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Apollyon voltou

Lilith ficou maravilhada ao ver um homem imponente reclinado sobre a rocha áspera. Sua mente fervilhava de incerteza, contemplando se aquela figura enigmática estava presa no abraço eterno da morte ou apenas envolta em um sono profundo.

O homem possuía uma tez tão profunda e rica quanto a noite, seus traços eram uma sinfonia de força e elegância. Suas sobrancelhas, afiadas e definidas, emolduravam olhos fechados em repouso tranquilo. Um queixo esculpido levava a um nariz tão bem trabalhado que parecia obra de um mestre escultor. Sussurros sobre homens assim frequentemente adornavam as narrativas contadas pelos contadores de histórias na praça da cidade.

"Ei! Você está acordado?" A voz de Lilith, suave como uma brisa sussurrante, dançava em seus lábios enquanto seu dedo delicadamente cutucava o braço do homem. Sua palma aberta avançou na tentativa de afastar a cortina que velava seus olhos fechados. No entanto, ao tocar sua pele, uma revelação surgiu como um relâmpago distante—sua serenidade permanecia inalterada, intocada por sua presença.

Fora da caverna, os céus rugiam com o timbre ominoso de uma tempestade se aproximando. Os trovões ressonantes espelhavam a turbulência no peito de Lilith. O medo primordial instilado pelo trovão havia sido seu companheiro constante desde a infância. O arrependimento envolveu sua consciência—retornar a esta colina havia sido uma decisão imprudente, ela admitiu para si mesma.

O olhar de Lilith vagou e viu a estalactite pendurada diretamente no meio do peito do homem.

"O que poderia ser isso?" A voz de Lilith, um suave murmúrio de admiração, encheu o ar. Sua curiosidade, já aguçada pelo enigma adormecido diante dela, aumentou ao descobrir uma pérola solitária adornando a ponta afilada de uma estalactite. O brilho iridescente da pérola parecia guardar um segredo sussurrado apenas para aqueles que ousassem buscá-lo.

Seus dedos formigavam com uma mistura de apreensão e fascinação, ansiando por fazer contato com a pérola. Mas uma verdade cruel estava diante dela—sua estatura, embora determinada, era impedida por sua altura modesta, impedindo-a de alcançar a joia preciosa.

No entanto, uma determinação resoluta ardia no olhar de Lilith. Inabalável diante do desafio, ela vasculhou seus arredores em busca de um caminho alternativo para alcançar aquilo que havia capturado sua curiosidade. E lá estava, uma estreita saliência se estendendo ao longo do lado direito do homem, uma linha de vida de cristas rochosas convidando sua ascensão.

Com o coração firme e os dedos agarrando as texturas brutas da rocha, ela embarcou em sua jornada precária. Cada saliência que conquistava era um testemunho de sua determinação inabalável. Com uma mistura balética de graça e coragem, ela subiu, fechando a lacuna entre ela e a cativante pérola até que seus dedos tocaram sua superfície luminosa, um sorriso triunfante iluminando seu rosto.

A excitação de Lilith foi abruptamente interrompida quando seu dedo indicador fez contato com a superfície da pérola. Uma dor lancinante percorreu seu corpo, fazendo-a recuar instantaneamente. Uma chuva de gotas carmesim desceu, cada uma encontrando seu lugar como uma oferenda mórbida no centro do peito do homem. Em sua surpresa e desconforto, seu aperto vacilou, a cesta escorregando de sua mão, seu conteúdo se espalhando como se em simpatia com seu dilema. Brilhos de lágrimas se misturaram com a chuva lá fora enquanto ela descia, seus gritos uma sinfonia de angústia física e emocional.

No entanto, à medida que os últimos ecos de sua angústia se dissipavam, um tremor percorreu a quietude. O homem, outrora envolto em sono eterno, mexeu-se. Suas pálpebras tremeram, um prelúdio para um despertar que desafiava os limites do tempo. Um peito tenebroso agora ostentava um leve traço de seu sacrifício—o sangue que o beijara com um segredo doloroso. O elixir da vida encontrou o epítome da estase, uma narrativa tecida pelo próprio destino.

Os olhos dourado-avermelhados, semelhantes a brasas derretidas, abriram-se, revelando uma consciência que havia sido negada por muito tempo. Apolloyn, o Senhor dos Demônios, ergueu-se de um torpor que durara milênios, as algemas de um encantamento de selamento quebradas pela mão caprichosa do destino. Sua cabeça virou ligeiramente para a direita, atraída pela reverberação de um som que ecoava pela câmara—um estrondo ressonante que acompanhava o espetáculo de seu despertar.

O olhar de Apollyon se desviou de sua própria forma desperta para a jovem que o havia despertado inadvertidamente. Enquanto a consciência dela se esvaía, ele se ajoelhou, sua presença imponente suavizada por um toque de preocupação. Sua mão, infinitamente grande em comparação com a estrutura delicada dela, estendeu-se gentilmente, unindo o espaço entre seus mundos. Com uma carícia terna, ele curou o ferimento que havia acometido seu dedo, seu toque irradiando um calor sobrenatural que continha tanto cura quanto mistério.

Seus dedos continuaram sua dança, movendo-se para tocar a pele de seu pescoço. Uma sinfonia de magia se desenrolou enquanto uma marca em forma de flor florescia em sua pele, um testemunho de sua nova conexão. Um sorriso, raro e profundo, tocou os lábios de Apollyon ao contemplar a marca—uma marca que unia seus destinos de forma inextricável.

"Lilith," sua voz, um sussurro melódico, pairou no ar como uma promessa antiga. "Nos encontraremos novamente na tapeçaria do tempo. Ligados pelos fios de sangue, nossos destinos entrelaçados." Com essas palavras, Apollyon se virou, sua forma majestosa silhuetada contra a entrada da caverna. Ele deu um passo para o limiar do mundo que havia reentrado, deixando para trás uma Lilith adormecida, a garota que o havia libertado inadvertidamente.

Emergindo na noite tempestuosa, as gotas de chuva o abraçaram como amigos há muito perdidos. Seus braços se estenderam para os céus, um abraço que acolhia tanto o batismo da chuva quanto o renascimento que simbolizava. Um sorriso, uma cascata de emoções em si mesmo, adornou seus traços, marcando o retorno do enigmático ser conhecido como Apollyon.

"A longa espera acabou," ele declarou, sua voz carregada pelo vento. "Apollyon finalmente retornou!"


Os olhos de Lilith se abriram, e ela inspirou profundamente. Imediatamente se levantou e percebeu que o homem não estava mais presente na caverna. Lilith olhou para seu dedo, que estava curado. Ela se lembrava claramente de que sangrava muito depois de tocar a pérola misteriosa na estalactite.

Lilith olhou para a cesta e viu que a flor negra não estava mais no chão. Ela a procurou por um tempo, mas não conseguiu encontrá-la.

"Preciso ir embora. Papai vai ficar bravo." Percebendo que precisava voltar para casa, Lilith pegou sua cesta caída e saiu apressada da caverna. A tempestade havia cessado, deixando para trás um céu sereno e os vestígios da chuva pesada. Enquanto corria em direção à sua casa, uma mistura de emoções fervilhava dentro dela, o encontro com Apollyon gravado profundamente em sua jovem mente.

"Papai!" Lilith arfou, chegando à porta de sua casa. Ela ficou confusa ao ver algumas pessoas no quintal da frente.

Lilith entrou e olhou para as expressões sombrias. A cesta caiu de sua mão quando viu o corpo de seu pai no chão. Lilith correu até ele e colocou suas pequenas mãos nas bochechas de seu pai.

"Papai! Papai!" Ela o sacudiu. A tez pálida de seu pai dizia tudo, mas a pequena garota não estava pronta para aceitar. Lilith encontrou a estranha marca azulada no pescoço de seu pai e se perguntou se era veneno. "Papai, eu vou te tratar," ela murmurou e se levantou para correr para dentro de casa quando um homem da mesma idade de seu pai a parou.

"Lilith, seu pai não está mais entre nós," disse Joseph. As mulheres da vizinhança que haviam se reunido na casa começaram a chorar.

"Papai está dormindo. Seu corpo foi envenenado. Eu preciso tratá-lo," disse Lilith quando Joseph se ajoelhou. Ele segurou gentilmente os pequenos braços de Lilith e balançou a cabeça.

"Ele não está mais aqui. Chamamos outro médico mais cedo, mas ele já estava..." Joseph não conseguiu completar suas palavras, pois sua voz falhou.

Lilith ouviu os choros das pessoas e se virou para olhar seu pai. Lágrimas escorriam por suas bochechas. Isso não deveria ter acontecido. Lilith começou a chorar intensamente, e seus gritos dolorosos machucaram todos os presentes na casa. Joseph abraçou Lilith enquanto acariciava ternamente sua cabeça.

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