Querido pai
Ponto de Vista de Aileen
Olhei ao redor, para a esquerda e para a direita. Não podia acreditar que tudo aquilo era meu. Que eu tinha conquistado isso sozinha, não por causa de quem eram meus pais. Consegui por conta própria! Meus pensamentos giravam sobre como seria bom mostrar a eles do que sou capaz.
Desde pequena, eu queria provar ao meu pai que ele não era o único membro da casa Lutz que podia deixar tudo para trás e surgir no topo! Se ao menos ele soubesse tudo o que eu conquistei. Ele veria que eu realmente sou sua filha.
Um dia eu voltarei para lá; um dia poderei mostrar a ele o quanto cresci. Talvez ele até veja que sou apta para governar! Essa última parte é provavelmente um exagero, infelizmente. De qualquer forma, eu precisava voltar para casa antes que aquele demônio malvado pudesse me atrapalhar ainda mais.
Pegando um pedaço de papel e minha caneta roxa favorita, sentei-me para escrever para ele mais uma vez. Têm surgido alguns problemas ultimamente, especialmente depois de me juntar à Sociedade dos Caçadores de Demônios. Escrever para meu pai tem sido terapêutico para mim desde que cheguei aqui. Não que ele algum dia fosse ler as cartas. Na verdade, algumas das cartas, eu NÃO gostaria que ele lesse. Eram infantis às vezes. Só consigo imaginar seu rosto com aquele olhar de desaprovação, ou pior, seus olhos frios.
No mundo de onde vim, as pessoas temiam os olhos do meu pai. Ele raramente deixava alguém ver o verdadeiro eu. Uma tempestade de gelo era tudo o que o mundo exterior tinha permissão para ver. Ninguém além de um seleto grupo de nós podia ver sua fraqueza. Apenas um punhado de nós; seu conselheiro próximo, Kalum, um bandido que está com ele desde o início, e eu tínhamos permissão para atravessar suas defesas. Eu era grata por poder ver o verdadeiro ele em privado. Nos momentos mais breves, seu olhar transmitia calor e afeição. Ele me mostrava sua própria dor, seus próprios sonhos e como se sentia.
Dito isso, se eu fizesse algo errado e recebesse aquele olhar implacável, eu ficaria sem palavras. Teria que morder o lábio e manter a cabeça erguida, como se não fosse afetada, até chegar ao meu quarto. Lá, eu podia chorar à vontade.
Bzzzz... Bzzzzz, meu telefone vibrou no bolso. Olhei para baixo e franzi a testa. Do outro lado estava meu irmão adotivo. Parte de mim se perguntava se deveria atender a ligação. As chances eram de que ele só queria me importunar. "O que?!"
"Jeezz, você não precisa ficar tão irritada já. Pensei que você poderia querer algo para fazer, já que não está exatamente nadando em amigos." então ele só estava tentando me provocar.
"Vou desligar agora," não tentei esconder o tom irritado na minha voz.
Ele riu, "alguém está tendo um dia ruim, hein? Achei que você ficaria feliz por eu ter ajudado a mudar todas as suas tralhas ontem. Pensar que tudo o que pedi foi uma pizza, asas de frango e uma cerveja! Tente ser mais legal, ou posso entrar e levar tudo de volta para a casa da mamãe e do papai! Talvez eu até deixe aquele brinquedo especial à vista para eles verem!"
Meu rosto ficou vermelho enquanto o calor subia pelas minhas bochechas, "o que você quer? Estou ocupada."
"Oh... então você estava perdida em memórias? Desculpe interromper, princesa. Mas pensei em te convidar para fazer algo divertido, mas se você prefere perder seu tempo escrevendo cartas inúteis, não vou te impedir." Trevor podia ser irritantemente persistente quando queria. Se não fosse por ele, duvido que teria saído de algumas das situações em que nossas aventuras nos colocaram. Ele é sem dúvida irritante, mas confiável. No fundo do meu coração, eu o amava. Não somos de sangue, mas ele é meu irmão.
Eu gemi, "e o que você quer fazer? Realmente não estou a fim de ir a um bar ou algo assim. Por mais divertido que seja ver você dar em cima de qualquer coisa com seios, acho que vou passar dessa vez. Além disso, quero fazer mais pesquisas e falar com Kaibec. Acho que estamos chegando perto."
"É isso que você quer?" Sua voz tinha um tom tenso. Isso era incomum para ele. Trevor normalmente era despreocupado na maior parte do tempo; mesmo em situações de vida ou morte.
Colocando minha caneta de volta na mesa, já que nenhuma palavra me vinha à mente, recostei-me na minha cadeira giratória. Pensei por um momento antes de responder. Eu queria voltar? A vida era muito diferente lá. "Eu tenho que," foi tudo o que consegui pensar em dizer.
"Aileen," ele fez uma pausa, "Deixa pra lá, vamos só pegar algo para comer. Longhorn parece bom?"
Eu sorri, "pão fresco grátis? Sempre! Que tal nos encontrarmos em uma hora? Acho que quero ir andando. Está um dia muito bonito hoje e ontem sua direção me assustou um pouco." Eu estava rindo um pouco de forma constrangida. Na verdade, não tinha tanto medo da direção dele, mas dirigir carros ainda é algo que prefiro evitar se possível. Nenhuma máquina deveria ser capaz de ir tão rápido ou ter tantos acidentes registrados.
Ele terminou a conversa com um comentário sarcástico sobre o quanto eu como. Enquanto eu correr e treinar, vou me manter em forma. Não fico sentada o dia todo durante o tempo livre como ele tende a fazer. Eventualmente, isso vai alcançá-lo. Sinto pena do corpo dele se algum dia ele deixar a DSS. Ele não vai sair do sofá se encontrar um novo programa para assistir!
Olhei para a carta vazia e comecei a escrever,
Querido Pai,
Aquele irmão irritante me ligou hoje. Será que ele tem alguma informação nova sobre o Portal? Se não, isso é uma perda de tempo. Realmente preciso fazer compras. Estou cansada de raviolis baratos.
Ainda bem que o Pai nunca vai ler isso. Seria engraçado desperdiçar o tempo precioso dele lendo sobre eu estar cansada de ravioli! Peguei a caneta novamente e acrescentei,
Estou muito confusa agora, não por causa da comida; na verdade, vou sair com o Trevor em breve para comer no Longhorn. E eles te dão pão ilimitado! Você acredita nisso? Você e eu provavelmente ainda brigaríamos pela última fatia até trazerem mais. Eu sei que deveria querer voltar, mas estou gostando da minha vida aqui. Gostaria que você estivesse aqui para me guiar, mas então acho que não seria independente, né? O que é algo que eu gosto. Eu só não sei.
Sinto que estou enlouquecendo. As palavras dos meus sequestradores continuam se repetindo na minha mente. Achei que eles não poderiam mais me machucar, mas desde que alguns pesadelos foram criados para mim, eu não sei. Talvez eles estivessem certos. Não posso nem contar ao meu irmão ou ao líder do esquadrão sobre isso. Eles pensariam que eu trabalho para ele... Eu seria executada se descobrissem.
Você tem uma nova esposa agora? Talvez eu até tenha um irmão! Posso ter sua atitude e cabelo, mas não tenho um pau para governar. De qualquer forma, estou meio divagando e você nunca vai ler isso mesmo, então... Eu te amo e sinto sua falta.
Sinceramente,
Aileen Lutz
Estiquei os braços e as pernas me preparando para a corrida. Isso parecia perfeito agora. Então fui ao banheiro para terminar de me arrumar. Sem tempo para maquiagem ou algo especial para esta ocasião. Minha corrida me levaria perto do horário combinado. Então, apenas prendi meu longo cabelo preto em um rabo de cavalo, reapliquei um pouco de desodorante e dei um sorriso brilhante para o espelho.
Correr era uma ótima fuga e me dava tempo para imaginar estar em casa novamente. Eu podia falar com todos que costumava conhecer, pelo menos na minha mente. As poucas pessoas em quem confiava para serem honestas comigo, é claro.
Tudo bem, vamos fazer isso e ver o que aquele pestinha do meu irmão quer!
Antes que eu pudesse sair, uma voz sádica que eu reconhecia muito bem falou na minha mente. "Você ainda é a mesma criança assustada de antes. Ainda assim, consegue mostrar uma face forte para o mundo. Não se preocupe, você estará na minha cama em breve. Não haverá nada com que se preocupar, exceto ser minha pequena e se submeter a mim. Garanto que será muito prazeroso para nós dois enquanto eu devoro seu corpinho sexy... meu amor." Sua voz era baixa e sedutora. Eu odiava como a voz dele podia me deixar com os joelhos fracos.
Um arrepio subiu pela minha espinha, fazendo os pelos do meu pescoço se levantarem. Não havia dúvida daquela voz sinistra. Lorde Demônio Shiuku.
Estar nos meus sonhos já era ruim o suficiente, agora ele estava falando diretamente na minha mente! Shiuku estava começando a ficar mais determinado. Logo ele viria atrás de mim.
NÃO!