um assobio baixo. "Olha só você. Toda arrumada para o apocalipse. Surpreso de ver alguém do seu tipo vagando sozinha."

O nariz de Mila se franziu. Ele parecia ser do sudoeste dos Estados Unidos. Talvez da Geórgia? Provavelmente um soldado confederado quando foi transformado. De qualquer forma, ela não gostou da maneira como ele disse "seu tipo" e não apenas porque ela usava a pele de uma mulher de tom mais escuro.

"Achava que vocês todos voltariam para o oceano quando a merda começasse a bater no ventilador." Ele continuou conversando apesar de sua falta de resposta.

Ela deu de ombros de forma displicente. "Saia da frente, por favor."

Sua voz saiu rouca de meses de desuso. Ela não tinha precisado falar em voz alta com os seus antes da conexão se romper. Então, não tinham mais nada a dizer uns aos outros. A quebra na conexão tinha curto-circuitado uma parte deles, deixando-os todos se dispersarem em diferentes direções.

Talvez alguns deles tivessem ficado juntos, precisando da companhia de sua própria espécie. Mila nem sequer tentou perguntar em voz alta. Ela simplesmente pegou os objetos de que mais gostava. A cota de malha, os coldres de ombro que carregavam adagas cerimoniais, a besta, a espada. Todo o resto era substituível. Mesmo esses um dia estariam quebrados além do reparo.

O estranho deu um passo para trás, saindo do batente da porta para permitir sua passagem. Sua cabeça se inclinou curiosamente; seus olhos fixados na boca dela. Quando ela virou as costas para ele e começou a andar, ele a seguiu em um ritmo despreocupado.

"Não vai se apresentar?" Ele chamou atrás dela.

"Acredito que, no interesse da etiqueta, o primeiro a falar deve ser o primeiro a se apresentar." Ela respondeu despreocupadamente por cima do ombro.

Ele soltou uma risadinha alegre. "Você está certa, querida. Meu nome é Jedidiah, Jedidiah Hensen, mas pode me chamar de Jed."

Mila não respondeu por um longo momento, não tendo estado curiosa em primeiro lugar.

"Agora é quando você se apresenta de volta!" Ele chamou com bom humor.

Mila suspirou, sentindo que não se livraria dele até pelo menos aderir às formalidades. Parando, ela se virou para encará-lo. Ele estava a vários passos de distância, mas quando ela piscou, ele apareceu bem na frente dela, a apenas um braço de distância.

"Sou Mila." Ela respondeu sem vacilar.

"Sem sobrenome?" Ele sorriu torto.

Quando ela estava de pé, eles tinham quase a mesma altura e eram quase do mesmo tamanho. Se ele fosse humano, não seria um desafio para ela, mas como vampiro, ele era muito mais forte do que parecia. Ele ainda brincava com sua pena preta enquanto conversavam.

"Sem sobrenome que não seria uma mentira."

Humanos tinham sobrenomes. Mila era apenas Mila quando não precisava fingir ser outra coisa. Ela não tinha linhagem para rastrear, nem pais cujo nome seria passado para ela. Ela havia sido gerada pelo mar primordial, seu deus lhe concedendo o nome quando pisaram juntos na terra.

"Para onde você está indo?" Ele olhou além dela em direção às árvores. "Não tem muita coisa por milhas e milhas ainda."

Mila reprimiu outro suspiro. "Não estou indo para lugar nenhum. Apenas viajando."

Ele sorriu. "Não suponho que você esteja procurando companhia?"

"Não posso dizer que estou." Ela respondeu um pouco rápido demais.

O sorriso dele se transformou em um sorriso irônico. "Não? Então acho que vou ter que te ver por aí."

O rosto de Mila traiu o que ela sentia sobre a ideia. Ele soltou uma risada e se moveu com uma rapidez que só um vampiro poderia. Ele enfiou a pena preta no cabelo preto e bagunçado dela, beijou a parte de trás de sua mão enluvada e desapareceu.

Mila ficou ali no meio da floresta por mais alguns minutos. Finalmente, balançando a cabeça. Ele era um sujeito estranho, aquele.

Ele nem sequer tentou mordê-la. Não que ela tivesse um gosto bom. Se ele tivesse tentado, tudo o que teria conseguido seria uma boca cheia de pedra. Por dentro, ela era pouco diferente do que os humanos haviam se tornado.

Ela se perguntou vagamente o que ele comia hoje em dia. Certamente, ele não consumia o que restava dos humanos. A própria ideia a fazia sentir vontade de vomitar.

Ela estremeceu, passando a mão pelo cabelo e sentindo a pena estranha. Ela a puxou junto com vários fios de cabelo preto e oleoso. Seu nariz se franziu. Ela precisava desesperadamente de um banho. Levou vários minutos de luta para conseguir tirar a pena do cabelo.

Um corvo grasnou para ela de uma maneira que a fez pensar que ele poderia estar rindo. Ela olhou feio para ele. "Se você quer sua próxima refeição de mim, deveria me levar até alguma água!"

Ele grasnou alto, não falando nenhuma língua que ela conhecesse.

Ainda assim, ele se levantou do galho e começou a voar. Sem outra direção, Mila o seguiu silenciosamente. Seus lábios se abriram enquanto ela provava o ar com a língua como um gato, esperando detectar o cheiro de água para não ter que depender de sua comunicação precária para encontrá-la.

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