Capítulo 3: Lobos em roupas de motociclistas
Cyrus
"Saia de cima de mim!" A voz de Harlow ecoou do outro lado da rua. Eu tinha acabado de colocar o carro dela na garagem e conectar o scanner OBD. Espiando para fora da garagem, vi aqueles dois caras com cara de universitários a maltratando e puxando suas roupas.
Tudo estava acontecendo no território dos Blood Dogs. Nossa trégua frágil ditava que ninguém de nenhum dos lados cruzasse a linha por qualquer motivo. Mas eu sabia que o bar estava tão barulhento por dentro que ninguém a ouviria. Eu tinha que fazer algo. Eles estavam machucando ela, e fariam coisas muito piores.
Não tive tempo de pesar os prós e contras de quebrar a trégua. Vi tudo vermelho, e meu corpo simplesmente agiu. Antes que eu percebesse, corri para o outro lado da rua e arranquei aqueles desgraçados de cima dela.
Eu poderia simplesmente ter dado uma surra neles e deixado que fugissem como os covardes que eram. Mas caras como aqueles não mereciam uma segunda chance. O lobo dentro de mim estava implorando para ser libertado, então tirei meu colete e deixei a besta vir à tona. Ossos e músculos estalaram e se contorceram enquanto pelos escuros cobriam meu corpo. Acho que nunca tinha me transformado tão rápido na vida.
A adrenalina corria pelas minhas veias, e fui direto para a garganta de um dos caras, arrancando-a com minha mandíbula poderosa. O gosto metálico do sangue encheu minha boca.
O amigo do cara gritou, tentando se levantar enquanto seu companheiro sangrava até a morte. Eu pulei sobre ele com toda a força e senti sua coluna se partir sob mim. Ele tentou gritar por ajuda, mas em um segundo, minha mandíbula estava presa em sua garganta, assim como no amigo dele. A última coisa que saiu da boca dele foi um som gorgolejante enquanto se afogava no próprio sangue.
Os filhos da mãe ficaram imóveis no estacionamento, poças de sangue se espalhando ao redor de seus corpos sem vida.
"Oh, meu Deus," ouvi e olhei para ver Harlow no chão, olhando para minha forma de lobo. Dei um pequeno passo à frente, mas ela choramingou e se afastou. Ela estava com medo de mim.
"Merda," pensei. "O que eu acabei de fazer?"
Harlow
Eu não podia acreditar nos meus olhos. Esse lobo negro gigantesco estava diante de mim, sua boca pingando com o sangue dos meus agressores. Ele deu um passo em minha direção pela segunda vez, e eu levantei a mão como se isso pudesse me defender contra esse monstro de animal.
"Por favor," implorei. Eu estava tremendo apesar de mim mesma. Choque talvez. Ou terror absoluto. Eu não sabia dizer qual. O lobo parou no meio do caminho como se me entendesse. Como se me conhecesse. Mas eu não podia ter visto o que pensei que vi. Certo? Eu tinha batido a cabeça muito forte no asfalto. Essa era a única explicação. Não havia como o lobo ser realmente... "Cyrus?"
Então, o lobo fechou os olhos, e eu ouvi um som de estalo enquanto seu corpo se contorcia. Seu pelo parecia recuar para dentro da pele, e logo a forma ajoelhada na minha frente não era mais um animal. Tatuado e musculoso com pele bronzeada, Cyrus abriu seus olhos escuros e olhou para mim. Ele estava nu, os restos de suas roupas em farrapos no chão.
"O que diab—" comecei.
"Eu não vou te machucar," ele interrompeu. "Desculpe se te assustei. Tudo o que eu queria era ajudar."
Meus olhos se voltaram para os dois homens mortos, que momentos antes tinham me atacado. Tremendo, puxei minha regata para baixo para cobrir o máximo do meu abdômen que eu podia. Mal conseguia abotoar meu cinto; minhas mãos tremiam tanto.
Cyrus pegou sua única peça de roupa intacta, seu colete dos Bone Hills Howlers. Mantendo uma distância respeitosa, ele estendeu o braço para me entregar. "Você pode estar em choque," ele disse. "Você precisa se manter aquecida."
Sem palavras, puxei o colete sobre meus ombros como um cobertor. Ele me envolveu completamente. Desviei o olhar da figura nua de Cyrus, sem saber para onde direcionar meus olhos. Nesse momento, a porta do bar se abriu com força.
"O que diabos está acontecendo aqui fora—Cyrus, você sabe que não pode estar a—o que diabos você fez?!" Era Red, o barman. Ele estava absorvendo a cena.
"Estou voltando para o meu lado," Cyrus levantou as mãos no ar e começou a recuar. "Aqueles caras estavam atacando ela."
"Então você os matou no território dos Blood Dogs?!" uma voz feminina repreendeu. Bonnie tinha saído. Ela estava furiosa. Então ela me viu, e sua expressão suavizou. Ela caminhou até mim. "Você está sangrando," ela disse. Percebi que ela estava se referindo ao sangue no meu rosto. Eu quase tinha esquecido que tinha dado um soco em um dos caras, e o sangue dele tinha se espalhado por mim.
"Não é meu," respondi. Mas então, senti a parte de trás da minha cabeça onde tinha batido no concreto. Houve uma dor aguda ao toque dos meus dedos e algo molhado. Levei minha mão à frente para ver sangue na ponta dos dedos. "Ou, não todo."
"Bonnie—" Cyrus começou.
Ela levantou a mão para silenciá-lo. "Apenas cale a boca e limpe sua bagunça. Depois saia da minha propriedade."
"VOCÊ limpa," outra voz retrucou. Era Blayze, parado na porta do escritório da garagem. "Seu território. Sua bagunça." Ele atravessou a rua em nossa direção, mas parou antes da entrada do bar. "Talvez se você e seus vira-latas soubessem como proteger suas fronteiras, meu Beta não teria que salvar a idiota no seu estacionamento."
Eu não entendia o que estava sendo dito. Além de ser chamada de "idiota". Beta? Território? Que diabos?
"Não a chame de idiota—" Cyrus começou, mas Blayze agarrou seu ombro e o puxou de volta para a estrada que separava os dois estabelecimentos.
"E o que diabos VOCÊ estava pensando!?" Os olhos de Blayze perfuraram os de Cyrus. "Cruzando para o território inimigo? Se transformando na frente de uma HUMANA não afiliada?!"
"Eles estavam machucando ela," Cyrus disse firmemente.
"Ah, pelo amor de Deus," Blayze disse, jogando os braços para cima. "Alguma garota balança a bunda para você, e você fica encantado."
"Chega!" Bonnie gritou. "Seu garoto aqui matou dois humanos no território dos Blood Dogs. Ele fez a coisa certa, mas é a bagunça dele para limpar."
De repente, Blayze tirou seu colete. Bonnie e Red rapidamente responderam removendo os deles também. Sem mais avisos, todos os três corpos se torceram e contorceram até assumirem a forma de lobos enormes.
"Não. Acredito. Nisso," foi tudo o que consegui dizer enquanto um lobo negro e um lobo vermelho avançavam contra um lobo de cor areia. Eles mostraram os dentes, mas ainda não atacaram.
Então, vários homens e mulheres de dentro do bar correram para fora, e eles também tiraram seus coletes e se transformaram em lobos, todos avançando sobre Blayze.
"Tá bom, tá bom!" Cyrus gritou por cima dos rosnados. "É minha responsabilidade. Eu vou cuidar disso. Blayze, os outros Howlers já foram embora para a noite. Estamos em menor número aqui."
Blayze olhou de lobo para lobo ao seu redor e parecia se recompor lentamente. Em mais alguns segundos, seu corpo se contorceu de volta à forma humana. Os outros lobos seguiram o exemplo, e logo eu estava cercada por um monte de homens e mulheres nus, pegando seus preciosos coletes do chão.
Bonnie se aproximou de mim. "Aqui, deixe-me ver," ela disse enquanto começava a inspecionar a fonte do sangue na parte de trás da minha cabeça.
Eu estava atordoada, mas consegui dizer, "Vocês são—Vocês são todos—"
"Lobisomens," Bonnie confirmou.