Capítulo Três
Fazer compras. Deus, como eu odiava fazer compras. Mas eu prometi ao papai. Celestial e eu estávamos sentadas no salão de manicure da cidade que ela adorava frequentar. Eu não era muito fã de fazer as unhas, mas, pelos Deuses Míticos, eles sabiam como cuidar dos pés. Ri baixinho para mim mesma. Não me lembrava da última vez que tinha sido mimada assim. Encostei a cabeça na cadeira, ouvindo as outras mulheres fofocando entre si.
'Quando foi a última vez que fui mimada assim?' pensei comigo mesma. Minha mente voltou para quando minha mãe pintava minhas unhas. Fazia de tudo para me transformar em uma menina bem feminina. Suspirei.
"Tudo bem, Morgan?" ouvi Celestial perguntar. Olhei para cima, todos estavam me encarando.
"Ah, sim. Está tudo bem." Dei de ombros. "Isso só me faz sentir falta da minha mãe. Papai me transformou em um verdadeiro moleque, então eu nunca mais fiz coisas assim depois que minha mãe morreu." Falei honestamente. Celestial olhou para suas mãos que estavam repousadas em seu colo.
"Eu entendo. Espero que você não pense que estou tentando substituir sua mãe." Ela falou, quase sussurrando.
"Não!" Peguei sua mão, forçando-a a olhar para mim. "Eu nunca pensaria isso! Eu tive minha mãe, sim, mas ela morreu quando eu era jovem. Agora," olhei diretamente em seus olhos e sorri, "agora eu tenho você. Uma nova mãe. Uma segunda mãe. Alguém com quem posso falar sobre garotos quando papai não está por perto. Eu te amo. Você faz papai muito feliz e, em troca, isso me faz feliz."
Ela sorriu amplamente, mostrando todos os seus dentes brancos, incluindo as presas. Seus olhos brilhavam.
Depois de cerca de uma hora e meia, nossas unhas estavam prontas e polidas. As unhas dela eram longas, pintadas de vermelho e dourado. As minhas eram simples, brancas com pequenas flores verdes. Não, eu não sou uma criança, só gosto da simplicidade.
Fomos a algumas lojas, olhando sapatos, vestidos, joias. Eu sabia que voltaríamos a essas lojas depois de amanhã, então fiz um gesto para ela em direção à loja de vestidos de noiva. Ela riu de mim, a curiosidade brilhando em seus olhos.
"Por que uma loja de vestidos de noiva?"
"Por nada." Ri, abrindo a porta da loja. Antes que eu pudesse entrar, esbarrei em uma figura forte. Quase caí para trás, mas antes que pudesse me preparar para o impacto no concreto, senti uma mão forte e gentil segurar minhas costas. Faíscas percorreram todo o meu corpo, fazendo minha pele arrepiar. Olhei para cima, para meu misterioso salvador. Encarei um par de olhos azul cobalto. Eles dançavam como chuva enquanto olhavam para meus olhos dourado-avelã.
"Você está bem?" Sua voz era rouca, mas gentil. Engoli em seco.
"S-s-s-sim." Gaguejei. Ele me levantou, sem me soltar completamente de seu firme aperto. Minha mão repousava em seu peito, sentindo seu coração bater forte sob minha mão. Nos encaramos por um tempo que parecia horas. Faíscas aumentavam conforme nossas peles se tocavam. 'O que está acontecendo?' pensei comigo mesma. Ele finalmente soltou seu aperto nas minhas costas, meu rosto mostrando minha decepção enquanto ele dava um passo para trás. Embora eu tivesse acabado de conhecer esse cara, seu toque me causava uma sensação maravilhosa; como se estivéssemos conectados de alguma forma. O vazio que senti quando seu toque se foi afetou meu coração e mente já confusos.
"Desculpe por esbarrar em você. Meu nome é Mark." Ele sorriu para mim. Um sorriso de tirar o fôlego, com alguns dentes tortos. A maneira como seus olhos penetravam nos meus fez um arrepio subir pela minha espinha.
'Eu já o vi antes, em algum lugar. Onde eu poderia tê-lo visto antes?'
"Eu sou Morgan." Sorri de volta. Ele levantou minha mão e plantou um beijo nas costas dela. Uma eletricidade percorreu todo o meu corpo só com seu toque. O toque quente fez minhas bochechas ficarem levemente rosadas. Seus olhos nunca deixaram os meus, sorrindo contra minha mão. Senti meu rosto esquentar ainda mais e um nó se formar no fundo do meu estômago. Borboletas explodiram do meu coração, me envolvendo em um calor que eu nunca tinha sentido antes. Isso era estranhamente encantador.
Esse homem era um DEUS em forma humana. Seus olhos azul cobalto eram acompanhados por traços rústicos e uma leve cicatriz que ia de um canto do olho até a bochecha. Ele tinha um rosto rígido, como se tivesse visto batalhas difíceis em sua vida. Ele não era musculoso como a maioria dos caras que você vê, mas em toda a definição da palavra, esse homem era lindo da cabeça aos pés. Seu cabelo preto criava uma espécie de barreira que só mostrava seus olhos enquanto ele me olhava. A parte mais escura do cobalto giratório mantinha segredos escondidos do resto do mundo, mas eu podia vê-los.
"Morgan," como se saboreasse a doçura do meu nome na língua, "é um nome bonito. Espero que possamos nos encontrar novamente em breve." Ele olhou para Celestial e deu um aceno rápido antes de se virar para ir embora. Meu rosto ainda quente e rosado, prometi a mim mesma que nunca mais lavaria minhas mãos, ou minhas costas, por sinal.
"Oh, ele era um gato!" Celestial sussurrou no meu ouvido, um sorriso travesso se formando em seu rosto. Virei a cabeça para ela, relembrando todo o incidente na minha mente, fazendo meu rosto ficar ainda mais vermelho. "Morgan, seu rosto!" Celestial riu. Isso fez meu rosto esquentar ainda mais.
"Podemos pular a loja de vestidos?" Puxei o capuz sobre a cabeça, trazendo meu longo cabelo castanho para esconder meu rosto. Celestial riu ainda mais.
"Claro, já está na hora de ir para casa e preparar o jantar. Talvez possamos contar ao seu pai sobre seu admirador." Ela me cutucou. Balancei a cabeça e me afastei da loja.
"Vamos NÃO falar disso com o papai." Enfatizei. "Ele me mataria."
Celestial sorriu enquanto caminhávamos de volta para o carro. Ficamos em silêncio durante todo o trajeto. Minha mente girava, causando uma dor de cabeça enorme. Apertei a ponte do nariz. Todo o incidente com Mark fez meu corpo inteiro se sentir quente. Meu interior ainda estava revirado e meu rosto esquentava mais ao pensar nos olhos azul cobalto dele olhando para os meus. Eu não negaria que o homem era LINDO DE MORRER! Seus músculos, seu cabelo preto macio que caía em frente aos olhos, tudo nele era magnífico.
"Morgan." Celestial me tirou dos meus pensamentos.
"Hmm. Sim?" Virei-me para ela da minha posição olhando pela janela.
"Eu estava perguntando se seu pai disse algo sobre quem deve vir amanhã. Você disse que eram figurões, o que você quis dizer com figurões?" Ela apertou o volante, seus nós dos dedos ficando mais brancos do que sua pele já pálida.
"Ah, ele só disse que eram figurões. Eu suponho que sejam pessoas da diretoria que possuem a empresa." Dei de ombros. Eu nunca fui boa mentirosa, mas tinha que dizer algo para manter o segredo dele. A cidade permitiu que uma empresa de fora do estado viesse e construísse uma fábrica nos arredores dos limites da cidade. Era a única fábrica a quilômetros do mar de florestas que cercava a cidade. Meu pai era o chefe de obras lá, então pessoas da diretoria vinham de diferentes cidades para avaliar a empresa e como a fábrica estava progredindo de vez em quando.
"Ah, ok." Ela sussurrou.
"Está tudo bem?" Dei um tapinha no braço dela.
"Ah, sim. Está tudo bem. Só não entendo por que seu pai não me contou. Ele tem estado meio distante ultimamente. Isso me preocupa."
"Papai te ama, Celest. Talvez ele só esteja sobrecarregado com eles vindo para a cidade e esteja tentando garantir que tudo esteja perfeito. Você sabe como papai é. Tudo precisa ser perfeito." Sorri suavemente para ela. Ela pareceu relaxar e deu de ombros.
"Talvez você tenha razão. Só queria que ele tivesse me contado sobre isso."
"Acredite em mim, o traje que você escolheu vai impressionar todo mundo." Pisquei para ela. "Celest, amanhã será perfeito e uma noite para lembrar."
"Tenho certeza de que você está certa. Vamos cozinhar ou papai vai contratar um buffet?"
"Acho que ele vai contratar um buffet." Tomei um gole da minha água. Rezei para que amanhã fosse absolutamente fantástico. Quando vi o vestido que Celestial escolheu, soube que era absolutamente perfeito. Ela escolheu um vestido sem alças, até o chão, de lantejoulas azul-esverdeado com uma fenda que ia do joelho, mostrando apenas o suficiente de pele. Papai ia desmaiar quando visse sua futura esposa nesse vestido. Meu vestido não era tão chique, mas ainda assim sexy o suficiente. Era um vestido de duas peças. A parte de cima era um top preto de um ombro só, preso a uma saia cinza com cinto e fenda frontal. A melhor parte do meu traje, a saia tinha bolsos! Fiquei radiante quando descobri isso.
"Amanhã será interessante." Ouvi ela dizer para si mesma.
Você não faz ideia, Celest. Absolutamente nenhuma ideia. Voltei a olhar pela janela, deixando meus pensamentos correrem soltos sobre o que meu pai tinha planejado.
'Mark.' Pensei comigo mesma. 'Eu poderia me ver namorando um cara como ele. Mas havia algo nele. Aquela sensação que percorreu meu corpo foi estranha. Se ao menos eu pudesse descobrir do que se tratava.'
Antes que eu percebesse, chegamos em casa a tempo de preparar o jantar. Levamos as sacolas para dentro e devolvi o cartão de crédito ao papai. Depois de nos sentarmos para comer, fui para o meu quarto e entrei no chuveiro. Deixar a água morna correr pelo meu corpo foi relaxante. Não muito tempo depois, deitei na minha cama. Rapidamente e pacificamente, adormeci, ansiosa pelo que o amanhã traria.